A polêmica que envolve a liberação de alguns jogadores do Boca Juniors que testaram positivo para coronavírus para o jogo contra o Libertad promete ser longa. Após a dura reação do clube paraguaio, a Conmebol divulgou um comunicado no qual ratificou a atualização do seu protocolo com base em dados científicos e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A entidade reiterou que pessoas infectadas, mas há 10 dias sem manifestar sintomas não têm potencial de transmissão. O protocolo médico passou por uma mudança no último dia 8 de setembro que contém tal observação.

Trecho do protocolo da Conmebol atualizado, que diz que assintomáticos há 10 dias não precisam mais de isolamento — Foto: Reprodução/Conmebol

Trecho do protocolo da Conmebol atualizado, que diz que assintomáticos há 10 dias não precisam mais de isolamento — Foto: Reprodução/Conmebol

– O documento da CONMEBOL sobre Recomendações Médicas para treinamentos, viagens e competições incorporou esta noção ao definir na página 19, sob o título “Recomendações”, no terceiro parágrafo do ponto 1: “Em pessoas assintomáticas, isolamento e outras precauções PODEM CESSAR 10 DIAS APÓS a data do seu primeiro teste RT-PCR (+) para RNA do SARS-Cov-2” – reforça a Conmebol (veja o comunicado completo mais abaixo).

Com base em tal argumento, o Boca Juniors requisitou à Conmebol e ao Ministério da Saúde do Paraguai a permissão para que alguns jogadores positivos para Covid-19 possam entrar no país. O time argentino viaja nesta quarta-feira para enfrentar o Libertad na quinta. A equipe paraguaia reagiu e disse que a entidade sul-americana ignora o próprio protocolo.

– Há que fazer uma diferenciação entre o positivo e o que é transmissível. Quando temos um paciente com poucos sintomas, ou assintomático, a evidência científica mostra que em aproximadamente 10 dias, ela deixa de transmitir. Então há o período estendido de 14 dias, por segurança, e sempre se os três últimos dias são sem sintomas. (…) Esses jogadores, para colocar em termos concretos, são jogadores recuperados – afirmou Julio.

O Boca Juniors registrou, no início do mês, 18 jogadores positivos para coronavírus. Com a autorização do governo paraguaio, cinco jogadores que ainda estão com o vírus poderão viajar: o zagueiro Zambrano, o lateral Más, e os meias Campuzano, Cardona e Maroni.

No entanto, outros cinco atletas que já treinam com o restante do grupo não poderão ir ao Paraguai, segundo o jornal “La Nación”: o zagueiro Renzo Giampaoli, o lateral Buffarini, o meia Gastón Gerzel, e os atacantes Zárate e Retegui.

Libertad quer os pontos do jogo

Mesmo após o comunicado divulgado pela Conmebol, o Libertad não mudou a postura. O clube enviou, na manhã desta terça, uma nota de repúdio à postura da entidade. Em suas redes sociais, a equipe mostrou que o documento foi recebido.

À rádio “Deportiva AM 1120”, de Assunção, o assessor jurídico do Libertad, Gerardo Acosta, afirmou que o clube entende que o protocolo foi descumprido e tomará as medidas legais cabíveis.

– É algo incomum. Estamos todos aprendendo à medida que avançamos, as circunstâncias em torno do caso são algo completamente novo. Vamos proceder com cautela no caso. O pedido de perda de pontos é uma possibilidade, o que poderia ocorrer, no caso, por parte do Libertad – comentou.

Boca Juniors e Libertad estão no Grupo H da Libertadores e se enfrentam nesta quinta-feira, às 21h, em Assunção.

Veja o comunicado da Conmebol na íntegra:

Com relação à situação decorrente da partida entre os clubes Libertad e Boca Juniors pela CONMEBOL Libertadores 2020 a ser disputada em Assunção, no Paraguai, bem como casos semelhantes que possam surgir durante o desenvolvimento da competição, a CONMEBOL manifesta o seguinte:

  1. A última versão dos protocolos e documentos com recomendações sanitárias elaborados pela CONMEBOL possui data 8 de setembro, em que foi publicada no site da instituição e nas redes sociais. Desta forma, fica claro que NENHUMA ALTERAÇÃO PODERIA SER REALIZADA a pedido de qualquer pessoa ou instituição em data posterior.
  2. Esses documentos afirmam especificamente que as resoluções e regulamentos das autoridades de cada país TEM PREVALÊNCIA sobre qualquer disposição da CONMEBOL. Permitir ou não a entrada de pessoas em seu território é obviamente uma prerrogativa de cada governo, bem como os requisitos exigidos para isso.
  3. Tanto a CONMEBOL quanto outras organizações e empresas, bem como governos ao redor do mundo, incluindo o paraguaio, vêm fazendo AJUSTES EM SEUS PROTOCOLOS com base em evidências científicas e novas informações verificadas sobre um vírus conhecido a apenas nove meses atrás.
  4. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde, a Organização Pan-Americana da Saúde e o Center for Disease Control and Prevention dos EUA, fazem uma clara diferenciação entre os PCR (+) daqueles que estão desenvolvendo a doença e podem contagiar os outros e os PCR (+) daqueles que superaram a doença, nos quais SÃO CONSIDERADOS RECUPERADOS E JÁ NÃO CONTAGIAM.
  5. O documento da CONMEBOL sobre Recomendações Médicas para treinamentos, viagens e competições incorporou esta noção ao definir na página 19, sob o título “Recomendações”, no terceiro parágrafo do ponto 1: “Em pessoas assintomáticas, isolamento e outras precauções PODEM CESSAR 10 DIAS APÓS a data do seu primeiro teste RT-PCR (+) para RNA do SARS-Cov-2”.
  6. A situação que motiva este esclarecimento não é absolutamente singular ou única. Circunstâncias semelhantes foram registradas em torneios locais na América do Sul e em competições na Europa. Em todos os casos, os jogadores que não apresentavam sintomas por vários dias e cujo teste RT-PCR (+) datado de 10 ou mais dias atrás foram habilitados a jogar, PORQUE NÃO PODERIAM PROPAGAR A DOENÇA.
  7. A CONMEBOL considera que a situação aqui analisada contribuirá para o aprimoramento dos protocolos e medidas preventivas, sempre amparadas em evidências científicas, com vistas ao desenvolvimento de uma CONMEBOL Libertadores competitiva e em condições de igualdade para seus participantes. Como tem feito até agora, a CONMEBOL CONTINUARÁ A INCORPORAR AS NOVAS RECOMENDAÇÕES DA OMS E DA OPAS aos seus protocolos, bem como nos avanços no conhecimento sobre o vírus. Ratifica-se, portanto, que continuará trabalhando em prol do esporte, cuidando da saúde da família do futebol sul-americano. (Globo Esporte)