Quando pensamos em um esquilo, geralmente, a imagem que nos vem à mente é a de um pequeno roedor que está sempre com as bochechas recheadas de nozes, certo? Os filmes e até mesmo o conhecimento científico reforçaram esse imaginário comum por anos. Porém, agora, um novo estudo pode mudar completamente a visão que tínhamos sobre este mamífero.
Uma pesquisa desenvolvida por especialistas da Universidade de Wisconsin-Eau Claire e da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, sugere que tais roedores não se alimentam só de nozes e brotos de árvores, mas também de outros animais. Ou seja, eles não são estritamente granívoros, como se pensava, mas, sim, onívoros oportunistas, de dieta flexível.
A conclusão, que é a primeira do tipo registrada em esquilos terrestres da Califórnia (Otospermophilus beecheyi), foi obtida após a observação de esquilos caçando ratazanas. Das 74 interações observadas entre as espécies no Briones Regional Park, no condado de Contra Costa, 42% delas envolveram caça ativa. Os resultados renderam à equipe um artigo publicado nesta quarta-feira (18) no periódico Journal of Ethology.
“Nossa descoberta foi chocante”, afirma Jennifer Smith, líder do projeto, em comunicado. “Os esquilos são um dos animais mais familiares para as pessoas, os vemos bem do lado de fora de nossas janelas e interagimos com eles regularmente. Mesmo assim, nunca tínhamos visto esse comportamento antes, o que lança luz ao fato de que ainda temos muito a aprender sobre o mundo ao nosso redor”.
Espécie oportunista
Por meio de vídeos, fotos e observações diretas feitas entre 10 de junho e 30 de julho, os autores documentaram esquilos terrestres da Califórnia de todas as idades e gêneros caçando, comendo e competindo pelas presas. O hábito parece ter se intensificado no verão, quando o número de ratos no parque aumentou temporariamente.
Tal correlação sugere que o comportamento de caça dos esquilos surgiu junto com um aumento na disponibilidade de presas. Contudo, os cientistas não observaram a predação de outros mamíferos, além das ratazanas.
“O fato de os esquilos terrestres da Califórnia serem comportamentalmente flexíveis e responderem a mudanças na disponibilidade de alimentos pode ajudá-los a persistir em ambientes que se alteram com rapidez devido à presença de humanos”, explica Sonja Wild, coautora da iniciativa. Essa característica também está presente em guaxinins, coiotes e hienas, por exemplo.
Este novo achado abriu margem para o surgimento de novas dúvidas: quão difundida é a caça entre os esquilos? Esse comportamento é transmitido dos pais para os filhotes? E como isso afeta os processos ecológicos? Para responder essas perguntas e mergulhar ainda mais no tema, a equipe pretende retornar a campo no início do próximo verão do Hemisfério Norte.
(Por Arthur Almeida)