Depois da vitória por 1 a 0 sobre o Brasil de Pelotas que deu o título da Série B do Brasileirão ao Botafogo, Enderson Moreira respondeu a perguntas de jornalistas ainda no Estádio Bento de Freitas. O treinador falou de tudo um pouco, festejou demais a conquista e projetou a reestruturação do clube, agora bicampeão da Série B.
– Quando um gigante do futebol brasileiro cai de divisão, precisa tirar lições e entender que aquilo que estava fazendo não está dando resultado e que precisa buscar um outro caminho. Acho que o Botafogo está buscando esse novo caminho em todas as áreas: dentro de campo, no futebol, fora das quatro linhas, como clube e instituição que precisa estar sempre bem preparada para poder participar desses grandes desafios. Acho que é importante, mas ele não é o final – disse o treinador alvinegro.
“A gente precisa saber que está apenas dando um passo importante, mas a caminhada é longa e muita coisa precisa ser feita ainda para que o clube possa, de alguma forma, colher os frutos e voltar a disputar as principais competições nacionais e internacionais. É o que a gente sempre projeta para um clube como o Botafogo”, completou.
Numa resposta mais longa, Enderson enumerou os fatores que levaram o Botafogo ao título e afirmou que ele e os jogadores viveram “um momento ímpar no futebol”.
– Acho que houve um casamento que deu certo. Porque eu vim com as minhas ideias e que trabalho há muito tempo. Não que sejam as mesmas, mas são ideias na forma de jogar, organizar, comandar e trabalhar o dia a dia. Encontrei aqui um grupo que estava muito preparado para aceitar esse tipo de ideia e forma de jogar. Foi um crescimento e adaptação muito rápido. A gente foi encaixando a equipe e eles davam respostas melhores a cada dia – disse ele.
“O ambiente era muito bom também. Não vou deixar de ressaltar isso, o ambiente era muito favorável. Tanto o Freeland, mas nosso presidente também. A forma como ele conduz cada área e ele sempre se mostrou positivo, acreditando muito que a gente conseguiria dar uma reviravolta na competição. E eu falava muito com os atletas: não importa como começa, importa como termina. A gente tinha oportunidade de terminar de uma forma diferente e ainda bem que terminamos com o título. Acho que vai ser um grupo que vai marcar – e já marcou muito – a minha vida”, completou ele.
– Todos vão ter essa mesma sensação, uma lembrança e um carinho muito especial porque vivemos aqui um momento ímpar no futebol. São esses momentos que valem a pena diante de toda dificuldade que a gente enfrenta no dia a dia, das críticas e poder carregar todo um peso do insucesso. Nesse momento eu queria mais compartilhar. Não é só o trabalho do Enderson, mas de toda a comissão técnica. Eu sou apenas a ponta do iceberg que aparece para vocês. É um trabalho enorme de equipe, com grandes profissionais, que se dedicam muito para que os atletas tenham as melhores condições e poderem fazer o seu jogo dentro de campo – concluiu o treinador do Botafogo.
O Botafogo ainda tem um último compromisso pela Série B do Brasileirão. A equipe enfrenta o Guarani no próximo domingo, pela 38ª e derradeira rodada da competição, às 16h (de Brasília), no Estádio Nilton Santos.
Veja outros pontos da entrevista de Enderson Moreira:
Desconfiança no início
– Acho que quando você chega num momento como a gente chegou, é realmente de insegurança, as coisas não estavam acontecendo muito bem. Com qualquer nome talvez houvesse o mesmo receio do que o treinador e sua comissão pudessem entregar. Acho que, aos poucos, a gente foi mostrando um pouquinho do trabalho. Se tem os grandes responsáveis por essa conquista, foram os jogadores, queria enaltecê-los. Eles foram fantásticos, abraçaram demais o Enderson e minha comissão. Sempre tentaram fazer o que eu propunha, o que conversava, as estratégias, ideias de jogo. Queria acima de tudo agradecê-los muito pela dedicação, pelo empenho. A gente sempre foi um grupo, nunca foi 11 jogadores que estavam aqui. Eles sempre foram muito competitivos, disputados. Isso foi fundamental para que pudéssemos ter hoje essa conquista – concluiu.
Apoio do torcedor
– Um agradecimento especial ao torcedor, que em determinados momentos foram o goleiro, os laterais, os zagueiros, meias, os atacantes. Nos empurraram em momentos difíceis, em jogos que poderiam ter nos levado pra outro caminho.
Momento que sacramentou o acesso
– A gente nunca sabe quando, mas eu tive muita confiança que a gente ia conseguir o acesso – e falei isso no vestiário – ali no jogo contra o Coritiba. Estávamos enfrentando o líder do campeonato, nos seus domínios, e acho que tivemos uma atuação muito boa. Conseguimos controlar o jogo, jogar, impor dificuldades para o Coritiba e dar poucas oportunidades de gol para eles. Fico feliz porque acho que aquele momento foi importante para todos. Eu relatei isso na conversa após o jogo. Fiquei muito feliz pelo resultado e falei que a gente estava caminhando muito bem.
E o título
– A questão de ser campeão, a gente começou a ter atitudes de campeão a cada jogo. Fomos falando isso durante todo o processo no pós-jogo. A gente sempre tinha um comportamento de um, dois, três, quatro atletas que pensava que era um comportamento de campeão. Às vezes um jogador que não tinha necessidade de retornar tão rápido à defesa, mas voltava e tirava uma bola. O comprometimento do grupo acabou nos levando ao título porque eles tiveram, acima de tudo, atitudes campeãs. Isso foi muito bacana e fomos vendo e enaltecendo isso com o passar do tempo. O jogo contra o Coritiba foi um marco, em que falei que iríamos subir, e as atitudes de campeão foram acontecendo durante a competição, fazendo com que a gente pudesse acreditar também no título.
Campanha do acesso
– A cada dia que a gente teve oportunidade de trabalhar com o elenco, vimos que era um elenco especial, que estava preparado para poder conquistar o acesso. Cheguei talvez no momento mais crítico na competição. A desconfiança era enorme, havia dúvidas perante os atletas e nesse momento eles foram muito positivos, tiveram personalidade para enfrentar as dificuldades. O que baliza o grande jogador, o grande ser humano é o poder de enfrentamento. Assim como de todos os brasileiros, que acordam com tantos problemas e conseguir enfrentá-los. Eles deram uma lição dessa possibilidade, de vencer esses obstáculos no dia a dia. Toda vez que se apresentava uma dificuldade, eles davam um passo para frente e enfrentavam. Isso foi nos dando cada vez mais confiança de que a coisa ia fluir e acontecer.
Pontos fortes do Botafogo
– Nos últimos anos, talvez a gente tenha notado uma grande diferença nos gigantes que estão caindo. Financeiramente é uma queda absurda. Há uma igualdade de valores. Esses recursos que são destinados aos clubes da Série B são muito próximos. Então é cada vez mais um desafio para um gigante que cai. Primeiro é o tombo, começar a se levantar desse momento, que é crítico. É muito decepcionante para todos, cria-se um ambiente muito ruim, muito hostil. A gente tem que começar a pensar na reconstrução de tudo isso. É sempre um desafio, para todos os clubes que, por ventura, possam cair de divisão. Ele precisa repensar muito e ter tranquilidade porque é uma competição muito difícil e cada vez fica mais difícil e mais competitiva. A logística é sempre muito complicada. Hoje, nós temos aqui o Brasil-RS e imagino as viagens que eles fazem. Nós fizemos uma, mas eles fazem 18 viagens dessa. É muito difícil para eles. A gente sabe da dificuldade da competição e espero que a gente possa tirar as lições necessárias e possa buscar – e o clube está fazendo isso – um novo caminho. Tem pessoas muito competentes no clube e a gente precisa enaltecer todo o trabalho. Não começou com o Enderson. Nós temos o Chamusca, o Freeland, que é nosso diretor e pensou muito na ideia de equipe e dos jogadores. A gente só veio a colaborar com o clube naquele momento e não canso de enaltecer o ambiente sempre muito saudável e leve que a gente encontrou aqui, mesmo nos piores momentos e de maior desconfiança. Sentimos que era um grupo que tinha condição de poder resgatar o clube nessa temporada.
Próxima temporada
– A gente estava muito focado nessa reta final, de não desmobilizar e perder o foco. Conquistamos o acesso no último fim de semana, então ainda estava tudo sem muita certeza sobre o que poderia acontecer. Nosso foco sempre foi buscar o acesso. E a partir do momento que buscamos o acesso, projetamos o título. Falamos que tínhamos essa oportunidade e achávamos que não poderíamos abrir mão. A partir de agora a gente pode começar a projetar 2022. Não que o clube não pudesse fazer alguns planos, mas sabemos que era fundamental a questão do acesso. Temos um investimento muito diferente e precisamos ter tranquilidade para tomar as melhores decisões. Vamos aguardar e acho que essa semana é uma semana boa para que a gente possa conversar um pouco sobre 2022.
Fica no Botafogo?
– A gente não teve tempo de conversar nada sobre 2022. O que posso falar é que tenho muita vontade de continuar o projeto. Sei que foi muito bacana a conquista, mas os desafios para a próxima temporada são muito maiores. O trabalho vai ser muito maior também e a gente sabe que esse desafio não vai ser fácil. A gente não tinha nem parado para conversar sobre isso e estava muito focado nessa reta final, principalmente a questão do acesso, que era fundamental para nós. (GE)