Foi Claudinho começar a se destacar no Brasileirão que a dúvida veio à tona: qual será o futuro do meia-atacante do Red Bull Bragantino, artilheiro isolado do torneio com 17 gols? Entre as possibilidades, a ida para o RB Leipzig, da Alemanha, é tida por muitos como a mais provável.
O motivo que faz as pessoas acreditarem nessa transferência é o fato de Bragantino e Leipzig serem geridos pela mesma empresa, a Red Bull. Mas não funciona exatamente assim.
De acordo com apuração do ge, no contrato com o Bragantino não há uma cláusula que obrigue Claudinho a se transferir para o time alemão ou qualquer outra equipe da empresa se houver proposta. Também não está no vínculo que os times da marca têm prioridade para contratação.
Para Claudinho sair do Bragantino, dois pontos são necessários:
- O clube interessado deve pagar a multa rescisória ou o valor aceito pelo Bragantino;
- A proposta também precisa ser aceita pelo jogador.
O Leipzig pode, sim, ter interesse em contratar Claudinho. Mas, para conseguir a contratação, é preciso preencher os dois requisitos acima. Ou seja, a negociação seguirá como se fosse com qualquer outro clube.
É óbvio que a proximidade entre as diretorias facilitaria um acordo. Mas esse não é fator decisivo.
Até o momento, o Leipzig ainda não formalizou uma proposta para contratar Claudinho. O atleta já foi alvo de sondagens de outros times do exterior e do Brasil. O valor da multa rescisória é mantido sob sigilo pelo Massa Bruta.
O desejo do clube de Bragança Paulista é manter o máximo possível de uma base para os próximos anos. A renovação de contrato com Claudinho até 2024 é uma prova disso. Caso chegue uma proposta que agrade ao clube e o meia-atacante deseje sair, a passagem dele pelo Braga pode terminar antes do fim do vínculo.
Quando questionado sobre a possibilidade de sair do Bragantino, Claudinho tem dito que está focado na disputa do Brasileirão, mas que só vai sair se for algo bom para ele e para o clube.
Negociações entre as equipes
Há uma norma interna na empresa que exige que qualquer negociação entre equipes da marca deve respeitar o valor de mercado do jogador. Por exemplo: se o preço de um atleta do Bragantino for R$ 10 milhões, o Leipzig terá de pagar essa quantia se quiser contratá-lo. Ou seja, não há o famoso “desconto”.
Outro ponto importante é a vontade do jogador, que não é obrigado a ir para outro time da empresa caso as diretorias entrem em acordo. Um exemplo disso foi a negociação do atacante norueguês Erling Haaland. Após se destacar pelo Salzburg, o atleta atraiu o interesse do Leipzig e do Dortmund, ambos da Alemanha. O jogador preferiu aceitar a proposta do Dortmund.
Haaland nos tempos de RB Salzburg — Foto: Getty Images
Os scouts das equipes da empresa conversam entre si e trocam informações. Porém, não há uma obrigação de buscar primeiramente reforços em times da marca. Se o Leipzig quiser contratar um zagueiro, por exemplo, não precisa olhar primeiro os jogadores da posição no “mercado interno”. A escolha é livre e segue critérios técnicos.
No entanto, se houver dois jogadores que se equivalem nas características pretendidas e com valor igual, a preferência seria pelo atleta do time da empresa por causa da facilidade para a negociação.
Os três times principais controlados pela empresa, além do Salzburg, têm jogadores no elenco que vieram de outra equipe da marca, de acordo com o site Transfermarkt.
O Bragantino, por exemplo, possui o lateral-esquerdo Luan Cândido, emprestado pelo Leipzig, e o atacante Luis Phelipe, emprestado pelo Salzburg. Veja abaixo:
- Bragantino: dois jogadores que vieram de times da marca
- Leipzig: sete jogadores que vieram de times da marca
- New York: um jogador que veio de times da marca
- Salzburg: três jogadores que vieram de times da marca
* Não foram contabilizados atletas que vieram dos “times B” de cada clube
O ge apurou que não há hierarquia entre os times dentro da empresa, como um deles ser prioridade. Os investimentos feitos em cada um, entretanto, são diferentes. O Leipzig, por exemplo, recebe mais dinheiro por disputar a Bundesliga e a Champions League, que são competições mais caras.
Luan Cândido pertence ao Leipzig e está emprestado ao Bragantino — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Os times da empresa
A Red Bull é uma empresa austríaca de energético que investe em várias modalidades esportivas, como Fórmula 1 e esportes radicais. No futebol, os três times principais controlados são: RB Leipzig (Alemanha), New York Red Bulls (Estados Unidos) e Red Bull Bragantino (Brasil).
Ainda existem outras equipes da marca que são como “time B” dos três acima. No Brasil, há o RB Brasil, que disputa o Campeonato Paulista da Série A2, e é como uma extensão do Bragantino. Nos Estados Unidos, o grupo controla o New York Red Bulls II e o New York Red Bulls Academy, equipes de transição do time principal norte-americano.
Jogadores do RB Leipzig comemoram na vitória sobre o PSG, pela Champions — Foto: REUTERS/Annegret Hilse
O Salzburg (Áustria) também era gerido pela empresa, mas deixou de ser quando Leipzig e ele foram disputar pela primeira vez a Champions League no mesmo ano. Como uma empresa não pode ter dois times no mesmo campeonato, a opção foi controlar apenas os alemães.
Atualmente, a marca é somente patrocinadora do Salzburg. No país austríaco ainda há o Liefering, time B do Salzburg.
Troca de experiências
Independentemente das negociações, há cooperação entre os times da empresa. O RB Brasil, por exemplo, costumava enviar alguns atletas da base para passar um período de treinos em outras equipes do grupo. A prática, porém, esfriou nos últimos meses.
Duelo entre Palmeiras e RB Brasil, pelo Paulista Sub-20 — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Brasil
De acordo com o coordenador técnico do Bragantino, Sandro Orlandelli, há troca de conhecimento entre as equipes. Os encontros são em várias áreas, como preparação física, técnica e nutricional. Não existe uma periodicidade estabelecida para as reuniões. As conversas ocorrem conforme a necessidade ou quando um time quer compartilhar algo que seja benéfico para os demais.
– São clubes distintos, um não depende do outro. Isso é uma questão muito clara. Cada clube tem a sua administração, sua gestão. Há uma troca de conhecimento onde todos ganham. É conhecimento técnico que pode agregar a cada cultura. A cultura é uma questão muito respeitada. A forma de jogar na Alemanha é uma forma. No Brasil, é outra maneira. Isso temos que entender para não confundir as coisas. Nem sempre o que é de fora é adaptável aqui – comentou Orlandelli.
Jogadores do Bragantino comemoram vitória sobre o Atlético-GO — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Algumas características a empresa pede que sejam adotadas por todas as equipes, como na montagem dos times. Todos são formados por jovens atletas em virtude da facilidade de se adaptar à filosofia de jogo.
– É a característica de jogo que nós temos, de sermos ofensivos. Tudo é um estímulo que precisamos de um tempo para adaptar o jogador. Jovens se adaptam mais a isso. Nossa característica é de jogar para frente sempre, independentemente se o adversário é um time gigante ou não – destacou Orlandelli. (Globo Esporte)