O time do Botafogo que empatou em 1 a 1 com o Boavista não era o que Enderson Moreira esperava para a estreia do Campeonato Carioca. Em entrevista coletiva virtual depois do primeiro jogo da temporada, o técnico afirmou que imaginava que neste momento já teria uma equipe diferente da que atuou na noite de terça-feira.
O treinador lamentou que o primeiro mês do ano esteja sendo um período de transição. Com a provável confirmação de John Textor como investidor do Botafogo, as negociações que o clube já vinha fazendo estagnaram um pouco. Esse período, na leitura do treinador, é terrível, já que não conseguem avançar em contratações.
– Claro que a gente queria, nesse momento, estar com uma equipe um pouco diferente, contar com alguns jogadores que tínhamos conversado, contatado… E temos a ideia muito clara de fazer esse Estadual de maneira bem competitiva. Não estamos aqui para fazer teste. Sabemos muito bem a grandeza do Botafogo e precisamos sempre ter equipes que possam buscar título e as primeiras colocações. O clube vive, hoje, um período de transição, que é terrível para nós que estamos aqui porque não conseguimos dar um passo à frente porque tem situações que precisam ser definidas.
– Hoje temos um novo dono, estamos aguardando um pouco o que são as novas diretrizes. Com certeza queríamos ter uma equipe com jogadores com boa experiência, isso seria importante para os meninos, seria um espelho para eles. Mas a gente não teve e era uma preocupação minha desde o ano passado que a gente pudesse, já nesse início, ter uma equipe bem competitiva, madura e bem preparada para disputar o Campeonato Estadual, Copa do Brasil e o Brasileiro. Não podemos, infelizmente, esperar um time para o Brasileiro porque o Estadual é extremamente importante.
– Estou muito atento a essa equipe que temos hoje, estou fazendo tudo que posso para tirar o máximo desses atletas, sabendo que temos que ter tranquilidade porque se trata de alguns atletas jovens e não podemos colocar uma carga enorme neles. Mas o nosso objetivo era que já estivéssemos avançados em muitas situações que tivemos que parar em função dessa aquisição do clube.
– Agora é o período mais complicado, porque é um período de transição e não conseguimos caminhar. Estamos aguardando, esperando que os papéis possam ser assinados e as coisas sejam bem definidas para que possamos caminhar e ir em busca daqueles atletas que foram colocados há algum tempo como prioridade para a temporada de 2022.
O Botafogo volta a campo no próximo domingo, quando recebe o Bangu, às 16h (de Brasília), no Nilton Santos, pela segunda rodada da Taça Guanabara. Como foram os primeiros times a jogar no Campeonato Carioca, Boavista e Botafogo dividem a liderança, com um ponto cada.
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Carências no elenco
– Nosso primeiro passo era buscar a manutenção de boa parte do elenco do ano passado. Era muito importante que pudéssemos continuar em cima de uma base que já estava montada. Tivemos algumas perdas importantes de atletas que eram grandes referências para a equipe. Tentamos fazer alguns movimentos no mercado, com toda limitação financeira que tivemos, pelo menos para poder suprir um pouquinho essas saídas. E conversamos muito sobre o que pensamos como equipe ideal para a temporada. Temos isso muito mapeado e conversado.
– É uma questão de ajuste da parte financeira. Mas estamos vivendo um momento de transição, que, na minha concepção, é o pior momento. Porque a gente não consegue avançar em nada. Estamos aguardando algumas instruções, principalmente o Freeland (diretor de futebol) e o Braga (CEO), sobre o que pode ser feito e acontecer. É claro que ficamos ansiosos para poder contar com esses atletas, que com certeza vão nos ajudar a aumentar o nível da equipe, que são jogadores com experiência, que têm um currículo muito significativo no futebol.
– Isso vai fazer com que nossos meninos possam crescer muito ainda. O Botafogo tem todo um mapeamento já feito de todas as posições. Não vou dizer quais são, mas já temos esse mapeamento todo executado, aguardando somente as orientações para que possamos executar essas negociações para, quem sabe, num futuro bem próximo, estarem à disposição.
Como tocar projetos a curto e longo prazos
– Desde o fim da temporada passada, deixei muito claro minha pretensão de renovar com o Botafogo. Não tive nenhuma dúvida sobre isso, sempre quis muito. O que eu queria eram garantias de que teríamos uma equipe competitiva e, por várias situações, não conseguimos fazer os movimentos que esperávamos de renovações, alguma coisa que escapou de um clube que tem suas dificuldades financeiras. E que talvez só pudesse fazer esses movimentos a partir de maio ou junho.
– Mas temos um campeonato pela frente, que é o Carioca, e ninguém quer ver um Botafogo fragilizado, que não busque as conquistas e as vitórias. É um desejo comum. Estamos antecipando algumas situações que não eram para ser feitas agora, como jogadores que viriam para fazer parte do elenco principal, mas no meio de jogadores mais experientes e rodados, que já pudessem dar tranquilidade para esses meninos. Principalmente para poder observar o que esses jogadores fazem dentro de campo. Essa foi minha preocupação desde o início.
– Estamos conversando desde o ano passado e isso foi colocado de maneira muito clara: até onde poderíamos ir. E não conseguimos avançar em função dessa negociação do clube porque tá todo mundo aguardando e esperando que tudo possa ser resolvido em termo de assinaturas e possamos nos movimentar no mercado. Claro que estamos saindo bem atrasados porque muita coisa já poderia ter sido definida. Mas eu não posso ficar esperando o que não está acontecendo.
– O que eu lamento, muitas vezes, é que isso aconteça de outra forma, em outro momento, e perder essa oportunidade de ter uma equipe forte. Não podemos entrar em competição para participar e dar rodagem para jogador. Precisamos sempre participar de competições para vencer. Essa é a história do clube e precisamos competir. Com muita inteligência e sabedoria, além da limitação financeira que sempre tivemos e também sempre buscando a melhor equipe possível.
Opção por manter Fabinho e Romildo até o fim
– Acho que a gente tem que estar atentos, não podemos desguarnecer o time de qualquer forma. Porque o empate pode virar uma derrota e, sem dúvida nenhuma, é muito pior. Já estamos insatisfeitos com o empate, imagina se tivesse perdido. Fiz as modificações possíveis sem deixar o time tão vulnerável e mesmo assim a gente ainda sofre algum risco, mas tentei dar estabilidade, ofensividade e testar outras peças sem perder essa estabilidade.
– Se a gente tivesse jogador com característica de poder dar uma saída melhor, talvez a gente pudesse fazer. Mas no elenco, hoje, a gente trocaria um volante por outro, ou então um meia-atacante por um volante. Eu, particularmente, achei que era muito perigoso. Até porque estávamos com muito menino no banco. A gente se preocupou com a questão do encaixe e também de saber como é que o menino iria entrar e fazer essa função.
Análise do jogo, pontos positivos e negativos
– Tivemos coisas interessantes: criamos boas oportunidades, principalmente no primeiro tempo. Tivemos um controle melhor do jogo, conseguimos chegar ao fundo com boas jogadas e finalizações. O jogo caiu muito no segundo tempo para ambas as equipes. Fisicamente talvez não tenhamos conseguido manter o mesmo ritmo, o que é extremamente natural, porque estamos no início de uma temporada.
– Não que não tenhamos corrido, porque corremos bastante, mas o nível de movimentação e os sprints poderiam ser um pouco melhores. Mas é algo normal em ambas as equipes. Temos muitas coisas para ajustar. Hoje temos peças que são de jogadores muito jovens, temos que sustentar um pouquinho e dar tranquilidade para que possamos crescer, até porque são os atletas que temos à disposição nesse momento.
Rafael
– O Rafael foi para o hospital fazer alguns exames para que possamos ter certeza do que aconteceu. Claro que preocupa, ele é um jogador muito forte e não seria qualquer coisinha para ele se ausentar do jogo. É uma situação que precisamos avaliar bem para termos uma noção melhor.
Atuação dos jovens do sub-20
– São jogadores que têm grande qualidade, mas não podemos dar grandes responsabilidades para eles. É um processo gradativo. Olhamos um jogo do Sub-20 e achamos que o jogador já tem capacidade de jogar no profissional. É diferente. Os jogadores que conseguem são excessões, não é a regra. Eu trabalhei com base durante muitos e muitos anos. Às vezes o jogador tem bons treinamentos, ou vai bem no sub-20, e não consegue ir bem no profissional.
– Ele tem que encaixar, encontrar o espaço, como é o jogo… Não podemos colocar uma carga enorme nesses meninos que estão tendo as oportunidades. Eles estão maturando e, com certeza, alguns vão dar alguma resposta positiva e outros vão demorar um pouco mais. Mas isso não quer dizer que eles não tenham condição e capacidade de nos ajudar.
Por que Matheus Nascimento não jogou os 90 minutos?
– O Matheus é um jogador que nós apostamos muito, tem muita qualidade. Ele teve covid. Achávamos que seria muito difícil que ele conseguisse fechar o primeiro tempo, até porque ele ficou seis dias sem treinar e voltou muito próximo ao jogo. Nós tínhamos essa preocupação de não dar uma carga maior do que ele poderia suportar. Fui até onde achei que era prudente, para que não corresse o risco de perdê-lo por lesão.
– Até porque ele ficou seis dias sem treinar. Covid modifica muito o processo de treinamento dos atletas. Nós precisamos respeitar esse limite também. Claro que é um jogador que sabemos do potencial e que está maturando. Teve uma participação muito boa no primeiro tempo, no segundo já caiu um pouquinho do que ele tem condição de fazer, mas muito em função desse problema que ele teve. (GE)