O Grêmio é um caso raro no futebol brasileiro. Além do bom desempenho esportivo recente, entrou em 2020 projetando o quinto ano consecutivo de superávit: cerca de R$ 1 milhão.
Segundo o jornalista Rodrigo Capelo, especialista em finanças do futebol do Grupo Globo, o Grêmio tinha “o orçamento mais responsável” da Série A do Brasileirão. Mas veio a pandemia, e o clube gaúcho passou a trabalhar em regime de emergência para se manter em pé até que as competições sejam retomadas.
Para entender como um dos maiores clubes do País enfrenta a crise, o Papo Cabeça ouviu o CEO (Diretor Executivo) do Grêmio, o advogado Carlos Amodeo, que trabalhou na gestão financeira de grandes empresas antes de chegar ao Imortal.
O Grêmio Foot-ball Porto-alegrense, como diz o nome, é um clube exclusivamente de futebol desde a década de 1980. Não tem outros esportes competitivos e clube social. Existe para o futebol. O departamento profissional responde por 85% da folha de pagamento.
– Quando as competições foram interrompidas nós definimos dois objetivos estratégicos: assegurar a sustentabilidade do clube a curto, médio e longo prazos e garantir o emprego e, dentro do possível, a renda de todos os nossos colaboradores – explica Amoedo.
Entre as medidas adotadas estão o corte voluntário de 25% dos salários de todos os executivos, redução do orçamento, suspensão de projetos e renegociação de contratos. No que se refere ao time de futebol profissional, o clube adotou medidas de contenção de despesas em março, quando os jogos foram interrompidos.
– Nós postergamos os pagamentos dos direitos de imagem dos atletas referentes ao período de abril a julho para serem feitos de forma parcelada, ao longo de 2021 – conta o diretor.
Em relação aos funcionários que não são atletas profissionais, os dirigentes gremistas utilizaram as Medidas Provisórias 927 e 936 do Governo Federal, antecipando férias, suspendendo contratos e reduzindo jornadas de trabalho. Dos 375 funcionários do clube (sem contar os jogadores), cerca de 50% estão com os contratos de trabalho suspensos e 25% tiveram jornada reduzida.
As remunerações até R$ 2 mil mensais foram mantidas integralmente. Quem ganha mais de R$ 2 mil terá, no máximo, redução de 25% dos vencimentos. Essas medidas não incluem os jogadores.
Elenco do Grêmio segue protocolos e já trabalha no CT — Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA
A expectativa de perdas acumuladas com a suspensão do Campeonato Gaúcho e a indefinição quanto ao Campeonato Brasileiro é grande.
– Trabalhamos com uma previsão de perda de arrecadação de R$ 15 milhões até 30 de junho e uma postergação de arrecadação de mais R$ 15 milhões que não serão arrecadados agora mas podem ser mais adiante – calcula Amodeo.
Nesse ponto existe uma situação à qual o Grêmio, curiosamente, já está acostumado: a perda de receita de bilheteria. Em virtude do modelo de construção e gestão de sua Arena, o clube acumula oito anos sem o dinheiro da arrecadação dos jogos.
– Essa perda de receita o Grêmio não terá, porque aprendeu a viver sem ela. Para traçar um paralelo, o Flamengo em seu orçamento conta com uma previsão de R$ 108 milhões de receita de bilheteria, que não será alcançada.
Outra questão fundamental é a venda de atletas.
– Em nosso orçamento de 2020 prevemos arrecadar R$ 88 milhões com a venda de atletas e realizamos até agora somente R$ 18 milhões. Ou seja: mesmo que todas as medidas de adequação orçamentária tenham resultado, nós ainda precisaremos de R$ 70 milhões de venda de atletas para fechar nosso orçamento – afirma Amodeo. (Globo Esporte)