Morei em Nova Orleans por alguns anos. Lá tem o chamado French Quarter ou Quarteirão Francês. Um enorme bairro na beira do rio Mississippi, com arquitetura de quando a cidade pertenceu à Espanha e depois à França. Nova Orleans foi fundada em maio de 1718, Cuiabá em abril de 1719. Lá preservaram tudinho.

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Ali é a base do turismo na cidade. Uma média, mesmo depois do Katrina, de dez milhões de turistas por ano. Todo mundo passa pelo preservado Quarteirão Francês, a alma de Nova Orleans. Uma fonte de renda enorme para uma cidade que oferece também boa música e comida. O turismo ali rende mais de seis bilhões de dólares por ano e gera mais de 80 mil empregos.

Cuiabá, se preservasse sua arquitetura antiga, poderia fazer disso uma fonte de renda; como fazem Salvador, São Luiz, Recife ou Nova Orleans. Cuiabá tem também música e gastronomia própria.

O Centro Histórico de Cuiabá tem 98 imóveis antigos que precisam ser preservados. Um grupo vistoriou recentemente 55 deles e constatou que 43 precisam de reformas.

Turistas não vêm a Cuiabá para ver viaduto ou rotatória. Dirigentes só falam nisso, só buscam recursos e empréstimos para coisas assim. São importantes, mas não atrai ninguém para o turismo
Tem imóvel que pertence a uma família e seus membros têm pontos de vista diferentes do que fazer com ele. Outros têm pendências jurídicas ou estão em inventários. A maioria dos proprietários não tem recursos para as necessárias reformas. Se o poder público faz em um, outros também querem nos seus.

Como outros lugares no Brasil resolveram esses e outros assuntos nos seus centros históricos? Por que não buscar informações fora que possa ajudar a resolver os diferentes problemas das casas do Centro Histórico de Cuiabá? Não seria transplantar o que se fez lá para o contexto local, mas buscar subsídio que possa ajudar a solucionar os problemas daqui.

Em Recife levaram para o Centro Histórico o setor de tecnologia e inovação. A coisa pegou, fizeram reformas nos casarões, restaurantes e bares chegaram também. Virou um lugar de negócios e turismo.

Em São Luiz no Maranhão, além de recurso do PAC Cidades Históricas, também conseguiram empréstimo no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com aval da União, para revitalizar o Centro Histórico daquela cidade. Em Salvador, na primeira mexida no Pelourinho, no governo ACM, se conseguiu um empréstimo no mesmo BID.

Por que a Prefeitura de Cuiabá não busca informações sobre essa linha de crédito desse banco? Saber também se Portugal tem recurso para recuperar e manter arquitetura portuguesa antiga, como a de Cuiabá? É verdade isso?

Um telefonema para o Adido Cultural da Embaixada no Brasil poderia dizer se essa informação procede ou não. Seja dessa ou daquela maneira, Cuiabá não pode deixar desmoronar esse pedaço de sua história.

Turistas não vêm a Cuiabá para ver viaduto ou rotatória. Dirigentes só falam nisso, só buscam recursos e empréstimos para coisas assim. São importantes, mas não atrai ninguém para o turismo. O turista quer conhecer a história, a cultura, o folclore, linguagem, gastronomia de um povo. E, se tiver, como Cuiabá tem, sua arquitetura antiga preservada também.

*ALFREDO DA MOTA MENEZES é professor universitário e  Analista Político

E-mail: pox@terra.com.br  

Site: www.alfredomenezes.com

Cuiabá, se preservasse sua arquitetura, poderia fazer disso uma fonte de renda.