O artigo anterior sobre o Centro Geodésico da América do Sul lembrou-me a antiga ideia de um centro de cultura sul-americana a ser criado naquele local como proposta de ocupação à altura do simbolismo do espaço e de aproveitamento de um dos maiores potenciais para a geração de emprego e renda em Cuiabá. Recordou artigos como o publicado em 1986 em “O Estado de Mato Grosso”, capeando caderno especial sobre o assunto no qual expus a preocupação: “Vamos imaginar que a tendência se confirme e a nossa Assembleia Legislativa seja deslocada para outro ponto da cidade.
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Teríamos a desocupação do prédio onde ela se instala atualmente. E daí? Como vai ser utilizado? Poderia ser a Câmara de Vereadores de Cuiabá, a qual, entretanto, já está com sua sede em construção. Naturalmente que o prédio vai ser ocupado de alguma forma. Por que não começarmos a pensar numa forma de utilização que esteja à altura da carga simbólica que envolve aquele espaço?”.
Passadas mais de 3 décadas, a Assembleia Legislativa realmente mudou para o CPA numa sede moderna e a Câmara de Vereadores está ocupando a antiga sede da Assembleia, pois foi paralisada a obra daquela que era prevista como sua nova sede em 86.
Porém, por se tratar de uma antiga região da cidade, hoje a Câmara se debate com os mesmos problemas de acessibilidade e estacionamentos vividos pela Assembleia Legislativa em 1986. A necessidade de uma nova sede está de volta.
Em 2005, na entrega das chaves do edifício à Câmara o então governador Blairo Maggi vaticinou que, por ele e seu secretário João Vicente Ferreira, o destino final do prédio seria o Centro Cultural da América do Sul, algo semelhante ao do meu artigo de 1986, e que esse projeto só era postergado ante uma premente necessidade da Câmara de Cuiabá mas que seria retomado um dia quando o Legislativo cuiabano mudasse para uma sede definitiva, com o espaço retornando ao Estado.
E algo me diz que pode estar na cabeça do atual presidente da Câmara a intenção de construir a sede definitiva para o Paço Municipal Paschoal Moreira Cabral. Não seria nada improvável que tal acontecesse com um homem de visão futurista e empreendedora como Misael Galvão, apoiador de primeira hora e propulsor do magnífico Shopping Popular quando ainda projeto do antigo IPDU, e revitalizador do então abandonado Centro Esportivo do Dom Aquino.
A história conspira a favor daquele precioso marco geodésico e quer dar a ele uma ocupação digna de todo o seu significado.
Um lugar onde fossem desenvolvidos estudos, cursos, exposições, congressos, festivais e outras atividades sobre as manifestações populares autênticas do continente como, por exemplo, as diversas línguas (o quíchua, o aimará, o guarani e outras), a gastronomia, vestuário, danças, oficinas de fabricação e ensino de instrumentos musicais (como a harpa paraguaia, o charango, as flautas andinas, a nossa viola de cocho, entre outros).
No mínimo poderia ser promovida uma festa anual festejando em um abraço continental alegre e pacífico a cultura popular do continente com barracas de cada país trazendo música, dança, comidas típicas, artesanatos e outros.
Uma certeza eu tenho: estivesse o centro geodésico em qualquer outra cidade (Campo Grande ou Curitiba, por exemplo) há muito estaria rendendo empregos e renda em favor de sua gente como uma atração turística importante.
Junto com as belezas do Pantanal e da Chapada, as termas de São Vicente, as “plantations high tech”, as floradas de girassol e algodão, a criação do centro cultural sul-americano no exato centro geodésico da América do Sul transformará Cuiabá em um pacote múltiplo de atrações bem vantajoso ao investimento ao turista nacional e internacional. Um dia acontecerá, aquele lugar é mágico.
* JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS é arquiteto e urbanista, é conselheiro licenciado do CAU/MT, acadêmico da AAU e professor aposentado
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