Uma escavação arqueológica no futuro campus da Universidade de Gloucestershire, no local que abrigou uma famosa loja de departamentos, revelou um verdadeiro tesouro histórico: mais de 300 esqueletos humanos, além de artefatos que remontam aos períodos romano, medieval e pós-medieval. Essas descobertas oferecem uma janela fascinante para o passado da cidade de Gloucester, na Inglaterra, mostrando como a região foi ocupada e transformada ao longo dos séculos.

Entre os achados então os vestígios de uma estrada romana do século II, fragmentos de cerâmica e as fundações de uma casa geminada, indicando que a área já foi um vibrante assentamento durante o Império Romano. No entanto, muitos dos sepultamentos humanos encontrados são associados a duas igrejas que existiram no local.

Metade dos esqueletos foi encontrada em jazigos medievais, provavelmente vinculados a uma igreja anterior à conquista normanda da Inglaterra, em 1066. Acredita-se que esse templo tenha sido demolido no século XVII, após sofrer danos durante a Guerra Civil Inglesa (1642-1651). Em destaque os sepultamentos mais rasos, sem abóbadas (estrutura arquitetônica arqueadas), parecem estar relacionados à Igreja de St. Aldate, construída em 1750 para substituir a antiga estrutura religiosa.

O mistério das igrejas desaparecidas

A escavação, conduzida pela Cotswold Archaeology, revelou a planta baixa da igreja pós-medieval, com suas fundações de calcário e tijolo, além de 83 jazigos revestidos de alvenaria. No entanto, a localização exata da igreja medieval ainda é um enigma.

“Embora não tenhamos identificado a estrutura completa da igreja medieval, encontramos uma parede de calcário com reboco de cal que provavelmente fazia parte dela”, explica Steve Sheldon, arqueólogo responsável pelo projeto, em comunicado. “Isso sugere que a construção original estava mais ao sul, distante da rua principal.”

Veja o vídeo abaixo da equipe mostrando a escavação e os itens encontrados:

Entre os artefatos recuperados está uma peça de um arco de janela do século XIV, que será exposta no novo campus universitário. Assim, permitindo que alunos e visitantes apreciem um pedaço da história local.

O que os ossos podem revelar sobre a vida em Gloucester

Além da importância arquitetônica, os esqueletos encontrados prometem revelar detalhes fascinantes sobre a saúde e os hábitos da população ao longo de quase mil anos. “O impacto da dieta no século XVI, por exemplo, é visível nos dentes dos enterrados. O aumento do consumo de açúcar deixou marcas claras na saúde bucal dessas pessoas”, explica Cliff Bateman, outro arqueólogo envolvido no projeto.

Uma parte de moldura do século XIV, combinando elementos de arco e trevo, descoberto durante as escavações do projeto City Campus. — Foto: Universidade de Gloucestershire
Uma parte de moldura do século XIV, combinando elementos de arco e trevo, descoberto durante as escavações do projeto City Campus. — Foto: Universidade de Gloucestershire

Os pesquisadores agora vão fazer análises mais aprofundadas, incluindo datação por carbono e estudos osteológicos, para desvendar mais segredos sobre quem eram esses indivíduos e como viviam.

Do passado ao futuro: um campus que preserva a história

O local, que já foi uma loja Debenhams e, antes disso, a Igreja de St. Aldate, será transformado em um moderno centro universitário, mas sem apagar seu rico passado. A universidade planeja integrar as descobertas ao projeto, permitindo que a história continue viva no coração de Gloucester.

Enquanto os arqueólogos finalizam seus relatórios, uma coisa é certa: debaixo dos pisos de uma antiga loja de departamentos, repousavam séculos de histórias esperando para serem contadas.

(Por Carina Gonçalves)