O outro lado da fronteira, onde o socialismo domina, ficou ainda mais assustador. Na Venezuela, o controle da mídia já é uma realidade e a dificuldade no trabalho da imprensa é cada dia mais latente. A censura não atinge apenas os veículos locais, mas também aqueles que, de alguma forma, buscam retratar a realidade vivida pelo povo venezuelano nos últimos anos.

Luan José Soares Silva, fotógrafo roraimense, foi preso junto com outros dois colegas, pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB). O trio foi detido em Santa Elena de Uirén, na Venezuela, próximo a Pacaraima (RR), em junho de 2019 e passou 24 horas nas mãos dos guardas venezuelanos.

De acordo com o Consulado Venezuelano em Roraima, os brasileiros estariam fazendo imagens de uma área de segurança. Por isso, teriam sido interceptados.

“Estávamos fazendo uma matéria mostrando a realidade venezuelana e fomos surpreendidos pela oposição do país vizinho que não concorda com a política do nosso país”, conta o fotógrafo.

Os profissionais tiveram os equipamentos de produção de imagens, como câmeras, lentes, drone e todos os demais apreendidos pela GNB. A pressão, relata Luan, ficou ainda mais forte quando parte dos guardas começou a questionar o posicionamento político dos detidos. Ao negar ser de esquerda, o fotógrafo diz que a pressão se intensificou.

“Queriam nos forçar a ser como o presidente deles (Nicolás Maduro). É triste ver a Venezuela que era um país tão bom, para o turismo, por exemplo, fazer essa divisão agora entre petista e bolsonarista”, lamenta.

Os três fotógrafos passaram uma noite no quartel da GNB e depois foram levados até a Embaixada Brasileira na Venezuela. Apesar de terem sido bem recebidos pelos brasileiros que moram próximo ao local, o alívio só veio quando o grupo atravessou a fronteira de volta ao solo roraimense. Durante a libertação, os equipamentos de trabalho também foram devolvidos.

“As pessoas têm que vir aqui para ver a real situação que vivemos”, chama Luan. “Lideramos a campanha de (Jair Messias) Bolsonaro (PL) porque sabemos como é que estão as coisas na Venezuela”, diz o rapaz.

Roraima foi o Estado que, proporcionalmente, concedeu mais votos ao candidato à reeleição para a Presidência da República, Bolsonaro. O político concentrou quase 70% dos votos, somando mais de 200 mil eleitores, distribuídos em 14 dos 15 municípios do Estado. Já Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato de esquerda, ganhou em apenas uma cidade e teve apenas 23% dos votos (68.760).

Censura mais forte

O regime socialista de Maduro está com uma política de censura ainda mais forte. De acordo com o Colégio Nacional de Jornalistas da Venezuela, 46 estações de rádio em sete estados do país foram retiradas do ar nos últimos quatro meses.

Conforme a secretária-geral do CNP, Delvalle Canelón,os fechamentos ocorrem sob a ordem da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) que ainda apreende os equipamentos de transmissão.

Crise socialista

O cenário caótico do socialismo começou a se fortalecer a partir da eleição de Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela) chegar ao poder em 2013. A proposta do novo presidente era seguir com a política de Hugo Chávez, morto no mesmo ano. Porém, a situação política e econômica se agravaram consideravelmente.

Um dos problemas enfrentados, logo em 2014, foi a desvalorização do petróleo no mercado internacional, essa que era a principal fonte de riqueza venezuelana. Depois, foi a vez da crise do abastecimento, deixando faltar insumos básicos como remédios e alimentos ao povo venezuelano.

Diante desse quadro de incertezas e caos, os venezuelanos começaram a deixar o país em 2015. O Brasil é um dos países mais procurados pelos venezuelanos. O Unicef estima que mais de 254 mil venezuelanos entraram em território brasileiro entre 2015 e 2018. Desses, cerca de 6 mil devem estar abrigados em Pacaraima.

Missão Roraima

Essa matéria faz parte do “Missão Roraima”, um projeto de uma equipe jornalística de Mato Grosso que foi até Roraima para conferir a chegada dos venezuelanos às terras brasileiras.

A iniciativa surgiu de um pedido feito por Bolsonaro para que a imprensa mostrasse ao Brasil como tem sido a vida dos venezuelanos nos últimos anos.

O projeto contou com doações de empresários, pecuaristas e particulares que fizeram doações para a equipe de reportagem iniciar a sua viagem, que começou na quarta-feira (12). Ainda falta muito a ser retratado e para isso, a jornalista e seus colegas precisam de apoio.

A chave Pix para doações é: 816.610.701-59, em nome de Camila Nalevaiko