O meia Celsinho, do Londrina, concedeu uma entrevista exclusiva ao ge para falar sobre a decisão do STJD de absolver e devolver os três pontos ao Brusque na tabela da Série B. A equipe catarinense havia perdido três pontos na primeira decisão do tribunal após um caso de racismo contra o jogador, na partida entre envolvendo as duas equipes na 21ª rodada.
As agressões verbais ao meia Celsinho aconteceram durante o jogo entre Brusque e Londrina, no dia 28 de agosto, no estádio do time catarinense.
Durante o primeiro tempo, Celsinho, que estava no banco de reservas, foi xingado por Júlio Antônio Petermann, presidente do Conselho Deliberativo do Brusque, que estava na arquibancada e que usou a seguinte expressão: “vai cortar esse cabelo, essa cachopa de abelha“. O meia relatou o caso para a arbitragem e o ato foi relatado na súmula da partida.
No julgamento da última quinta-feira, os auditores decidiram, por seis votos a dois, devolver os três pontos retirados na punição ao clube catarinense.
O presidente da sessão do STJD José Perdiz determinou a perda de um mando de campo, a ser cumprido em campeonato nacional, e o pagamento de multa de R$ 60 mil para o Brusque. Já a punição a Júlio Antônio Petermann foi mantida integralmente: suspensão por 360 dias e multa de R$ 30 mil.
Celsinho chamou a nova decisão do tribunal de “tiro no pé” e disse que isso não interfere na luta contra o racismo, que deve ser constante.
– Infelizmente, acabamos retrocedendo e o STJD deu um tiro no pé. Independente do que aconteça em julgamentos, nossa luta é outra. Irá continuar e nós não nos calaremos.
O meia também falou sobre a importância de atletas vítimas de racismo sempre denunciarem o crime.
– É muito gratificante ver que outros atletas estão expondo esses criminosos. Peço para que eles continuem expondo, continuem lutando contra esses criminosos, porque só assim nós conseguiremos caminhar para um lado positivo – finalizou.
Confira a entrevista de Celsinho:
Qual o seu sentimento sobre a decisão tomada pelo STJD?
Em relação ao que aconteceu na audiência, fica um ar de decepção. O STJD tinha a oportunidade de permanecer com aquilo que é o correto, com o que já tinha sido determinado na primeira decisão, a oportunidade de caminharmos na luta contra essas pessoas, contra esse crime, e evoluirmos. Infelizmente, acabamos retrocedendo e o STJD deu um tiro no pé. Independente do que aconteça em julgamentos, nossa luta é outra. Irá continuar e nós não nos calaremos. A busca por igualdade vai muito mais além do que apenas três pontos, apenas um julgamento. A decepção é muito grande, porque em dias como esse, a gente espera mais respaldo e ajuda para combatermos esse crime. Essa decisão foi uma demonstração de que infelizmente as pessoas ainda não pensam dessa maneira. Ao invés de evoluirmos, acabamos retrocedendo.
Você mencionou na sessão o quão difícil é explicar a situação aos seus filhos. Como foi passar esse resultado a eles?
Ficou muito simples e muito claro que a decisão não é minha, não foi imposta por mim. Não só eu, mas inúmeras pessoas ainda lutam contra esse crime. Foi o que eu falei para os meus filhos. Independente das pessoas que estavam julgando, minha luta continua. Farei de tudo para que essas pessoas sejam punidas da maneira mais severa possível.
A decisão afeta sua vontade de seguir lutando contra o racismo?
Ela não afeta em nada. Muito pelo contrário, só aumenta a vontade de lutar contra tudo isso. Lutar contra essas pessoas. Essa luta não é só minha, mas de milhares de pessoas. Não é no primeiro passo que deu errado que eu vou abandonar isso. Isso só me dará mais forças para que eu continue lutando e continue fazendo o que milhares de pessoas têm receio de fazer. Mas me afetar para que eu pare por aqui, jamais.
Qual o recado que fica para os atletas que sofrem racismo no futebol?
O recado é que para esses atletas continuem expondo essas situações. É muito gratificante ver que depois que isso aconteceu comigo, outros atletas estão expondo esses criminosos. Peço para que eles continuem expondo, continuem lutando contra esses criminosos, porque só assim nós conseguiremos caminhar para um lado positivo. Torcer para que a Justiça seja feita de forma severa para que esses criminosos não voltem a cometer mais esses crimes. (GE)