A hostilidade dos candidatos nos períodos eleitorais e a disposição deles para o confronto – quase briga – nos faz pensar que estão disputando muito mais que um efêmero mandado de quatro anos. Pessoas que pareciam pacíficas e sensatas tornam-se agressivas e ameaçadoras, sob o argumento de que em época de eleição vale tudo. Essa briga agrada a maioria dos eleitores o que estimula os políticos a buscá-la para se promoverem.
Atacam antigos companheiros, desmerecem ex aliados, traem amigos e inventam notícias que destroem reputações, como se isso fosse um comportamento aceitável, justificado pela disputa do cargo.
Hoje abraçam os companheiros, amanhã os repudia como a inimigos. Também fazem promessas impossíveis de serem cumpridas e garantem benefícios absolutamente irrealizáveis para os que votarem neles.
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Qual a solução para refrear esses ímpetos malignos que se manifestam a cada eleição? O remédio seria abrir o olho do povo, mas ele (o povo) prefere a cegueira.
Platão, o famoso filósofo grego, no livro A República, já denunciava o comportamento enganador dos políticos da época e condenava o povo que preferia ouvir mentiras agradáveis a verdades duras.
Insiste Platão que em um estado saudável o correto seria o povo escolher um cidadão e pedir a ele que o governasse, não um morador qualquer disputar o posto de comando.
Seguindo este raciocínio deveríamos votar em um indivíduo que se candidatasse ao cargo de governante como alguém que busca um emprego. Exporia o seu currículo, referências e experiências anteriores, garantindo mediante entrevistas, conhecer as normas do trabalho que executará e o salário que pleiteia.
Este não pediria votos, antes proporia uma troca: ele presta os serviços para o município, estado ou união, e estes lhe pagam o salário pelo prazo que combinarem. É bom lembrar aqui, que pega muito mal falar mal do concorrente nas disputas de cargos na vida privada, mas na política o contratante, no caso o povo, adora ouvir cada um dos pretendentes esculhambar o adversário.
Claro que se trata de simples retórica. Seria ingenuidade supor que o eleitorado, infantil como “somos”, escolheria alguém que exibisse um currículo austero e competente em desfavor da bajulação que costuma amparar os pretendentes a cargos políticos.
Platão era um adversário do voto popular, pois sabia que o povo sempre é manipulado pelo palavreado vazio e pela lisonja. Passados dois mil e quinhentos anos da morte do filósofo grego, os políticos continuam os mesmos enganadores de sempre, e o povo, cego e infantilizado por conveniência, fica feliz de receber um tapinha no ombro e palavras de auto ajuda.
Na disputa com o candidato bajulador, diante de uma plateia de eleitores que são como crianças que adoram “doce”, certamente o pretendente austero nunca ganharia o debate; assim o candidato que só falasse a verdade, perderia a eleição.
Os concorrentes desta eleição que se aproxima, estão no auge da maquiação. Rugem para agradar os eleitores mais briguentos, “pintam-se” para suavizar expressões mais ásperas ou posam de heróis e mitos.
E nós corremos atrás deles, pedindo emocionados, a graça de um aperto de mão.
*RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Mato Grosso.
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