Escavações em um cemitério medieval na Espanha revelaram o que parecem ser restos de um homem adulto com características raras. Após análises de ossos, arqueólogos descobriram que, além de o guerreiro provavelmente ter morrido em batalha, ele apresentava craniossinostose, condição em que a fusão prematura das suturas cranianas causa problemas de desenvolvimento do crânio e do cérebro.
Mutação entre esqueletos
O estudo publicado na revista científica Heritage em outubro descreve esqueletos de soldados encontrados próximos ao castelo de Zorita de los Canes, no centro da Espanha. Datado entre os séculos 13 e 15, o esqueleto com uma cabeça incomumente alongada e estreita chamou a atenção dos pesquisadores.
Ele estava enterrado em um caixão de madeira já deteriorado na época das escavações – entre 2014 e 2019 –, e muitos dos seus ossos não resistiram ao longo dos séculos. Seu crânio, com características que sugerem a ocorrência de duas facadas na cabeça, foi recuperado e analisado por cientistas de diferentes instituições de pesquisa espanholas.
Carme Rissech, antropóloga e principal autora do estudo, afirmou em entrevista ao site Live Science que nunca tinha visto um crânio assim antes, “especialmente não pertencente a um cavaleiro”. Segundo o artigo, o castelo teria sido ocupado em parte da Idade Média pela Ordem Calatrava, grupo de monges e militares fundado para lutar contra os mouros durante a Reconquista.
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Análises detalhadas do esqueleto revelaram que o homem tinha entre 45 e 49 anos no momento da morte, assim como aparentava ter músculos de uma pessoa ativa. O mais intrigante dos restos mortais, porém, era o fato de que suas três suturas cranianas apresentavam sinais de terem se fechado prematuramente, causando a malformação da cabeça.
Quando nascemos, os ossos do crânio não estão completamente conectados. Eles são sustentados por articulações fibrosas chamadas suturas e só irão se fundir após a maioridade, por volta dos 20 anos. A união das suturas antes desse tempo, descrita como craniossinostose, pode levar a sérias lesões cerebrais. Atualmente existem cirurgias que ajudam a aliviar a pressão gerada na cabeça, mas essa não era uma opção disponível para um soldado medieval.
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Síndrome de Crouzon
Mesmo que possa acontecer por condições de gestação, muitos dos casos de craniossinostose são derivados de mutações genéticas. Uma das citadas pelos pesquisadores é a síndrome de Crouzon. A doença inclui outras anomalias na região da cabeça, como olhos separados e salientes, mandíbula pequena e perda auditiva.
O fato de que apenas o crânio do soldado medieval aparenta ter alterações faz com que os pesquisadores acreditem que ele possa ter tido síndrome de Crouzon. Ainda assim, mais análises genéticas são necessárias para comprovar a teoria de que o esqueleto escavado trata-se de um achado raro.
“A maioria dos casos documentados – particularmente no período medieval – é pediátrica. A sobrevivência desse indivíduo até a idade adulta sem intervenção cirúrgica é especialmente notável, dadas as possíveis complicações”, alegam os arqueólogos no estudo.
(Por Fernanda Zibordi)
Características encontradas pelo esqueleto, como facadas no crânio e um joelho esmagado, indicam que o homem pode ter morrido em batalha — Foto: Carme Rissech/Heritage

