O governo brasileiro dará mais um passo na tentativa de negociação com o governo da Rússia pela liberação de Robson Oliveira. Uma comitiva formada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS) e a embaixadora Márcia Donner Abriu – parte da equipe do Ministério das Relações Exteriores -, fará viagem ao país europeu na próxima semana e levará uma carta endereçada ao presidente russo, Vladimir Putin.

O presidente Jair Bolsonaro assinará a carta. Titular da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Trad acompanhará a embaixadora Donner Abriu, que é secretária de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do Ministério das Relações Exteriores. A embaixadora tem agendada a participação em uma “Reunião de Consultas Políticas Brasil-Rússia” no país europeu – momento que deve ser usado para entregar a carta.

Robson Oliveira está preso há mais de 500 dias na Rússia por transportar medicamentos proibidos a pedido do sogro do jogador Fernando. O caso vem sendo acompanhado em uma série de reportagens exclusivas do Esporte Espetacular.

Nelsinho Trad, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado — Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado

Nelsinho Trad, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado — Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado

De acordo com a assessoria de Nelsinho Trad, o senador recebeu o pedido da viagem nesta quarta-feira. A carta que será levada pelo parlamentar contém um apelo do governo brasileiro por reparação de justiça no caso, uma vez que Robson entrou na situação por total desconhecimento em relação ao medicamento que tem uso permitido no Brasil.

A comitiva deve embarcar para a Rússia na próxima segunda-feira, com retorno ao Brasil marcado para sexta-feira. Não há data definida para que a Justiça russa julgue o caso de Robson.

Relembre o caso

Robson e a esposa, Simone, trabalhavam para Fernando, na época em que o meio-campo revelado pelo Grêmio e com passagem pela seleção, jogava no Spartak de Moscou. Eles foram contratados pela família do jogador, e embarcaram para a Rússia transportando, a pedido do sogro de Fernando, um medicamento legalizado no Brasil, mas proibido em território russo, o Mytedon – Cloridrato de metadona.

Na época, Robson alegou que não sabia o que tinha na mala, e que a família havia informado que a bagagem estava apenas com algumas roupas e mantimentos. O brasileiro acabou detido no aeroporto em Moscou, e preso trinta dias depois, acusado de ser dono do medicamento. Nem Fernando, nem a esposa do jogador, Rafaela Rivoredo, nem o pai de Rafaela, William Pereira de Faria, confirmaram para as autoridades russas que o medicamento era de William.

O sogro de Fernando, William Faria, não prestou qualquer esclarecimento para a polícia russa. No dia 6 de junho de 2019, três meses após a prisão de Robson, em depoimento Fernando disse não saber de que modo os remédios foram recebidos por Robson no Brasil, nem a forma de entrega, na mala ou em caixas de remédios não empacotadas, e acrescentou que não mantinha contato com o sogro.

Em momento algum do depoimento, Fernando afirmou que os remédios eram de William. Depoimento bastante semelhante ao da esposa Rafaela, que disse que não sabia que o pai havia pedido para Robson trazer os remédios. Na época, ela disse também não saber o endereço do pai, porque ele se mudava constantemente.

Em vídeos gravados em um celular para o Esporte Espetacular no dia 7 de setembro de 2019, Fernando deu um depoimento bem diferente do que foi dado à polícia russa. “Quando eles foram parados no aeroporto, a gente imediatamente mandou o prontuário médico, receita, passaporte do meu sogro, tudo o que fosse necessário pra provar que o remédio era do meu sogro, porque realmente, o remédio era do meu sogro”, disse.

Fernando e a esposa se mudaram para a China, após o jogador ter acertado uma transferência do Spartak para o Beijing Guoan, no meio do ano passado. Os pais de Rafaela saíram da Rússia uma semana após a prisão de Robson. E nos últimos meses, a justiça russa adiou diversas audiências sobre o caso.

Desde a prisão de Robson, Fernando, Rafaela e William jamais prestaram um depoimento oficial, admitindo que o sogro do jogador era o dono dos remédios.

– Que eles façam um depoimento seja através de uma entrevista, seja através de documentos que a gente possa traduzir, juramentar e levar para Moscou pra que isso tenha valor jurídico. Mas que eles façam algo. O Fernando tem condições de comprar passagem aéreas de primeira classe, até de alugar um jato, e chegar lá em Moscou e dar um depoimento sobre o que realmente aconteceu. Mas isso eles não fazem – afirmou Olímpio, advogado de Robson no Brasil. (Globo Esporte)