Daniel Cargnin é o segundo medalhista do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio. No país do judô, o brasileiro venceu Baruch Shmailov, de Israel, com um wazari no tempo regular, e levou o bronze em luta disputada no início da manhã deste domingo, na categoria meio-leve (até 66kg).
Muito emocionado, o lutador lembrou de sua mãe, Ana Rita, e os momentos de dificuldade que enfrentou antes de chegar à glória eterna.
“A gente sonha com isso junto. Vou ser bem sincero: o que eu queria agora era ligar para a minha mãe, falar para ela que valeu a pena. Uma vez eu estava voltando do treino, era muito pequeno, voltei chorando do treino porque tinha apanhado muito.
Ela me disse: ‘Vamos comer alguma coisa que amanhã é um novo dia’. Desde a pandemia, no início das competições, eu me machuquei três vezes, não fui para o Mundial porque peguei covid-19… Cheguei a pensar: por que não está dando certo? Me esforcei bastante nesse tempo, fiquei na casa da minha mãe, ela me deu esse suporte. Sinceramente, ainda não bateu a ficha”, declarou à TV Globo.
Estreante em Jogos Olímpicos, o gaúcho de 23 anos se mostrou confiante desde a primeira vez que pisou no histórico tatame da arena Nippon Budokan. Na primeira rodada, Cargnin superou o egípcio Mohamed Abdelmawgoud no golden score, quando o brasileiro conseguiu um ippon logo nos primeiros segundos. No tempo regular, a luta foi equilibrada, e cada judoca terminou com uma punição. A primeira para o egípcio, e a segunda logo depois para Cargnin.
Nas oitavas de final, o gaúcho venceu Denis Vieru, da Moldávia, com um waza-ari também no golden score. Em seguida, ele superou Manuel Lombardo, da Itália, número 1 do mundo na categoria, e se classificou para as semifinais.
Cargnin, porém, não foi páreo para o anfitrião Hifumi Abe. O japonês venceu o brasileiro com um ippon faltando 1m35s para o fim do combate.
Apesar de não ter a presença de torcida na Arena Nippon Budokan por causa das medidas de segurança contra o coronavírus, o clima estava quente. Muitos voluntários japoneses aproveitaram para sentar na arquibancada e torcer por Abe.
Na disputa pelo bronze, Cargnin se mostrou focado, obteve o wazari e depois segurou o resultado com inteligência. Com a vitória decretada, o brasileiro não segurou a emoção e chorou bastante abraçado com sua treinadora Yuko Fujii.
“Lembro de estar falando com a sensei Yuko… Uma vez a gente estava em um treinamento na Itália, em 2018, e eu estava muito cansado, apanhando muito, e ela me levantava e dizia: ‘vamos lá, vamos lá’. Eu me peguei chorando no banheiro e pensando: ‘Por que ela não desiste de mim? Às vezes eu mesmo penso em desistir!’. Encontrar ela foi especial, eu acreditei nisso. Preciso agradecer ao meu ídolo João Derly, meus amigos… Todos me deram muito suporte. Estou muito feliz, ainda não caiu a ficha”, declarou Cargnin.
Uma nova geração Imagem: Getty Images Daniel é a grande revelação do judô masculino brasileiro nos últimos anos. O atleta foi campeão mundial júnior em 2017, em Zagreb, na Croácia, e já tinha um bronze no torneio, de 2015. Além disso, foi vice-campeão dos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019. Com a conquista, o atleta consolida a nova geração do Brasil na modalidade.
Ele chegou em Tóquio como um dos brasileiros menos cotados para a conquista de uma medalha. Em uma seleção com atletas experientes como Mayra Aguiar, Rafael Silva – o baby, e Ketleyn Quadros, Daniel surpreendeu ao vencer o número 1 do mundo e chegar nas semifinais.
A sua categoria, meio-leve (até 66kg), tem tradição: Rogério Sampaio foi campeão olímpico em Barcelona-1992 e Henrique Guimarães foi bronze, quatro anos depois —os dois ganharam medalhas quando a categoria ainda tinha limite de 65kg.
Apesar disso, a grande referência dele é João Derly, que conquistou duas medalhas de ouro no Mundial (em 2005 e 2007), mas nunca chegou ao pódio olímpico. Os dois são do mesmo clube, a Sogipa, e foram formados pelo mesmo treinador, Kiko.