GIOVANA FORTUNATO
Responsável por milhões de diagnósticos todos os anos, acometendo quase que exclusivamente a população feminina, o câncer de mama pode interferir na fertilidade das mulheres que apresentam esta doença.
Gostaria de reforçar a importância de acolhimento e de cuidados mais justos na abordagem do paciente com câncer, uma vez que existe um percentual de mulheres que irão receber o diagnóstico com menos de 40 anos. Muitas delas ainda não engravidaram ou querem ter mais filhos.
Os protocolos eficazes para a cura da mama têm um impacto muito grande sobre a função e a reserva ovariana. Cerca de 80% das pacientes que finalizaram a quimioterapia ficam um tempo sem menstruar. O organismo de algumas retorna à normalidade e elas se mantêm férteis. No entanto, dependendo da idade e do que ainda há de reserva de óvulos, a mulher pode ficar permanentemente em falência ovariana.
“A escolha para a preservação da fertilidade pode ser decorrente de condições médicas, benignas ou malignas, ou, ainda, de motivos sociais”
Abordar esse assunto delicado de uma forma acolhedora faz toda a diferença para que a paciente se sinta à vontade para fazer perguntas, a fim de entender todas as opções.
A escolha para a preservação da fertilidade pode ser decorrente de condições médicas, benignas ou malignas, ou, ainda, de motivos sociais. Dentre as condições médicas, o tratamento para o câncer em mulheres em idade fértil, como quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea, pode ocasionar insuficiência ovariana prematura, dependendo da reserva folicular, da idade da paciente e dos medicamentos utilizados.
A quimioterapia, particularmente com agentes alquilantes citotóxicos, a radioterapia, a cirurgia ou a combinação dessas modalidades de tratamento induzem a insuficiência ovariana prematura, uma vez que os ovários são muito sensíveis às drogas citotóxicas e à exposição à radiação na área pélvica.
Como a probabilidade de insuficiência ovariana prematura depende da reserva folicular e de outros fatores relacionados ao próprio tratamento, sendo, portanto, variável em cada paciente, é difícil fornecer uma estimativa acurada do risco de infertilidade que pode ocorrer caso a caso.
Em indicações oncológicas, a criopreservação de óvulos ou mesmo a criopreservação de embriões precisam respeitar alguns aspectos. A quimioterapia deve ser atrasada em, pelo menos, dez dias a quinze dias para permitir o tempo de estímulo ovariano controlado e a paciente tem de estar em período pós-puberal. Pode ainda ser necessário requerer protocolos específicos de estímulo ovariano controlado, dependendo da sensibilidade aos esteróides da neoplasia em tratamento. Vale lembrar que há poucos dados sobre a qualidade dos óvulos em mulheres com câncer e que não é possível extrapolar os resultados obtidos com programas de doação de óvulos.
O impacto de uma infertilidade inesperada que se estabeleceu por conta de uma quimioterapia, normalmente, é visto como uma dupla penalização, o que pode ser ainda mais traumático para a paciente. Por isso, ao ser informada a respeito de todas as opções, a paciente pode tomar uma decisão consciente sobre o seu futuro. A esperança de gerar uma vida se mantém viva, e as pacientes enfrentam o processo quimioterápico muito melhor. Afinal, ano a ano surgem avanços tecnológicos nas mais diversas áreas da medicina. Assim, se multiplicam as esperanças de pacientes com câncer de mama em constituírem uma família após o tratamento.
Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium
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