O volante Jorginho, um dos destaques da Itália campeã da Euro 2020, foi um dos principais convidados de Galvão Bueno no “Bem, Amigos” desta segunda-feira. E, em entrevista muito bem-humorada e bastante completa, o atleta de 29 anos, nascido em Imbituba, Santa Catarina, brincou com o fato de ter o perdido o penúltimo pênalti da disputa que consagrou os italianos bicampeões da competições continental.

Após empate por 1 a 1 com a Inglaterra no tempo normal e na prorrogação, Jorginho, que colocara a Itália na decisão após bater com muita categoria o penalidade derradeira na semifinal com a Espanha, voltou a ser encarregado da “bola do jogo”. Foi dele a quinta cobrança italiana, mas o brasileiro parou em Pickford e na trave. Na sequência, porém, o goleiro Donnarumma defendeu cobrança de Saka e garantiu a festa da Azzurra.

Aliviado com a ajuda do craque da Eurocopa, Jorginho brincou com o erro diante do goleiro inglês.

– Foi tudo combinado. Eu sabia que o Donnaruma ia pegar (risos). Você fica com o sentimento ruim porque quer ajudar a sua equipe da melhor maneira. E eu dou sempre tudo o que tenho pela equipe, mas infelizmente não é bastante. Acabei errando o pênalti, e naquele momento foi um sentimento de tristeza mesmo por não ter dado a vitória que era tão esperada. Ainda bem que temos esse fenômeno no gol que conseguiu me salvar.

Também aos risos, lembrou o fato de Pickford ter aguardado sua cobrança em vez de sair antes para tentar a defesa:

– Ele me quebrou. Não bati muito bem, e ele pegou. Bateu na trave e nas costas do cara, Nossa Senhora (risos)! Vou sonhar mais umas duas semanas com esse pênalti.

Jorginho fala da emoção do povo italiano

Na Itália desde os 15 anos, quando deixou Imbituba, Jorginho disse que viveu uma segunda-feira especial em Roma, onde torcedores festejaram o bi da Azzurra na Euro, conquista que não vinha desde 1968. O brasileiro naturalizado italiano lembra que o fato de o país ter sofrido muito por ter sido figura central na pandemia do coronavírus tornou a celebração ainda mais emocionante.

– Foi incrível. Acredito que a seleção tocou no fundo em 2018 ao não se classificar para a Copa da Rússia. Quando começou esse projeto novo com treinador novo e toda renovação, muita gente desacreditava. Eram jogadores jovens e várias situações. Fomos nos unindo, acreditando no projeto e acreditando um no outro. Quando todos olham na mesma direção, o resultado acaba chegando. E aí o país explodiu.

– Hoje teve a comemoração aqui em Roma, e foi algo inesquecível. O país parou. Ver esse país feliz de novo, torcendo pelo futebol italiano, que ultimamente não tinha essa alegria toda com a seleção pelos resultados do passado… Ver o povo acima próximo de todos nós, vibrando e torcendo conosco, é realmente muito emocionante. Digo de coração que amo esse país. Esse país me adotou, e eu esse país de coração.

Escolha pela Itália em detrimento do Brasil em 2017

Jorginho teve de optar por defender a seleção italiana profissionalmente às vésperas da Copa de 2018, durante as eliminatórias, em 2017. Lembra que à época o então coordenador técnico da seleção brasileira, Edu Gaspar, o procurou e que tal telefonema o balançou. Mas, diante de tudo que vivera na Itália e da necessidade da Azzurra de contar com jogadores comprometidos num momento de dificuldade, não pensou duas vezes ao escolher o país europeu.

– Cheguei a jogar na sub-21 pela Itália. Assim que chegou para mim a convocação, eu de cara aceitei. Eu, sinceramente, via a seleção brasileira como algo muito longe. E o fato de eu ter crescido na Itália e pela Itália ter aberto as portas para mim, não pensei duas vezes sinceramente. Mas naquele momento, depois da sub-21, eu só tinha jogado amistoso (pela seleção principal da Itália). Aí foi quando chegou em 2018, na última convocação, para o jogo com a Suécia, que chegou a convocação, e o Brasil me procurou também. E esse momento foi bem complicado.

– Naquela distância que existia, também não posso dizer que nunca sonhei jogar com a Amarelinha. Também era o meu sonho de criança. Quando chegou essa ligação do Edu Gaspar, ele disse: “Jorge, a gente está pensando em te convocar, mas eu não posso garantir nada. Sei que é difícil, conversa com a sua família”.

– Realmente conversei com a minha família e realmente não me senti bem depois de ter passado o que passei ao vir para Itália, jogar pela sub-21 e amistosos pela principal… Num momento em que a seleção italiana estava numa eliminatória bem complicada para aquele jogo final com a Suécia. Senti que a Itália precisava de ajuda. E quando eu precisei de ajuda, a Itália me ajudou, me abraçou e me abriu as portas. Eu não me sentia à vontade de virar as costas para a Itália naquele momento. Meu coração falou “não, a Itália precisa de você”. Então eu fiz essa escolha e sinceramente sou muito feliz com ela.

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Sonha com a Bola de Ouro?

– A gente vive para sonhos. Mas eu vou ser bem sincero: depende do critério de como é feito isso. Se a gente fala em questão de habilidade, sou consciente de que não sou o melhor do mundo. É o critério como jogador ou de quem ganhou mais títulos? Porque ninguém ganhou mais do que eu como jogador nesse ano. Como vou me comparar a Messi, Cristiano Ronaldo ou Neymar? Sinceramente são características completamente diferentes, mas depende do critério.

Mudança de estilo do jogo italiano e emoção do grupo no hino

– A questão da mudança do estilo de jogo é muito mérito do Mancini. Ele foi muito inteligente de reconhecer a característica dos jogadores e adaptar o jogo à características dos atletas. Acredito que isso tenha muito a mão dele. Realmente a gente sentiu bastante o hino. É um grupo bem especial. A força desse grupo não teve nenhum jogador só. É um grupo humilde e que trabalhou muito. Um sempre torcendo pelo outro. Os dois centroavantes são os melhores amigos na seleção. A gente sabia que essa competição era muito importante para a retomada da seleção. A gente se uniu, e o país estava sofrendo com essa pandemia. Não tem como explicar essa energia.

Como vê a seleção brasileira?

– Você olha os jogadores que tem, a seleção brasileira sempre vai ser uma das melhores do mundo. Se você ver os números, eles são claros. Toma poucos gols, domina os jogos. Infelizmente não ganhou a Copa América. Falta pouco para a seleção brasileira voltar a brilhar daquela maneira. É normal, nós sentimos. O apoio é muito importante. A Seleção tem tudo para voltar a brilhar, a conquistar títulos, tomara que não contra nós (risos), mas é isso. (Globo Esporte)