Um novo estudo desenvolvido por um historiador da Universidade de Southampton, no Reino Unido, sugere que a última mulher na Inglaterra que se acreditava ter sido enforcada por “bruxaria” pode, na verdade, ter sido libertada da prisão. É possível que a execução tenha sido evitada após um escrevente ter cometido um erro ortográfico nos registros do tribunal da inquisição.
Oficialmente, Alice Molland é considerada a vítima final da missão de caça às bruxas no Castelo de Exeter, no condado de Devon, em 1685, quando foi condenada à execução por “enfeitiçar” três de seus vizinhos. No local de seu enforcamento, em Heavitree, uma placa com o seu nome chegou até a ser instalada.
Alice é uma personagem misteriosa e elusiva, tudo o que sabe sobre ela, inclusive, é o fato de ter sido sentenciada à morte. No entanto, evidências recentemente descobertas sugerem que pode não ter sido ‘Alice’ Molland quem foi condenada à execução, mas, sim, uma outra mulher, ‘Avis’ Molland.
Erro ortográfico que salvou uma vida
De acordo com Mark Stoyle, especialista em História Medieval, um erro de ortografia cometido por um oficial do tribunal pode ter levado a uma confusão administrativa. Como os registros da corte do século 17 eram escritos em latim, uma única letra errada ao escrever ‘Avicia’ (Avis) bastaria para se transformar em ‘Alicia’ (Alice).
“Quase nada se sabe sobre a vida de Alice, e tentativas de esclarecê-la falharam. Então, quando vi uma referência a um ‘Avis’ Molland em arquivos locais – sabendo que Molland era um nome incomum em Exeter – fiquei impressionado com sua grande semelhança”, lembra Stoyle, em comunicado. “Imediatamente me perguntei: ‘Alice’ Molland existiu? Seria Alice, na verdade, Avis?”.
Após uma busca meticulosa nos registros do tribunal e cartório locais, o especialista descobriu várias referências a Avis; o que jamais havia sido possível de fazer com Alice. De acordo com documentos oficiais, Avis casou-se com um homem chamado Cornelius Molland na Catedral de Exeter em 1663 e teve vários filhos.
Os registros indicam que, ao longo de um período de dez anos, três dos filhos de Avis morreram, bem como o seu marido. Assim, na época do julgamento de 1685, a mulher era uma viúva pobre, de meia-idade, que estava sobrecarregada com o luto. “Ela representa precisamente o tipo de pessoa que era costumeiramente acusada de bruxaria na Inglaterra moderna”, descreve Stoyle.
Implicações da descoberta
Avis morreu em 1693, como aponta um registro paroquial. Se ela de fato for a mesma pessoa que Alice, isso significa que ela sobreviveu por quase oito anos desde a sua condenação.
Neste caso, a última bruxa executada da Inglaterra é um título que pertence, portanto, a uma das três “Bideford”, um “coven” formado por Temperance Lloyd, Susannah Edwards e Mary Trembles. Elas foram mortas juntas no mesmo local onde Alice teria sido enforcada, porém, três anos antes, em 1682.
“A falta de registros da vida de Alice e as evidências circunstanciais em apoio ao caso de Avis ser nossa mulher condenada apontam para uma bruxa que sobreviveu!”, conclui Stoyle. “Mas a verdade é que, apesar de toda a minha busca diligente, talvez nunca saibamos com certeza se a história errou”.
(Arthur Almeida)