O japonês Honda é reforço do Botafogo. O anúncio foi feito pelo próprio jogador em sua conta no Twitter nesta sexta-feira. Logo depois, o Alvinegro também confirmou a negociação em suas redes sociais.
Em português, o jogador postou um vídeo em sua conta: “Oi, tudo bem? Eu sou Keisuke Honda, muito prazer. Eu jogo no Botafogo. Vamos nos ver no Rio de Janeiro. Até logo, obrigado, tchau”.
Apenas cinco minutos depois do post do japonês, o Botafogo anunciou a contratação através de um vídeo em suas redes.
Honda é o 12º e principal reforço do Botafogo para a temporada de 2020.
No clube, o clima era de otimismo total desde a última segunda, quando uma reunião entre as partes praticamente definiu a equação financeira. Como ainda faltavam outras pendências contratuais, o jogador chegou a negar na terça o acerto, que já estava encaminhado desde então. Ele receberá um salário fixo mensal e adicionais por metas alcançadas.
Além disso, o japonês receberá 20% de toda a comercialização de marketing que o clube fizer com ele. Em entrevista à Rádio Brasil, Ricardo Rotenberg, membro do comitê do futebol e VP de marketing do clube, afirmou que Honda vestirá a camisa 4 do Botafogo, mesmo número que usava na seleção japonesa.
O meia de 33 anos traz no currículo passagens por grandes clubes na Europa, como Milan e CSKA, além da presença em três Copas do Mundo. Pela seleção, marcou 37 gols em 98 jogos. O último clube do japonês foi o Vitesse, da Holanda.
Honda com a camisa do Milan — Foto: Marco Luzzani/Getty Images
Em General Severiano, o reforço terá como principais concorrentes outros dois recém-contratados: Bruno Nazário, atual titular e camisa 10, e Gabriel Cortez, equatoriano que vem do Guayaquil City e ainda não foi anunciado.
Honda chega para ser a grande estrela de um Botafogo jovem e que perdeu algumas referências desde a última temporada, como João Paulo, Diego Souza e Gabriel. O jogador será apenas o sexto do elenco acima dos 30 anos de idade. Além dele, Gatito, Carli, Guilherme Santos, Cícero e Diego Cavalieri são os outros veteranos.
Os 33 anos de Keisuke Honda não inibem a euforia do torcedor do Botafogo. Rumo ao oitavo clube na carreira, o veterano japonês coleciona histórias e uma recheada vida empresarial fora dos gramados. Dono de dois times de futebol (um em Uganda e outro no Camboja), o meia já foi treinado por um velho conhecido da torcida botafoguense quando jogava no Milan, Clarence Seedorf, e atuou apenas em quatro jogos na última equipe que defendeu: o Vitesse, da Holanda.
A curta passagem pelo time – após uma frustrada tentativa de se oferecer no Twitter a Manchester United e Milan – se deu por causa da saída de Leonid Slutsky, um mês após a chegada ao clube holandês. Slutsky foi o grande responsável pelo CSKA Moscou pagar 6 milhões de euros ao VVV-Venlo. Na Rússia, atuou com os atacantes Vagner Love e Vitinho entre 2010 e 2013 e conquistou dois Campeonatos Russos e uma Taça da Rússia.
Conheça mais sobre Honda
Keisuke Honda comemora gol do CSKA — Foto: Getty Images
Reportagens lidas pelo GloboEsporte.com, que falam sobre o período em que Honda esteve na Rússia, afirmam que o meia não foi tudo aquilo que poderia ser. Sempre pronto para brilhar em grandes jogos, o japonês aparentava desinteresse por partidas de menor porte, principalmente após a Copa do Mundo de 2010. Segundo uma matéria do site “Russian Football News”, a impressão dos torcedores na temporada 2011/2012 era de que Honda não atuava pelo time, mas sim por ele mesmo. Alguns relatos afirmam que, em quatro anos, o jogador compareceu em apenas duas confraternizações do time.
Mas a carreira começou, mesmo, no Japão. Em sua terra natal, chegou a atuar na base do Gamba Osaka, mas foi dispensado e depois rumou para o Nagoya Grampus. Lá, jogou com os atacantes Luizão e Marques e permaneceu até ser negociado com o VVV Venlo, da Holanda, em 2008. Ao chegar na Europa, foi rebaixado, mas seguiu na equipe e foi o responsável pela conquista da segunda divisão. O título rendeu 16 gols em 37 jogos a Honda e o apelido de Keiser Keisuke (Imperador Keisuke).
Seleção e experiência mexicana
Foi atuando pelo Vitesse que Honda recebeu a primeira convocação para a seleção do Japão. Hoje, se diz aposentado, mas deseja disputar os Jogos Olímpicos, que serão em Tóquio, no meio deste ano. É o artilheiro nipônico em Copas do Mundo (4), quarto maior artilheiro da história da seleção (31) e nono jogador com mais partidas pelo Japão (98).
Gol de Honda em Japão x Senegal na Copa do Mundo de 2018 — Foto: Mike Hewitt/FIFA/Getty Images
A aposentadoria do meia se deu depois da eliminação para a Bélgica nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2018, a terceira da carreira. Durante a competição, Honda chegou a dizer que Pelé foi sua inspiração ao ver jogos do Rei com seis anos. Tido como uma das peças-chave antes do torneio, Honda passou a ser considerado um talismã, já que deu uma assistência decisiva no primeiro jogo e marcou o gol de empate contra Senegal no segundo.
Neste período, o meia atuava pelo Pachuca, do México. Pelo clube norte-americano, Honda marcou 13 gols em 36 partidas e deixou uma ótima impressão. Na única temporada que disputou, marcou um golaço enfileirando quatro jogadores e também participou do time que perdeu para o Grêmio na semifinal do Mundial de Clubes de 2017. O jornalista Javier Sanchez, que cobriu a equipe no período, tem boas recordações do japonês por lá e, quando perguntado sobre pontos negativos, negou que houvesse, o que indica uma maturidade em relação aos tempos de Rússia.
– É um jogador muito criativo e disciplinado. Sempre chegava mais cedo e tem um preparador físico específico para ele. No campo, sabia ser líder e passava muita confiança aos jogadores jovens. Apesar de ser um jogador veterano, corria por todo o campo e era muito comprometido. Quando Honda saiu, demorou algumas partidas para que os jogadores se entendessem. Honda não falava espanhol, mas o idioma não era necessário para que seus companheiros captassem as ideias que ele trazia do Milan e toda a experiência internacional.
Relação com Seedorf
A contratação de Honda entra para a lista de negociações surpreendentes do futebol brasileiro e do Botafogo, que há sete anos fez outra, a do meia Clarence Seedorf. E a história dos dois se cruzou na temporada 2013/2014, quando o holandês deixou as chuteiras para ser treinador.
Fora das quatro linhas
Honda tem uma vida bem ativa quando o assunto não envolve jogar bola. Fã de um mangá japonês sobre futebol chamado Fantasista, o meia tem uma vertente filantrópica muito forte em sua personalidade. Proprietário de escolinhas de futebol ao redor do mundo desde 2012, ele é dono de dois times, o Bright Stars FC (de Uganda) e o Soltilo Angkor FC (do Camboja), e já foi proprietário de outro na Áustria.
Honda treina a seleção do Camboja — Foto: Reprodução/Instagram
Foi justamente no país asiático em que ele treinou voluntariamente a seleção. Sem receber um tostão pelo trabalho – e sem ter licenças profissionais para isso -, Honda também era embaixador cultural no Camboja. Outro empreendimento interessante do meia é a participação em um fundo de investimentos com o ator Will Smith.
Para o jornalista Tiago Bomtempo, que escreve no blog Futebol no Japão, aqui no GloboEsporte.com, Honda é considerado uma grande personalidade japonesa mesmo entre quem não acompanha esportes. Na opinião dele, é o maior jogador da história do clube, superando Nakata e Nakamura, mesmo não sendo melhor que eles tecnicamente.
– Gosto do “espírito pioneiro” de Keisuke Honda. Ele é fora dos padrões e pensa diferente. Um cara que comprou um time na terceira divisão da Áustria, que abriu uma escolinha de futebol no Camboja… Como ele mesmo se intitula, “jogador de futebol, empreendedor e educador”. Nunca foi um gênio do futebol, tanto que foi dispensado na base do Gamba Osaka por ser “comum”. Mas, com muito esforço e persistência, alcançou seus objetivos. Tornou-se o maior jogador japonês desta década e pode-se dizer que carregou a seleção nas costas de 2010 a 2016.
Com um pé esquerdo maior que o direito, o meia tem histórico esportista na família. Seu irmão mais velho foi jogador de futebol, mas não teve o mesmo sucesso e hoje é agente do atleta de 33 anos. Um tio-avô de Honda chegou a representar o país nas Olimpíadas de Tóquio, mas na canoagem, em 1964. Levar o nome da família em mais uma edição dos Jogos parece ser a grande motivação da carreira do jogador, que não esconde o desejo. Se dará certo, só o tempo dirá. (Globo Esporte)