Motociata de Jair Bolsonaro no trajeto do Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, ao Grande Templo da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, em Cuiabá, na terça-feira, 19 deste abril da descoberta do Brasil seria propaganda eleitoral extemporânea se a Justiça Eleitoral efetivamente funcionasse. Porém, o presidente não deverá responder judicialmente por seu passeio em pleno horário de expediente, esbanjando dinheiro público na estruturação do ato faltando menos de seis meses para a eleição. Bolsonaro sobre duas rodas poderia ser tema deste artigo, mas não é. Focalizo a conduta da Igreja Evangélica Assembleia de Deus e o político em busca da reeleição ao Planalto.
A legislação eleitoral é complexa e suas decisões são demoradas. Estamos na terra do deputado estadual Carlos Avallone (PSDB) cassado por crime de abuso de poder e caixa 2, e do deputado federal Carlos Bezerra (MDB) cassado por manter comitê de campanha paralelo. Os crimes, segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) foram cometidos na campanha em 2018, portanto há praticamente quatro anos.

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Avallone, Bezerra e TRE à parte. Vamos ao Grande Templo da Igreja Evangélica Assembleia de Deus.
Igreja não é palanque, mas presenciamos incontáveis vezes pastores fechando apoio a esse ou aquele candidato. Igreja não é balcão de negócios, mas nacionalmente o bispo Edir Macedo e o apóstolo Valdemiro Santiago insistem em nos mostrar o contrário. O contexto das negociatas chegou ao poder. Recentemente o Brasil foi sacudido pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que coabitavam no Ministério da Educação vendendo facilidades para liberação de recursos a municípios.
Em Cuiabá, o Grande Templo da Assembleia de Deus com a morte de seu vice-presidente pastor Rubens Siro de Souza, de 68 anos, em 3 de julho de 2020, e do seu presidente pastor Sebastião Rodrigues de Souza, aos 89 anos, cinco dias depois, ambos por covid, houve um vácuo de direção – é bom observar que Sebastião era pai de Siro. Não houve entendimento entre pastores pela liderança da igreja e a questão foi parar às barras da Justiça na 9ª Vara Cível da Capital – foi a judicialização do poder evangélico. Em novembro de 2021 a distribuidora de energia Energisa acusou o Grande Tempo de furto de energia, o famoso gato – fato extremamente grave.
O mesmo Grande Templo que enche corações evangélicos de orgulho no melhor sentido da palavra, pela magnitude de sua arquitetura e múltipla funcionalidade escreve uma página de história evangelizadora e paralelamente a ela, sem nunca a assumir e jamais sem sofrer questionamento, uma página do poder pelo poder, como a ação judicial nos sinalizou.
Assuntos internos do Grande Templo, como o nome sugere, são dele. Porém, a abertura de sua porta para receber Bolsonaro e seus seguidores diz respeito a todos.
Portas abertas a Bolsonaro no Grande Templo nesse momento é algo tão inconcebível quanto sua motociata. Pena que nessa quadra da nacionalidade o Ministério Público Eleitoral e a Justiça Eleitoral façam vistas grossas ao ronco das motos que sugam dinheiro público e promovem desigualdade na disputam presidencial. Pena que aos percalços de sua trajetória o Grande Templo da Igreja Evangélica Assembleia de Deus junte ainda a vergonha de sua partidarização.

*EDUARDO GOMES DE ANDRADE  é jornalista e escritor em Mato Grosso. E editor de Boamidia

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