Bicampeã olímpica, Caster Semenya teve de conviver desde cedo com o preconceito. A sul-africana de 31 anos, que produz naturalmente maior quantidade de testosterona que a média feminina, teve de provar várias vezes aos oficiais do atletismo que é uma mulher. Nesta semana, ela revelou que ofereceu mostrar a vagina aos chefes da Confederação Internacional de Atletismo (World Athletics) para poder competir quando tinha 18 anos.
– Eles pensaram que eu tinha um p**, provavelmente. Eu disse a eles: “Está tudo bem. Eu sou mulher, não me importo. Se você quiser ver que eu sou uma mulher, eu vou te mostrar minha vagina. Tudo bem?” – contou Semenya, em entrevista ao “HBO’s Real Sport”, referindo-se a uma espécie de teste de feminilidade adotado entre 1960 e 1990.
A sul-africana foi submetida a vários testes de gênero durante sua carreira que comprovaram que ela é tem Hiperandrogenismo, um distúrbio caracterizado pelo excesso de andrógenos como testosterona e que afeta principalmente mulheres intersexuais, como Semenya. Seguindo as regras da World Athletics, a atleta passou a tomar medicamentos em 2011 para baixar os níveis de testosterona.
– Isso me deixou doente, me fez ganhar peso, ataques de pânico, não sei se algum dia teria um ataque cardíaco. É como se esfaquear com uma faca todos os dias. Mas eu não tive escolha. Tinha 18 anos, queria correr, queria chegar às Olimpíadas, essa era a única opção para mim – disse a sul-africana.
Semenya chegou às Olimpíadas e venceu os 800m rasos em Londres 2012 e na Rio 2016. No entanto, uma mudança em 2018 nas regas da World Athletics para mulheres com diferenças de desenvolvimento sexual (DSD na sigla em inglês) tirou a sul-africana dos Jogos de Tóquio. Ela teria de tomar medicamentos para baixar ainda mais seus níveis de testosterona se quisesse seguir competindo nas provas entre 400m a uma milha (1.609m), sua especialidade. Semenya recorreu na Corte Arbitral do Esporte (CAS) e no Tribunal Federal Suíço, mas perdeu a disputa judicial. (GE)