Oito jogadores investigados na Operação Penalidade Máxima foram julgados nesta quinta-feira pela 4ª Comissão Disciplinar do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e receberam punições diferentes por causa de envolvimento em esquema de apostas esportivas.

Os jogadores ouvidos e julgados nesta quinta-feira foram: Matheus, sem clube, Paulo Miranda, sem clube, Igor Cariús, do Sport, Moraes, hoje no Aparecidense-GO, Gabriel Tota, do Ypiranga-RS, Fernando Neto, do São Bernardo-SP, Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino, e Eduardo Bauermann, do Santos.

O zagueiro Eduardo Bauermann, um dos principais investigados na Operação Penalidade Máxima I e II, chorou ao ouvir o voto da relatora para uma punição de 12 jogos. Mesmo com a pena “curta”, o jogador continua afastado dos treinamentos do Peixe enquanto aguarda o andamento do caso na Justiça comum. Ele foi um dos quatro atletas que compareceu ao julgamento no Rio de Janeiro.

O lateral-esquerdo Igor Cariús, ex-Cuiabá e hoje no Sport, teve denúncia rejeitada. Os advogados do atleta contestaram as provas apresentadas pelo MP-GO para terem efeito no julgamento desportivo, o que foi uma tônica do julgamento desta quinta.

As maiores punições foram para Gabriel Tota, ex-Juventude, banido e com multa de R$ 50 mil, e Matheus, ex-Sergipe, que está sem clube – banido e com multa de R$ 15 mil. Paulo Miranda foi punido com 1.000 dias e multa de R$ 70 mil. Para os auditores, os jogadores se envolveram no esquema e aliciaram outros atletas.

Veja, abaixo, a punição a cada um dos jogadores ouvidos nesta quinta-feira:

  • Moraes (Aparecidense-GO): 760 dias e R$ 55 mil;
  • Gabriel Tota (Ypiranga-RS): banimento e R$ 30 mil;
  • Paulo Miranda (sem clube): 1.000 dias e R$ 70 mil;
  • Eduardo Bauermann (Santos): 12 jogos;
  • Igor Cariús (Sport): absolvido;
  • Fernando Neto (São Bernardo): 380 dias e R$ 15 mil;
  • Matheus Gomes (sem clube): banimento e R$ 10 mil;
  • Kevin Lomónaco (Bragantino): 380 dias e R$ 25 mil.

 

Jogadores em sala do STJD para julgamento da Operação Penalidade Máxima — Foto: Raphael Zarko

Jogadores em sala do STJD para julgamento da Operação Penalidade Máxima — Foto: Raphael Zarko

Os oito atletas foram denunciados pela Procuradoria em diferentes artigos do CBJD. No caso de Moraes, Paulo Miranda, Igor Cariús, Fernando Neto, Kevin Lomónaco e Eduardo Bauermann, as punições previstas (de acordo com os artigos abaixo) eram: suspensão de até 720 dias; suspensão de seis a 12 jogos; multa que, de forma cumulativa, pode atingir até R$ 300 mil.

Durante o julgamento, porém, a auditora-relatora Adriene Hassen do caso desqualificou a denúncia da procuradoria em relação a Eduardo Bauermann e enquadrou o jogador do Santos apenas no Artigo 258 do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que fala em “assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada pelas demais regras deste Código.”

Operação penalidade máxima: GE teve acesso aos depoimentos de atletas acusados

Art. 191. Deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento:

III – de regulamento, geral ou especial, de competição

Art. 243. Atuar, deliberadamente, de modo prejudicial à equipe que defende.

§ 1º Se a infração for cometida mediante pagamento ou promessa de qualquer vantagem, a pena será de suspensão de trezentos e sessenta a setecentos e vinte dias e eliminação no caso de reincidência, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Art. 243-A. Atuar, de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida, prova ou equivalente.

Art. 242. Dar ou prometer vantagem indevida a membro de entidade desportiva, dirigente, técnico, atleta ou qualquer pessoa natural mencionada no art. 1º, § 1º, VI, para que, de qualquer modo, influencie o resultado de partida, prova ou equivalente.

Art. 243. Atuar, deliberadamente, de modo prejudicial à equipe que defende.

§ 2º O autor da promessa ou da vantagem será punido com pena de eliminação, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).

O zagueiro Kevin Lomónaco, do Bragantino, e o lateral Moraes, que compareceu ao tribunal no julgamento desta quinta, fizeram um acordo com o Ministério Público e se tornaram testemunhas do caso. Decisão que diz respeito à investigação fora do âmbito esportivo. Entre os oito jogadores que serão julgados, o único que ainda estava em ação pelo seu clube antes do afastamento do STJD era Igor Cariús, no Sport, mas ele foi absolvido nesta quinta-feira.

Técnico da Aparecidense há um ano, Moacir participou do início dos depoimentos como testemunha de Moraes. Ele disse que o jogador assumiu a culpa e merece ter outra chance.

– Eu tenho 22 anos de profissão e fui procurar no mercado informações sobre ele antes da contratação. Todos foram unânimes em dizer que ele é excelente jogador e pessoa. Foi vítima de aliciadores. Muitas vezes são pessoas que se aproxima, que vão cortar cabelo do atleta. Mas eu vejo que ele se arrependeu muito. Ele é réu primário.

– Ficamos assolados de duas formas negativamente. Perdemos o atleta e perdemos o convívio com ele. Ele ficou muito abatido com a suspensão. Pessoas do mal acabam interferindo, mas eu queria dar esse relato. Ele errou ao ser aliciado e não ter embasamento para procurar pessoas que pudessem o orientar a não cometer o ato. Ele errou, consentiu e se arrependeu – disse o treinador.

– Na apresentação dele ao clube, ele pediu aos companheiros que tivessem o máximo de cuidado com isso. Tenho certeza que ele não voltaria a cometer nenhum ato próximo disso – acrescentou o técnico de Moraes, que recebeu pena de 760 dias e R$ 55 mil;

Entenda o caso

O Ministério Público de Goiás fez uma nova denúncia sobre manipulação de jogos no futebol brasileiro. Estão sob investigação partidas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro de 2022, além de confrontos dos estaduais que aconteceram neste ano.

As informações foram publicadas pela Veja. São pelo menos 20 partidas sendo analisadas pelo MP. A nova denúncia ainda não teve resposta da Justiça, mas foi feita a partir da busca e apreensão de equipamentos em fases anteriores da Operação Penalidade Máxima.

Os clubes e casas de apostas são tratados como vítimas.

Os casos investigados envolvem apostas para lances como punições com cartões amarelo ou vermelho e cometer pênaltis. Bruno Lopez de Moura, apostador que havia sido detido na primeira fase da operação, é visto pelo MP como líder da quadrilha no esquema de manipulação de resultados. Outras 16 pessoas podem virar réus no caso.

Na fase anterior da operação, alguns jogadores foram alvos de uma operação de busca e apreensão: os zagueiros Victor Ramos, da Chapecoense, Kevin Lomónaco, do Bragantino, Paulo Miranda, ex-Juventude, e Eduardo Bauermann, do Santos, os laterais-esquerdos Igor Cariús, do Sport, e Moraes, ex-Juventude e hoje no Atlético-GO, e o meia Gabriel Tota, ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS.

Na fase atual, foram adicionados os nomes dos volantes Fernando Neto, ex-Operário-PR e hoje no São Bernardo, e Nikolas, do Novo Hamburgo-RS, e do atacante Jarro Pedroso, do Inter-SM.

O MP-GO pede a condenação do grupo envolvido na manipulação, além do ressarcimento de R$ 2 milhões aos cofres públicos por danos morais coletivos, ainda segundo a Veja.

Entre os detalhes obtidos nesta investigação do MP-GO estão os valores oferecidos para que os jogadores fizessem os atos previstos nas apostas. Veja abaixo quais são:

  • Palmeiras 2 x 1 Juventude

 

Foram oferecidos R$ 30 mil para que Moraes, lateral-esquerdo do Juventude, recebesse cartão amarelo. R$ 5 mil foram pagos antes do jogo. O atleta terminou de fato advertido.

  • Juventude 1 x 1 Fortaleza

 

Promessa de pagamento de R$ 60 mil, com R$ 5 mil depositados antes do jogo para que Gabriel Tota, atleta do Juventude, fizesse a transferência ao zagueiro Paulo Miranda, a fim de que ele fosse punido com amarelo, como ocorreu no jogo.

  • Goiás 1 x 0 Juventude

 

Promessa de pagamento de R$ 50 mil, sendo R$ 20 mil antes do jogo, para que o lateral-esquerdo Moraes levasse amarelo.

No mesmo jogo, também havia o combinado de se pagar R$ 50 mil, sendo R$ 10 mil antes do jogo, para que Paulo Miranda levasse amarelo. Romário Hugo dos Santos fez este pagamento à conta de Gabriel Tota, responsável pelo repasse ao zagueiro.

  • Ceará 1 x 1 Cuiabá

 

Promessa de pagamento de valor total incerto, mas R$ 5 mil foram entregues a Igor Cariús, do Cuiabá, antes do jogo, para que ele levasse o cartão amarelo. Ele levou a advertência e ainda teve um segundo cartão, que ocasionou sua expulsão.

  • Red Bull Bragantino 1 x 4 América – MG

 

Pagamento de R$ 70 mil, sendo R$ 30 mil antes do jogo para que o zagueiro do Bragantino Lomónaco levasse o cartão amarelo, como de fato aconteceu.

  • Cuiabá 1 x 1 Palmeiras

 

Pagamento de R$ 60 mil para que Igor Cariús levasse o cartão amarelo.

  • Sport 5 x 1 Operário

 

No jogo da Série B do Brasileirão passado, a promessa era de pagamento de R$ 500 mil, sendo R$ 40 mil pagos antes da partida para Fernando Neto, jogador do Operário, levar o cartão vermelho. Ele não foi expulso do jogo.

  • Guarani 2 x 1 Portuguesa

 

Promessa de pagamento de R$ 100 mil, para que Victor Ramos, da Portuguesa, cometesse um pênalti. Como Bruno, Ícaro e Zildo, três dos denunciados pelo MP, aparentemente não encontraram jogadores para manipular resultados na mesma rodada do Paulistão deste ano, não houve depósito antecipado, nem aposta no jogo.

  • Portuguesa 3 x 0 Bragantino

 

Promessa de pagamento de R$ 200 mil para que Lomónaco, zagueiro do Bragantino, cometesse um pênalti no primeiro tempo. Ele não aceitou.

  • Esportivo 0 x 0 Novo Hamburgo

 

Promessa de pagamento de R$ 80 mil, sendo R$ 5 mil depositados antes do jogo para que Nikolas, do Novo Hamburgo, fizesse um pênalti no jogo do Campeonato Gaúcho deste ano. Ele cometeu a penalidade.

  • Caxias 3 x 1 São Luiz

 

Pagamento de R$ 70 mil, sendo R$ 30 mil depositados antes da partida para que Jarro, do São Luiz, cometesse um pênalti no primeiro tempo do jogo do Campeonato Gaúcho de 2023. Ele fez a falta aos 15 minutos de jogo e pediu para ser substituído aos 28.

O que é a operação Penalidade Máxima?

 

As investigações começaram no final do ano passado, depois que o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Ele recebeu um sinal de R$ 10 mil, e só teria os demais R$ 140 mil após a partida. Como não foi relacionado, tentou cooptar colegas de time – sem sucesso.

A história então vazou e o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, ele próprio um policial militar, investigou o caso e entregou as provas para o Ministério Público de Goiás. A primeira denúncia, feita há dois meses, indicava que havia três jogos suspeitos na Série B do ano passado. Mas, como o ge publicou, havia a suspeita de muito mais jogos, em várias competições, o que faria a operação se tornar nacional. Foi o que aconteceu. As suspeitas agora chegaram à Série A.

Oito jogadores de diferentes clubes foram denunciados pelo Ministério Público e viraram réus por participarem do suposto esquema.

São eles: Romário (ex-Vila Nova), Joseph (Tombense), Mateusinho (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Ituano), Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã) e Paulo Sérgio (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário-PR).

Eles estariam envolvidos no esquema de cometer pênaltis no primeiro tempo dos jogos Vila Nova x Sport, Criciúma x Tombense e Sampaio Corrêa x Londrina. Isso só não aconteceu na partida entre goianos e pernambucanos, já que Romário e Gabriel Domingos não jogaram. (GE)