São quase meio milhão de mortes desde o início da pandemia e em meio a tantos ruídos políticos, a medicina não pode deixar abafar suas finalidades precípuas, ou pior, quedar-se silente.

Tratamento precoce e kit-Covid sendo usados como discurso político; vacinação em ritmo lento; não utilização de máscaras; aglomerações; negacionismo de todo gênero, basta! E o pior: colegas sendo alvo de agressões, ameaças, calúnias, apenas por externar suas convicções.

O espetáculo mambembe patrocinado no Congresso Nacional, além de totalmente desrespeitoso para com uma profissional da medicina, expôs o machismo que lamentavelmente ainda está muito presente na nossa sociedade.

Para além das pataquadas do Executivo, é um triste retrato desta politização que não fosse inútil, impertinente e desarrazoada acaba por atrapalhar. Autêntico desserviço. Só serve para desviar a atenção enquanto deveriam canalizar para efetivas soluções que digam respeito a imprescindível, por exemplo, a vacinação em massa. O resto é resto e pirotecnia.

Há 16 meses nós médicos e profissionais da saúde estamos exaustos, não só pela rotina extenuante do combate da pandemia, mas principalmente, com a disputa política, sórdida e covarde, que se faz de lado-a-lado, enquanto vidas perecem. Não se justificam discursos de quaisquer viés ou matizes ideológicas – pura perda de tempo -, quando parecem esquecer que a função do médico é salvar vidas e quando não conseguimos salvar, pelo menos acolher e consolar.

Discursos políticos – repito – de qualquer coloração são vazios e não passam do verbo; quando o agir deve prevalecer na busca dos resultados e objetivos da medicina.

Que fique claro: uma coisa é a liberdade e autonomia que o profissional médico tem para, na sua soberania, exercer o seu ministério. Algo bem diferente é deixar se contaminar por propósitos não técnicos e de carregado subjetivismo, geralmente com (pseudo-) argumentos.

Sejamos técnicos, foquemos no que realmente importa, lutar por melhores condições de trabalho, estrutura mais digna, por mais vacinas, por mais ciência e que tenhamos como finalidade primeira a cura dos nossos pacientes e o controle da pandemia.

É um propósito para cuja missão pedimos a Deus força, muita vontade, fé e firmeza de resolução.

Mais vacina, menos ódio! Vacina sim, vacina já!

(*) NATASHA SLHESSARENKO é médica pediatra e patologista e representa Mato Grosso no Conselho Federal de Medicina (CFM)