Para uma equipe de biólogos da Universidade Maria Curie-Sklodowska, na Polônia, a descoberta de pequenas colheres nos cintos de guerreiros bárbaros sugere que eles usavam drogas estimulantes para se preparar para as batalhas. O consumo de narcóticos, como o ópio, já é bem documentado na Grécia e em Roma, mas a – até então – falta de evidências mantinha lacunas sobre o emprego de substâncias psicoativas pelos povos bárbaros.

Os pesquisadores chegaram à conclusão após identificarem 241 peças arqueológicas no formato. Elas tinham alças com 40 a 70 mm de comprimento, uma parte côncava e um disco plano de 10 a 20 mm de diâmetro. Você pode ver desenhos dos objetos abaixo.

Ferramentas bárbaras provavelmente usadas para o consumo de drogas — Foto: Jarosz-Wilkołazka et.al/Praehistorische Zeitschrift
Ferramentas bárbaras provavelmente usadas para o consumo de drogas — Foto: Jarosz-Wilkołazka et.al/Praehistorische Zeitschrift

Os objetos estavam em 116 sítios arqueológicos romanos, espalhados pela Escandinávia, Alemanha e Polônia, próximas a itens de guerra.

Segundo os especialistas, ao longo da história, as drogas serviram para motivar os soldados a aumentar os seus esforços, bem como reduzir o estresse e o medo causados pela guerra. Assim, os guerreiros podem ter usado esses objetos como instrumentos de medição para consumir uma dose “certa” da substância, isso é, que produzisse os efeitos desejados, sem o risco de uma overdose.

Estímulos em meio à guerra

A partir da análise dos objetos, a equipe passou a tentar identificar quais estimulantes poderiam estar disponíveis para as comunidades germânicas do período romano. Esse estudo rendeu um artigo na revista científica Praehistorische Zeitschrift, publicado na semana passada.

De acordo com os cientistas, a hipótese mais plausível é que as substâncias psicoativas utilizadas vinham de espécies coletadas localmente ou transportadas na forma seca de lugares mais distantes. Isso poderia incluir, por exemplo, papoula, lúpulo, cânhamo, meimendro, beladona e fungos.

O artigo conclui que o uso desses estimulantes pelos povos germânicos do norte da Europa pode ter sido extensivo durante, sobretudo, os conflitos militares do período romano. Além disso, eles observaram que fornecer a quantidade e o tipo de estimulantes necessários exigiria conhecimento e organização consideráveis.

“Parece que a conscientização sobre os efeitos de vários tipos de preparações naturais no corpo humano implicou no conhecimento de sua ocorrência, métodos de aplicação e o desejo de usar conscientemente essa riqueza para outros fins”, escrevem os autores. Além da guerra, eles indicam que os estimulantes provavelmente tinham um papel medicinal e ritualístico

(Por Arthur Almeida)