Neste sábado (02.04),  Dia Mundial de Conscientização do Autismo, é uma data de reflexão que representa a luta de muitas famílias dentro do espectro autista. Combater o preconceito, a desinformação diante do tema e a busca por políticas públicas que garantam à pessoa com autismo um ambiente adequado para seu desenvolvimento e a inserção na escola e mercado de trabalho são alguns dos desafios.

Richard Hanna é pai de Gabriel, de 10 anos que está dentro do espectro autista, e ele conta que as dificuldades estão em todos os lugares, inclusive, para que os direitos da pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista) sejam garantidos. Ele lembra que em dezembro de 2020, junto com a sua esposa Luciana, mãe de Gabriel, e o filho foram impedidos de embarcar no aeroporto Marechal Rondon, em um avião da TAM, porque o seu filho não estava usando máscara, que é facultativo as pessoas dentro do espectro por meio de uma lei federal.

“Foi muito difícil, era a nossa primeira viagem de férias com Gabriel e íamos para São Paulo. Preparamos ele uma semana antes, mostrando como é o aeroporto, como era dentro do avião para que ele tivesse a previsibilidade do que ia acontecer. E não conseguimos embarcar naquele dia, mesmo apresentando o laudo, comprovando a condição do meu filho. E eles disseram desconhecer essa lei que não havia sido repassada pela Anac. Não embarcamos naquele dia, ficamos das 11h às 17h, eu ficava com Gabriel para ele não desregular diante do imprevisto e a Luciana correndo para fazer valer nossos direitos. Tivemos ajuda do pessoal do Procon e saímos dali até termos a garantia de que no outro dia embarcaríamos”, relata Richard que, em 2021, em processo contra a empresa recebeu R$ 30 mil de indenização por conta do episódio.

“A minha esposa Luciana morreu em 2021 e hoje sou só eu cuidando do nosso filho e os desafios são muitos. A gente vê vários locais (supermercado e aeroporto) com o símbolo do autismo, mas não sabem os direitos que os autistas têm. Só está ali para mostrar que está engajado, mas tem que conhecer o que significa. Já estive em fila preferencial e o pessoal fica olhando como se procurando achar alguma deficiência aparente. Também temos muita dificuldade na educação, em escolas e clínicas públicas pela falta de capacitação”, aponta o pai de Gabriel, que é uma criança dentro do espectro não-verbal e ainda não lê e nem escreve.

A dificuldade não está apenas em acesso à educação e tratamento voltados para crianças dentro do espectro. Até porque elas se tornam adultos e os desafios continuam. Conforme dados do IBGE, 85% dos adultos com autismo estão fora do mercado de trabalho, mesmo com leis específicas que obrigam as empresas com mais de 100 funcionários a incluírem pessoas com algum tipo de deficiência em seu quadro.

É por isso que a psicóloga especialista em autismo, Jaqueline França, afirma que a data 2 de abril é muito importante para dar visibilidade à neurodiversidade. Ou seja, a forma de processar diferente, explicar, compreender o mundo, sob o aspecto de uma pessoa neurodiversa, sejam vistas e valorizadas como uma forma de ser e que precisa acontecer todos os dias.

“E assim, cada vez mais as pessoas compreendam o processamento de pessoas dentro do espectro. É uma data para nós gritarmos para que elas pertençam, para nós pensarmos de que forma elas podem ter de bem-estar e desenvolver todo o seu potencial, auxiliando para que pessoas com autismo sejam inseridas na sociedade. E que elas sejam incluídas porque inclusão não é só estar. Inclusão é pensar em políticas e políticas públicas, educacionais e sociais, para essa pessoa”, finalizou a profissional.

LUTA PELA CAUSA 

A advogada especialista em Direito da Saúde, Mayara Cintra Rosa, tem um filho de quatro anos que também está dentro do Espectro Autista e teve diagnóstico com aos dois anos de idade. Para ela, é uma luta diária em busca da inclusão, por direitos cerceados, para que o filho seja visto pelos olhos da sociedade.

“Ser mãe atípica é uma luta diária. É luta contra o plano de saúde, é luta contra os direitos cerceados na educação, é luta pela redução de jornada. Cada dia uma luta nova. É muito complicado, é sofrido, tem dias que a gente chora, tem que dia a gente fica com raiva. Mas, ao mesmo tempo, tudo vale a pena por conta dos nossos filhos e por nossos filhos”.

Neste sentido, Mayara acredita que muito antes de se falar em inclusão, é preciso entender sobre e aprender sobre as diversidades. “A partir do momento que as pessoas aprenderem sobre o autismo, elas vão poder falar sobre inclusão. Para mim, não só como mãe atípica, mas como profissional que atuo nessa área, é muito difícil a gente ver todos os dias os direitos dessas crianças serem cerceados e todos os dias termos que buscar que nossos filhos tenham os melhores tratamentos, todo dia lutar para que a lei seja cumprida”, finaliza.