O Campeonato Brasileiro 2021 vai ser histórico. Pela primeira vez os times terão um limite de troca de treinadores durante o andamento da competição – apenas uma, com dois técnicos efetivos diferentes. Além disso, os próprios técnicos só poderão dirigir duas equipes ao longo do torneio. Com isso, a habitual festa de rodízios nos comandos dos clubes irá diminuir, trazendo efeitos diretos para os trabalhos desempenhados.

Se a regra existisse desde o início do Brasileirão dos pontos corridos, os times teriam feito apenas 56% das mudanças de comando técnico. De 2003 para cá, os clubes da Série A realizaram 499 trocas de treinadores. Deste número, teríamos uma redução de 220 na quantidade de mudanças ou 44% a menos. Ou seja, a rotatividade dos técnicos seria muito menor na elite do futebol brasileiro.

Diante dessa medida adotada pela CBF e aprovada com uma votação apertada de 11 a 9 pelos clubes da Série A, o Espião Estatístico preparou um levantamento com os times que mais trocaram de treinador em cada edição do Brasileirão de pontos corridos, desde a primeira, em 2003, até a última, em 2020. Veja abaixo o ranking:

Times recordistas de trocas de treinadores em cada edição do Brasileirão de pontos corridos

AnoClubesNúmero de trocas
2020Botafogo4
2019Cruzeiro e Chapecoense3
2018América-MG e Sport3
2017Bahia3
2016Internacional3
2015Flamengo, Goiás e São Paulo3
2014Criciúma4
2013Náutico4
2012Atlético-GO4
2011Avaí e Cruzeiro3
2010Avaí, Ceará, Prudente e Vitória3
2009Sport3
2008Figueirense4
2007Paraná4
2006São Caetano4
2005Juventude, Ponte Preta e São Caetano3
2004Guarani4
2003Paraná4

Além do número de trocas desenfreadas, a ‘cultura resultadista’ que impera no futebol brasileiro deixa também outra sequela importantíssima de ser citada: o rebaixamento. Das 28 equipes que aparecem no ranking acima liderando as modificações no comando técnico, 19 acabaram rebaixadas na respectiva edição do Brasileirão. Ou seja, 67,8% dos times que mais demitiram/contrataram treinadores ao longo do campeonato em um ano acabaram amargando o descenso.

Curiosamente, somando todas as edições do Brasileirão de pontos corridos, o time que lidera as trocas, em números absolutos, não aparece no ranking de ano em ano. Com 25 mudanças, o Athletico-PR encabeça a lista geral, com o Flamengo ao seu lado. Atrás dos dois vêm Figueirense, Atlético-MG e Fluminense, com 20.

Se considerarmos os times com mais trocas na média, Prudente e Ipatinga liderariam com 3 mudanças em média. Porém, eles participaram de apenas uma edição nos pontos corridos. Considerando o mínimo de 30% de participação nas 18 edições, a equipe com a maior média é o Fortaleza com 12 trocas em cinco disputas na Série A – uma média de 2,4 trocas por edição.

Veja o ranking com o número total de trocas dos clubes que participaram da Série A de 2003 a 2020:

Times com mais trocas de treinador no Brasileirão dos pontos corridos

TimeTotal de trocas de técnicos no Brasileirão de 2003 a 2020Temporadas na Série AMédia de trocas por edição
Athletico-PR25171,5
Flamengo25181,4
Atlético-MG20171,2
Figueirense20111,8
Fluminense20181,1
Botafogo19161,2
Vasco19151,3
Goiás18131,4
São Paulo18181,0
Vitória18101,8
Corinthians17171,0
Internacional16170,9
Palmeiras16161,0
Coritiba15131,2
Cruzeiro15170,9
Grêmio14170,8
Ponte Preta1491,6
Santos14180,8
Sport14101,4
Bahia1391,4
Paraná1362,2
Chapecoense1262,0
Fortaleza1252,4
Atlético-GO1052,0
Criciúma1042,5
Juventude1052,0
Náutico1052,0
Avaí961,5
Ceará951,8
São Caetano942,3
América-MG732,3
Paysandu632,0
Guarani531,7
Santa Cruz522,5
Ipatinga313,0
Portuguesa331,0
Prudente313,0
América-RN212,0
Barueri212,0
Brasiliense212,0
CSA212,0
Joinville212,0
Santo André212,0
Bragantino111,0

Em meio a demissões, o técnico mais longínquo na Série A nesse momento é Renato Gaúcho, que assumiu o Grêmio em 2016 após a saída de Roger Machado, hoje no Fluminense. Em 2020, o técnico gremista foi um dos três que conseguiram disputar o Brasileirão inteiro no comando de sua equipe ao lado de Jorge Sampaoli, no Atlético-MG, e Guto Ferreira, no Ceará.

Renato Gaúcho técnico Grêmio — Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Renato Gaúcho técnico Grêmio — Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Curiosamente, na última edição, os quatro rebaixados fazem parte dos clubes que mais trocaram de treinadores. O Botafogo, lanterna da competição, foi quem mais mudou. Ao longo do campeonato, o Alvinegro foi comandado por Paulo Autuori, Bruno Larazoni, Ramón Diaz/Emiliano Díaz, Eduardo Barroca e Lucio Flávio. Logo atrás vêm Coritiba e Goiás. O Vasco, por sua vez, encontra-se empatado com outras três equipes na terceira posição.

Veja abaixo o ranking de mudanças de técnico no último Campeonato Brasileiro:

Ranking de trocas de treinadores no Brasileirão 2020

ClubesNúmero de TrocasTreinadores
Botafogo4Paulo Autuori / Bruno Lazaroni / Ramón Díaz e Emiliano Díaz / Eduardo Barroca / Lúcio Flávio (interino)
Coritiba3Eduardo Barroca / Jorginho / Rodrigo Santana / Gustavo Morínigo
Goiás3Ney Franco / Thiago Larghi / Enderson Moreira / Glauber Ramos e Augusto César
Vasco2Ramon Menezes / Ricardo Sá Pinto / Vanderlei Luxemburgo
Corinthians2Tiago Nunes / Dyego Coelho (interino) / Vagner Mancini
Athletico-PR2Dorival Júnior / Eduardo Barros (interino) / Paulo Autuori
Fortaleza2Rogério Ceni / Marcelo Chamusca / Enderson Moreira
Flamengo1Domènec Torrent / Rogério Ceni
Fluminense1Odair Hellmann / Marcão
Palmeiras1Vanderlei Luxemburgo / Abel Ferreira
São Paulo1Fernando Diniz / Marcos Vizolli (interino)
Santos1Cuca / Marcelo Fernandes (interino)
Bragantino1Felipe Conceição / Maurício Barbieri
Internacional1Eduardo Coudet / Abel Braga
Bahia1Mano Menezes / Dado Cavalcanti
Sport1Daniel Paulista / Jair Ventura
Atlético-GO1Vagner Mancini / Marcelo Cabo
Grêmio0Renato Gaúcho
Atlético-MG0Jorge Sampaoli
Ceará0Guto Ferreira

Utilizamos como critério para a contagem apenas trocas efetivas. Interinos que terminam o ano no comando da equipe, ou somam mais de nove jogos e/ou dois meses à frente da equipe entram no cálculo.

Estagiário sob supervisão de Roberto Maleson.

A equipe do Espião Estatístico é formada por: Caio Carvalho, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Leandro Silva, Roberto Maleson e Valmir Storti.  (Globo Esporte)