GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO
Em meio à vastidão da existência, o Ser encontra-se em constante confronto com a tarefa ímpar de escolher. As escolhas, como fios de um destino intricado, entrelaçam-se na teia da vida; e nessa encruzilhada de decisões que se depara com a essência da liberdade.
Em sua magnífica obra “Crime e Castigo”, Dostoiévski contemplou as complexidades morais que acompanham as escolhas humanas. Raskólnikov, protagonista atormentado, representa a dualidade entre a vontade de poder e a consciência. Em cada escolha, sente-se o fardo de ser livre, um fardo que tanto liberta quanto condena.
O “after day” atormenta àqueles que escolheram movidos por ambição, vontade de influência, grupelho etc. Arthur Schopenhauer afirma que as escolhas são subjugadas por uma vontade cega, uma força impulsiva que molda os desejos e ações. A busca incessante pela satisfação dessa vontade, segundo esse pensador, conduz a todos por um caminho de insaciabilidade. As escolhas, então, tornam-se manifestações de uma busca incessante, muitas vezes ilusória, pela plenitude. É próprio de quem não quer submergir, dar lugar, retirar-se de cena; mas, sim, glorificar-se.
Kierkegaard, pensador existencialista, mergulhou nas águas do desespero humano diante das escolhas. Em “O Conceito de Angústia”, Kierkegaard explorou a ansiedade que permeia a liberdade de escolha. Cada decisão, para ele, é um salto no abismo do desconhecido, uma expressão do desespero existencial que acompanha a responsabilidade de definir o próprio destino. Imagine, então, decidir o destino dos outros?
Para Albert Camus, em sua obra “O Mito de Sísifo”, o absurdo da escolha é, sempre, uma dança existencial em um palco indiferente. O instinto de sobrevivência é próprio de quem possui desejo e ambições, conhecedor que manipula e se contorce pela intuição de Ser que morre: velhice boa é a que se prepara para o inevitável, o momento do encontro com a consciência.
Friedrich Nietzsche, em sua busca pela transvaloração dos valores, examinou as escolhas sob a lente da “vontade de potência”. Cada escolha, para Nietzsche, é um ato de afirmar a própria existência, uma expressão da vitalidade que impulsiona a evolução. A vontade de potência é o motor que nos leva a escolher, a transcender e a moldar nosso próprio ser.
As escolhas que permeiam a existência, quando contempladas, desafiam a refletir sobre o potencial de ressurreição interior. Em “Os Irmãos Karamázov”, Dostoiévski apresenta a ideia da ressurreição, um renascimento espiritual que emerge das profundezas do sofrimento e da redenção. As escolhas, mesmo aquelas permeadas pelo pecado e pela queda, podem portar a promessa de uma ressurreição interior.
Assim, no labirinto de escolhas que é a vida, se encontra a verdadeira expressão de liberdade: “a liberdade é a pedra angular de tudo” (idem). Cada escolha é um tijolo na construção da própria existência.
Sob a sombra dos filósofos que contemplam as profundezas da alma humana, e especialmente do cristianismo, todos são instados a abraçar a responsabilidade das escolhas, pois nelas reside a essência da busca por significado no enigma da existência.
Enfim, querer é vontade de potência, menos de poder, salve-se quem puder.
É por aí…
(*)GONÇALO ANTUES DE BARROS NETO tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito, e escreve em A Gazeta (e-mail: antunesdebarros@hotmail.com).
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