Uma formiga não muda; tem sua natureza definida, e não muda. Uma borboleta não muda; tem sua natureza definida, e não muda. Uma cigarra não muda; tem sua natureza definida, e não muda. Quem, dada uma natureza, escolhe mudar? É possível mudar?
Mudam-se as cores, mas nunca a essência. A essência está posta, não se trata de mera aparência de Ser, mas de profundidade.
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Por que não ouvir a Maitê, Regina? A rudeza de Ser de Ser rude não pode prevalecer quando se está em jogo a ‘res’ pública. Sim, é nosso, portanto, queremos saber.
Era costume amar o significado pelo significante. Nunca foi o ideal, mas se tinha amor. Hoje, o significante é amado independente do significado. Não há sentimento para com a essência, mas pelo símbolo.
Seria como amar a pátria, a bandeira, o hino, o brasão e não o povo. Ou mesmo o humanismo e não a humanidade. A aparência de Ser e não a sua essência. Enfim, o representativo invés do representado.
Ao romper as amarras com os valores tradicionais, para antes do século XVII, o modernismo nos legou o individualismo e com ele problemas de difícil superação, sendo o maior deles as posturas favoráveis às decisões breves, simples e sem maiores reflexões, afastando-se da complexidade coletiva.
Passamos à primazia de uma tal ‘razão instrumental’ (Charles Taylor), ou seja, passamos da dinâmica para o imobilismo de um tipo de racionalidade em que se calcula, para qualquer ato ou ação, a aplicação mais econômica dos meios para se alcançar determinado fim. Explico.
É a busca da eficiência, do custo-benefício, do melhor ‘Know how’ nisso ou naquilo etc. Os valores, as pessoas, conceitos, cultura, ética, moral, absolutamente tudo passa a ser matéria prima ou instrumento para os projetos. Aliás, os arquivos de Administração estão cheios, são dezenas, e a existência dos variados deles é a prova de que nenhum é completo o suficiente para dar certo. E a cada dia as cabeças ‘prodígios’ criam mais, a cada novo administrador, uma marca. E mais tempo, salinha de aula, projetos…, não é mesmo?
Se o individualismo nos libertou dos dogmas religiosos e políticos, também nos meteu numa enrascada, a ‘jaula de ferro’ de Weber ou o ‘despotismo suave’ de Tocqueville (fonte: A Ética da Autenticidade, de Taylor).
Ambos os citados pensadores se aperceberam da perda de liberdade e participação, culminando no reducionismo e amesquinhamento dos espaços públicos de tomadas de decisões, com o individualismo. Vale dizer, uma alienação da esfera pública com a consequente perda de controle político por parte dos cidadãos. E como isso acontece?
O cidadão e a cidadã passam a privilegiar a si próprios e o conforto de um lar, de uma convivência intrafamiliar, deixando o espaço político para o governante, ou as estruturas de poder aquarteladas no Estado, desde que os mantenham nessa paz e zona de conforto, ainda que mediocrizada. Não percebem que perderam liberdade e legitimidade, são tutelados por grupelhos, e as coisas que seriam determinadas por outros critérios passam a ser decididas em termos de ‘eficiência’, ‘de custo-benefício’, de maximizar a produção.
Não precisamos de maiores reflexões para percebermos que, assim ficando, a cultura, a moral e ética consolidadas, a humanidade, as pessoas em si, não serão importantes. Não estarão na prioridade; e o que é pior, serão consideradas um estorvo.
Desse modo, morrer e sobreviver passa a ser um dado econômico, igual a percepção de Esparta e seus uniformes e músculos frente a uma Atenas com seus delírios de pensamentos e artes.
É de se pedir, por fim: converse com Maitê, Regina, precisamos de você!!!
É por aí…
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (SAÍTO) é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá.
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