O empate do Botafogo em 1 a 1 com o Flamengo com gols marcados no fim do jogo terminou com polêmicas. Após o apito final de Leandro Pedro Vuaden, Paulo Autuori foi conversar com o árbitro para – segundo o treinador – entender o critério adotado na marcação do pênalti.

Em entrevista coletiva depois do jogo, o técnico alvinegro questionou o motivo de a arbitragem ter sido chamada pelo VAR para assinalar o toque no braço de Marcelo. Durante a resposta para falar sobre o lance (você confere ela completa no fim da matéria), Autuori questionou a conjuntura do futebol brasileiro e afirmou que as atitudes contrárias ao Botafogo são suspeitas.

– Em nenhum momento, em nenhuma derrota eu justifiquei com erros de arbitragem. Justifico com falta de eficiência ou eficácia da equipe que eu trabalho. Hoje nós fomos eficientes, fomos eficazes porque fizemos o gol, mas não conseguimos sair com a vitória. Nada a falar com relação à arbitragem e à interpretação. E tudo a falar sobre a conjuntura do futebol brasileiro. É muito fraca e é suspeita. Porque as coisas acontecem sempre da mesma maneira. Chega um momento que cansa.

Sem apresentar provas, Autuori também questionou o que considera recorrentes erros de arbitragem contrários ao Botafogo. Segundo o treinador,

– Então não adianta ter VAR. Porque, quem interpreta isso? A gente vai continuar no tema da interpretação e na hora da interpretação sempre as mesmas equipes são favorecidas (…) Aqui no Brasil, infelizmente, na conjuntura do futebol brasileiro toda hora vão reclamar dentro da CBF e fazer cartas, como se isso adiantasse alguma coisa. O que adianta é trabalho e transparência. Porque no momento de decidir e interpretar, a interpretação tem sido contra o Botafogo, claramente. Se algum dirigente nosso tem dificuldade por falar isso por receio, eu não tenho nenhuma.

Com o resultado, o Botafogo se manteve na oitava colocação, com seis pontos. Mas ainda pode ser ultrapassado pelos times que completam a rodada. O próximo jogo será pela partida de volta da terceira fase da Copa do Brasil, contra o Paraná. O duelo está marcado às 19h no Durival Britto, em Curitiba. Por ter vencido o primeiro jogo por 1 a 0, o Bota tem a vantagem do empate. No Brasileirão, o time de Autuori volta a campo no próximo sábado, quando recebe o Internacional, às 16h no Nilton Santos, pela sexta rodada.

– Estamos construindo uma equipe e espero que possamos sempre dar passos à frente de maneira sólida para que não tenhamos retrocessos. Estamos trabalhando algumas variações apesar de não termos tido tempo para treino. A gente aproveitou bem aquele tempo para trabalhar algumas variações. Jogando de uma maneira ou de outra a equipe tem correspondido, está bem organizada. Para mim não tem amargo de nada. O meu trabalho é pensar sempre à frente, analisar bem aquilo que a gente fez, esquecer completamente o passado – e esse jogo já é passado.

– Nosso objetivo é pensar no jogo contra o Paraná. Vamos enfrentar um adversário que tem crescido muito na Série B e vamos trabalhar com o objetivo de passar essa fase. Acho que a equipe tem dado alguma garantia em relação a isso. O que nós precisamos é de continuidade. É impossível entrar ano e sair ano com uma chegada exacerbada de jogadores porque é difícil construir uma equipe que tenha comportamentos claros com relação ao jogo. Eu tenho que parabenizar os jogadores, eles que são os obreiros disso pela maneira que têm trabalhado no dia a dia. Agora é pensar no jogo de quarta-feira.

Estreia de Kalou

– Não vamos trabalhar com previsões. No futebol, tempo e número não se falam. A gente aprende isso com o tempo de carreira. Ele está trabalhando bem. Ele é muito solícito, disponível, animado e vamos trabalhar.

Chegada de Rentería e conflito com o que disse sobre contratação de jogadores sul-americanos

– Mantenho o que falo, falei isso quando fui treinar o Atlético Nacional, que gosto de trabalhar com jogadores locais. Os estrangeiros vêm para dar um salto de qualidade. Nós fomos atrás de alguns nomes aqui e nenhum deles tinha as características e o perfil adequado e eu não sou radical em nada.

– A partir do momento que não foi possível as opções que tivemos no mercado nacional, jogadores com características, precisava de um jogador com algumas características (que não vou citar) dentro das possibilidades que nós tivemos e eu não vou ser radical porque não vou prejudicar uma instituição em função das minhas vontades. Eu tenho falado sempre: entre vontades pessoais e necessidades, nós vamos dar sempre prioridade para as necessidades.

– Se eu pudesse, em termos de filtros importantes em relação aos jogadores que pudesse trazer aqueles que tentamos, certamente teríamos feito. Como não foi possível é um jogador que conheço do Tolima, então abri mão. Não estou aqui para satisfazer as minhas vontades pessoais. Estou aqui para ver as necessidades que o grupo tem. A relação com a direção é a melhor possível. Construímos tudo em conjunto. Vou voltar a falar, único jogador que eu indicaria para trazer e não pude fazer porque o clube não tem condições de fazer transferência e pagar o salário.

– Quero deixar claro o seguinte, aonde eu trabalho, acredito no trabalho. Acredito na valorização dos jogadores da casa, da formação e gosto de fazer isso. Não saio pedindo jogadores, não trabalho com orçamento milionário e em nenhum momento você vai me ouvir cobrando contratações só para fazer papel bonito para a imprensa e torcida. Não preciso disso para saber o nível de exigência e rigor que tenho. Quero parabenizar e valorizar aqueles jogadores que estão aqui. Espero já no próximo jogo uma exibição que nos permita sair com uma vitória já que hoje não foi possível.

Conversa com Vuaden após o apito final

– Fui conversar com o Vuaden porque me dou muito bem com ele e acho um dos melhores árbitros do futebol brasileiro há algum tempo. Fui tentar entender a interpretação. O meu problema não é dizer se foi ou não pênalti. São as interpretações. Por exemplo, em Fortaleza, nem o VAR chamaram para ver o pênalti em cima do Nazário. Podiam ter cogitado pelo menos ver no VAR e decidir ou não.

– O que eu disse para ele, na minha lógica de observação é: em nenhum momento o jogador estava de frente para a bola e quando a bola bate no braço em uma região de amortecimento, dificilmente ela toma a velocidade e a trajetória que tomou. É uma coisa óbvia e lógica para mim. Mas não estou aqui para discutir a interpretação dele. Estou aqui para discutir as diferenças da interpretação. Então não adianta ter VAR. Quem interpreta isso? A gente vai continuar no tema da interpretação e na hora da interpretação sempre as mesmas equipes são favorecidas. Não quero argumentar nada disso.

– Aqui no Brasil, infelizmente, na conjuntura do futebol brasileiro toda hora vão reclamar dentro da CBF e fazer cartas, como se isso adiantasse alguma coisa. O que adianta é trabalho e transparência. Porque no momento de decidir e interpretar, a interpretação tem sido contra o Botafogo, claramente. Se algum dirigente nosso tem dificuldade por falar isso por receio, eu não tenho nenhuma. E na minha carreira, se olhar para trás, eu tenho autoridade para falar isso.

– Em nenhum momento, em nenhuma derrota eu justifiquei com erros de arbitragem. Justifico com falta de eficiência ou eficácia da equipe que eu trabalho. Hoje nós fomos eficientes, fomos eficazes porque fizemos o gol, mas não conseguimos sair com a vitória. Nada a falar com relação à arbitragem e à interpretação. E tudo a falar sobre a conjuntura do futebol brasileiro. É muito fraca e é suspeita. Porque as coisas acontecem sempre da mesma maneira. Chega um momento que cansa.

– Quando a gente tem que discutir coisas importantes a gente prefere discutir a cor da meia, o cabelo do jogador, ele fez uma jogada bonita ou não. Não se analisa de uma maneira profunda. Acho que o futebol brasileiro necessita disso, principalmente por aqueles que são responsáveis em função daquilo que deve ser a realidade do futebol brasileiro. Porque não é só dentro do campo, não. Futebol brasileiro é pentacampeão do mundo pela qualidade de seus jogadores. É isso.

– Quando eu escuto que está tudo bem, a CBF está satisfeita com o campeonato, eu fico estarrecido. Hoje os papéis para se anotar a troca dos jogadores foram papel de pão. Para um profissional que vem de fora, isso é vergonhoso. E a CBF está dizendo que está tudo muito bom, tudo muito bem. Para quem só quer saber do que passa e esquece as coisas, tudo bem. Eu me recuso, porque é cansativa a conjuntura do futebol brasileiro. As coisas não se alteram nesse sentido, só isso.

Avaliação da partida

– Se tivéssemos uma equipe fortíssima na defesa e no ataque certamente estaríamos hoje e em todas as competições na ponta da tabela. Acho que não temos tempo – e até falei com o Domènec no fim do jogo, pedi a ele paciência e tolerância com a conjuntura do futebol brasileiro. As pessoas só olham para aquilo que acontece no jogo. Nós temos que parar para ver que se olharmos para trás, antes da pandemia, o Botafogo estava construindo uma equipe e está construindo ainda. Eu tenho que ver como a equipe está sendo construída, que evolução está a ter a cada jogo. Eu vejo isso.

– Atuações perfeitas, em que você é extremamente bom… Eu não preciso responder o que passou no jogo passado. Equipes que são muito forte ofensivamente sempre têm deficiências que você tem que entender em que circunstância você está a viver. Eu sempre estou preocupado com o contexto. Não sou um treinador que pede jogadores e contratações milionárias, porque não acredito nisso. Acredito no desenvolvimento do jogador, porque é isso que me dá o brilho nos olhos. Quando eu paro à noite e penso no que foi o dia, fico satisfeito e orgulhoso do trabalho que esses jogadores estão a fazer.

– Antes de começar o Brasileiro, a maneira de nos encarar era uma. Eu espero que continuem nos encarando da mesma maneira. Nós estamos trabalhando muito, agora, sem tempo para treino, assim como todas as outras equipes do futebol brasileiro. Por isso que eu fui falar com o Domènec, que deu uma aula conceitual para todos quando falou sobre as cinco substituições. Aqui é engraçado, se você tem as três substituições o treinador é obrigado a fazer as três para a imprensa e para a torcida. Agora que são cinco você é obrigado.

– A partir do momento – e ele foi muito claro no que falou – o Flamengo tem um grupo muito homogêneo e cinco substituições pode não comprometer o coletivo. Mas as outras equipes, com a chegada de outros jogadores, qualquer cinco substituições você desarticula o coletivo da equipe. Isso é tão óbvio que é impossível perceber que as pessoas não entendem isso. Eu me recuso a ser obrigado a jogar só de uma maneira. Não há essa ditadura. Muitas pessoas que exigem isso são as mesmas que reclamam da pouca valorização da diversidade.

– O futebol hoje só tem que jogar de uma maneira porque querem isso. E o futebol permite interpretá-lo de várias maneiras. Importante é ser eficiente, eficaz e interpretar bem a ideia que você estipula, isso que é a beleza, a diversidade que se tem. Eu me recuso a ter que trocar cinco ou três jogadores. Se eu estiver gostando da equipe e que os jogadores estão respondendo bem, eu não vou fazer isso porque estou preocupado com o que torcida e imprensa vão falar. É o direito dele, de falar o que desejarem. E é o meu direito e o de qualquer outro profissional de só fazer aquilo que confia.

– Eu sou um cara de convicções que não são minhas, são adquiridas ao longo do tempo, conceitos adquiridos ao longo do tempo, que me faz ser convicto naquilo que faço.

Saída de Luiz Fernando e pagamento de salários

– Sou pago para arrumar soluções. O que eu quero no Botafogo é salário em dia, pagamento dos funcionários e toda vez que tiver que abrir mão de algum jogador porque vai ter algum valor que possa permitir isso, eu vou fazer. Não tenho a menor dúvida. Porque o resto é minha responsabilidade. Eu gosto de ouvir que ele vai reforçar o Grêmio. Muitas vezes o Luiz Fernando foi execrado e chamado disso e daquilo. Agora é reforço para o Grêmio? Assim que as coisas acontecem… Eu não me esqueço das coisas que se passam.

– Não gosto de ficar falando do passado, mas ele me dá alicerces para poder ter argumentos no presente e projetar o futuro. Então, eu dei anuência para a direção, sim, da saída dele porque isso vai reverter valores. Se nós não acertarmos aquilo que nós temos – e eu vejo o esforço que o presidente e o Comitê Gestor estão a fazer, sou testemunha clara disso. Todos os dias eles estão pensando em como vão fazer para acertar a situação e isso eu tenho passado para os jogadores. Por isso que a gente tem um grupo e um ambiente satisfatório. Agora, isso tudo é prazo de validade.

– Nós precisamos colocar as coisas em dia. O maior reforço que o Botafogo vai ter é acertar a folha salarial de jogadores, de funcionários – ninguém faz nada sem funcionários e eu tenho que ajoelhar e agradecer aos funcionários do Botafogo por trabalhar com eles. Pelo engajamento e comprometimento que têm mesmo com a dificuldade. Esse é o maior reforço. É o que eu exijo do clube. No mais, se o resultado não vier, é minha responsabilidade, não divido com ninguém. Pode vir falar, criticar…

– Enquanto eu estiver aqui, e tenho certeza que não vou estar muito tempo como treinador, porque não aguento mais essa conjuntura do futebol brasileiro. O maior reforço que o clube pode proporcionar ao seu treinador, que no momento sou eu, é colocar as coisas em dias e eu quero agradecer, agradecer, obrigado, ao presidente e todas as pessoas do Comitê Gestor pelo esforço que estão a fazer e eu sei claramente que esforço é esse. Vamos conseguir. (Globo Esporte)