Durante a realização de obras de construção em uma região delimitada entre Düsseldorfer Straße e Bottroper Straße, na Alemanha, arqueólogos foram acionados para investigar o que parecia ser um cemitério de cavalos romano. Ao analisar o local em detalhes, a equipe encontrou cerca de 100 esqueletos antigos.

Segundo comunicado emitido na quarta-feira passada (16) pelo Escritório Estadual de Preservação de Monumentos, por volta do século 2 d.C, a área foi uma importante base militar romana. Além dos seus soldados, a força ainda contava com uma cavalaria composta por mais de 700 animais.

Sepultamentos de cavalos

Não é a primeira vez que sepultamentos de cavalos são encontrados na região. Por volta da década de 1920, mais próximo de Nastplatz, pesquisadores já haviam sugerido que um sítio se tratava de um cemitério romano (ou “Schindanger”, como ficou conhecido).

Desta vez, o monitoramento da construção arqueológica realizado agora na Düsseldorfer Straße e a escavação de resgate que se seguiu no outono foram capazes de confirmar essa interpretação. Os primeiros ossos de cavalo descobertos agora foram datados do século 2, usando o método de radiocarbono.

Arqueólogo escavando o esqueleto de um dos cavalo no local do sepultamento — Foto: Escritório Estadual de Preservação de Monumentos no Conselho Regional de Stuttgart/ArchaeoBW
Arqueólogo escavando o esqueleto de um dos cavalo no local do sepultamento — Foto: Escritório Estadual de Preservação de Monumentos no Conselho Regional de Stuttgart/ArchaeoBW

Com base no conhecimento arqueológico e histórico das termas romanas em Cannstatt, os cavalos podem ser atribuídos à unidade de cavalaria ‘Ala’, que esteve estacionada em Hallschlag de aproximadamente 100 a 150 d.C. A tropa, com quase 500 cavaleiros, provavelmente tinha uma população total de cavalos de pelo menos 700 animais, e as perdas precisavam ser constantemente repostas.

Quando um dos equinos morria, ele era enterrado em uma área especialmente selecionada, a aproximadamente 400 metros do forte de cavalaria e a 200 metros do assentamento civil. As carcaças geralmente eram arrastadas uma de cada vez para fossos rasos, onde eram posicionados deitadas de lado com as pernas esticadas ou dobradas.

Análise do cemitério

“O local dos enterros provavelmente foi marcado acima do solo”, explica Sarah Roth, arqueóloga responsável pelas descobertas. “Apesar de alguma ocupação densa, havia apenas algumas sobreposições entre as covas”.

Esses animais não parecem ter morrido todos simultaneamente em um evento importante, como uma batalha ou epidemia. Em vez disso, trata-se de restos mortais de animais que morreram de doença, ferimentos ou outros motivos durante a presença da Ala em Bad Cannstatt, ou que não conseguiam mais cumprir sua função como cavalos militares.

Ainda não se sabe ao certo o tamanho exato do cemitério. “Certamente era originalmente maior do que a área de aproximadamente 70 por 80 metros no nordeste do novo canteiro de obras onde os esqueletos foram encontrados”, afirma Roth.

Concluídas as escavações, o grande número de esqueletos de cavalos de Bad Cannstatt agora oferece uma rara oportunidade de obter uma visão mais detalhada do uso de cavalos pelo exército romano. As investigações arqueozoológicas visam fornecer informações sobre sexo, idade ao morrer e tamanho dos cavalos, bem como seu uso como animais de montaria, possíveis doenças e a causa da morte.

Dois enterros fora do normal

Em sua maioria, os animais provavelmente foram descartados em vez de enterrados. Um único esqueleto apresentava presentes funerários típicos de despedidas – no caso, dois jarros e uma pequena lamparina a óleo, posicionados na curva de um dos braços dos cavalos.

“Aqui vemos um provável caso de vínculo particularmente próximo entre o cavaleiro e seu cavalo”, destaca Roth. “Mesmo depois de cerca de 1.800 anos, a dor pela morte deste animal ainda é evidente”.

A área analisada do cemitério contém aproximadamente 70 por 80 metros — Foto: Escritório Estadual de Preservação de Monumentos no Conselho Regional de Stuttgart/ArchaeoBW
A área analisada do cemitério contém aproximadamente 70 por 80 metros — Foto: Escritório Estadual de Preservação de Monumentos no Conselho Regional de Stuttgart/ArchaeoBW

Surpreendendo os especialistas, eles encontraram entre os cavalos um homem adulto, que parece ter recebido menos valor do que o cavalo especial citado anteriormente. Seu esqueleto, deitado de bruços e sem quaisquer pertences funerários, foi encontrado entre as sepulturas animais, longe do local de sepultamento habitual do assentamento romano.

Mais estudos deverão ser desenvolvidos para descobrir quem era o homem foi enterrado junto aos cavalos – e por que ele estava lá. Mas hipóteses sugerem que ele considerado alguém “estranho” pela sociedade, e que, ao morrer, foi enterrado por ali como em uma brincadeira. Que senso de humor mórbido, não?

(Por Arthur Almeida)