Talvez os poucos que me leem saberão o significado de “antanho”, resumindo: ANTIGO.

Assisti a um video sobre um tempo, não muito distante, coisa de cinquenta anos,  antes da Modernidade Líquida (Bauman) e da Pós-Modernidade.

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Claro que não vou fazer ilações filosóficas/ comportamentais sobre tais concepções da contemporaneidade; antes, desejo (caso consiga) traduzir em palavras o que vi nas imagens: infelizmente, um tempo que não volta mais…

Como era bom trocar gibis (revistas em quadrinhos) na porta do Cine Teatro; jogar Finca-Finca (jogo de estratégia, usando um “arame” afiado que cercava o outro jogador a ponto de deixá-lo saída); “O que é… o que é…” tem coroa, mas não é rei… (como era instigante o jogo das adivinhações); em noites calmas, “Passar o anel” (uma simplória brincadeira de depositar o anel nas mãos de um dos participantes e perguntar com quem estaria ele; Álbum de figurinha… banca de revista,,, “grude” de farinha de trigo…

Complexo viver em um tempo pasteurizado e homogêneo – quase insipido – no qual  o que importa é o momento; fora a disso, nada importa

Impossível traduzir, em palavras, a sensação de, ao abrir um “pacote” de figurinhas, encontrar aquela que faltava para completar uma página;  que saudades dos quitutes dançantes (festas organizadas em residências, pasmem, com autorização do DOPS), ao som de Celly Campello; jogar bolita (triângulo riscado no chão no qual eram colocadas as bolas de Gude, as quais deveríamos tirá-las do referido triângulo);  ouvir Elis Regina cantando “Arrastão” (Vinicius de Moraes e Edu lobo)… pra uma infância tão rica, é pouco espaço…

Somos uma geração que viveu a Jovem Guarda (com seus silêncios e equívocos) e, ao mesmo tempo, “As águas de março/ fechando o verão…” ainda não havia pra mim Vandré com suas flores, nem Chico com sua “Construção”… só um  “País tropical/ Abençoado por Deus…” (Jorge Ben Jor), mas, não mais que de repente, Aldir Blanc (infelizmente, falecido recentemente) e João Bosco, na voz de Elis, eternizaram a dor dos exilados da Ditadura Militar (1964 – 1985).

Que tempo… e hoje “Sou um violeiro caminhando só…” 1967 – Sidney Miller.

Por mais que me esforce,  não consigo apagar da mente a pandorga, o Currupira, a funda, a Pedra 21, o rolemã, a Maria do Aricá, o buque e a Alavanca de Ouro…

Complexo viver em um tempo pasteurizado e homogêneo – quase insipido – no qual  o que importa é o momento; fora a disso, nada importa.

Assim, vestido de tempos imemoriais, convivendo (como pai e professor) com a geração Z, busco o equilíbrio entre o hoje e o ontem, mesmo sabendo que o ontem, como diria Drummond, é só uma fotografia na na parede…

*SÉRGIO CINTRA   é professor de Redação e de linguagens em Cuiabá. Foi vereador e secretário de Cultura.

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