André e a balada não possuem mais o futebol entre eles. Aos 34 anos, o agora ex-atacante, com passagens por Cuiabá, Santos, Corinthians, Vasco, Atlético-MG, Grêmio, Sport e seleção brasileira, pode usar o apelido que marcou a sua carreira sem moderação. Mas será que ele quer?
O último ato de André dentro de campo foi em 11 de setembro, na derrota da Cabofriense para o Olaria, por 2 a 0, na terceira fase da Copa Rio. O atacante jogou os 90 minutos, mas não conseguiu evitar a eliminação e o fim da temporada do time da sua cidade natal, local do início de uma nova carreira: a de gestor e dono de 66% do clube.
A decisão de deixar o futebol foi tomada muito antes do que a maioria dos jogadores. André planejava parar aos 30 anos, mas o pai o aconselhou a atuar por mais alguns anos. Foram outras quatro temporadas até entender que a rotina de jogador profissional perdeu o sentido e que era o momento de pendurar as chuteiras e pensar em uma nova vida.
Na verdade, viver sem qualquer tipo de restrição…
Da famosa foto dormindo em uma casa noturna, a fama de gostar da noite, a amizade com Neymar e as festas de Ronaldinho Gaúcho passando pelos cinco minutos em campo pela seleção brasileira, André abriu o baú de recordações, polêmicas e histórias que colecionou ao longo da carreira durante entrevista de 1h20 ao Abre Aspas.
André completou 34 anos em 27 de setembro e garante que o maior presente que ganhou na vida foi realizar o sonho de ter sido jogador de futebol profissional. Agora, quer deixar a “balada” para trás e ganhar um novo apelido.
– CEO, talvez? – brincou.
Ficha técnica
- Nome completo: André Felipe Ribeiro de Souza
- Nascimento: 27/09/1990
- Carreira: Cabofriense, Santos, Dínamo Kiev-UCR, Bordeaux-FRA, Atlético-MG, Vasco, Sport, Corinthians, Sporting-POR, Grêmio, Gazisehir Gaziantep-TUR, Cuiabá, Torpedo-RUS, Ponte Preta, América-RJ e Cabofriense.
- Histórico: 159 gols em 536 jogos como profissional.
- Principais títulos: Copa do Brasil (2010 e 2014); Recopa Sul-Americana (2012 e 2014); Paulistão (2010); Gauchão (2019 e 2020); Mineiro (2012 e 2015); Pernambucano (2017) e Mato-grossense (2022).
Abre Aspas: André Balada
ge: André, agora com 34 anos, 16 clubes depois, essa é a sua primeira entrevista como ex-jogador de futebol?
– É, acho que é a minha primeira. Na verdade, eu tinha planejado parar com 30, né? Só que meu pai não deixou e aí acho que com 34, realmente agora, acho que é uma primeira entrevista como ex-jogador, ex-atleta… ex-jogador acho que é melhor. Ex-atleta não, que ainda faço alguns esportes.
Mas por que você pensou tão novo assim sair fora do futebol? Rotina? Cansaço? Cumpriu o que tinha que cumprir?
– Acho que isso, cara. Cumpri o que eu tinha que cumprir. Acho que um pouco da rotina, um pouco de tudo, um pouco da vontade de ter uma vida normal. Acho que na vontade de ter uma vida normal, eu acabei criando alguns problemas também em relação ao futebol, porque eu achava que era uma pessoa normal e não era, era uma pessoa pública.
– E às vezes eu tinha esse conflito de ser uma pessoa normal e não aceitar que eu sou uma pessoa pública e fazia coisas de pessoas normais que pessoas públicas não podem fazer. Então, acho que tem muito disso. As pessoas falam que é uma aposentadoria, mas para mim não é aposentadoria, acho que é uma transição de carreira. Então, eu estou parando de jogar futebol, mas não estou aposentado, estou novo pra isso, continuo vivendo, mas em outras áreas agora.
E como é essa transição de carreira, André? Qual o próximo passo, o que vai fazer?
– Parar de jogar bola é muito difícil, né? Então, esses três anos aí eu fiquei pensando muito nisso. Acho que a gente que joga futebol tem esse medo, tem essa preocupação. Você pensa em fazer várias coisas, surgem várias oportunidades. Mas eu acho que, para mim, a oportunidade que tem é relacionada ao futebol, relacionada ao esporte. Então, acho que hoje, parando, agora a gente está com um novo projeto na Cabofriense, que é o clube que me revelou, onde eu comecei. É o clube que jogou a minha família inteira e agora a gente conseguiu pegar a gestão do clube.
Então você vai fazer uma nova gestão na Cabofriense?
– A gente está tentando transformar em SAF ainda. É um modelo que não é do dia para a noite, mas a Cabofriense, infelizmente, hoje está sem estádio, porque é público. Então, a gente está tentando pedir uma concessão para cuidar. A gente está tentando trazer novos parceiros para fazer a Cabofriense ser forte. Então, acho que é tudo muito novo, né? Não parei de jogar tem nem um mês, então calma, ainda há um tempo para trabalhar.
Tu falou que fazia coisas de pessoas normais que as pessoas famosas não podem fazer? Alguma coisa que mais você gostava de fazer e que uma pessoa pública talvez não possa fazer no Brasil?
O André e a balada não têm mais o futebol no meio, então é uma forma de você apreciar um pouco mais a vida sem moderação?
Você falou que o Balada é um personagem, mas você acha que esse apelido atrapalhou sua carreira de alguma forma? Ou te estereotipou a ponto de você perder oportunidades, ou de parecer ser uma pessoa que você na verdade não era?
– Acho que mais isso, né? Parecer eu ser uma pessoa que não era, assim. Tem um fato na minha chegada ao Corinthians, logo depois de três meses, o próprio Cássio veio e falou pra mim: “pô cara, eu achei que você era pior, que você chegava atrasado, que você dormia em maca, que você fazia essas coisas e perdia treino. Então, não tem nada disso, né?” Acho que todos os clubes que eu trabalhei, quem trabalhou comigo sabe que eu sou um cara altamente competitivo, altamente profissional, senão eu não sairia de Cabo Frio e chegaria onde eu cheguei. Mas se criou esse personagem, é claro que atrapalha, né?
– Você é um jogador de futebol com apelido de balada, onde você perde um jogo no pós e no mercado, imagina? Então se criava isso. Já ouvi de dirigente falando, mas e o extracampo do André? Só que aí você vai ligar, vai perguntar e vai ver que não era bem assim como imaginava. Agora também achar que eu vou ficar oito meses, um ano dentro de casa, trancado, é complicado. Acho que ninguém vive assim. Então, atrapalhou sim, mas assim, de certo modo, eu, o André, não me incomodou não, porque quem me conhece, eu acho que sabe, quem conhece o André, que não é esse personagem André Balada, sabe quem eu sou. Isso daí foi primordial pra mim.
Você carrega algum arrependimento? Tem pouco tempo que você parou de jogar, você já conseguiu parar e olhar para sua carreira e ver alguma coisa que você se arrependa, alguma coisa que você poderia ter mudado, assim, olhando tudo que você fez?
– Acho que, de certo modo, um pouco mais de maturidade, né? Mas eu não me culpo, não me julgo por isso não, acho que eu furei uma bolha muito cedo. Com 18 anos eu consegui estar no Santos, e para mim era uma realidade muito distante, eu sou de Cabo Frio, e você parar num clube na grandeza do Santos, assim, com 15, 16 anos, saindo de casa, foi tudo muito difícil para mim. Então, eu não me julgo, não. Acho que foi tudo como tinha que ser, sou altamente realizado com o futebol. Na verdade, eu acho que eu realizei mais coisas do que eu imaginava e sonhava. Então, eu sou um cara totalmente realizado e grato ao futebol.
Percebi que quando fala de balada e liga a palavra alcoolismo, te incomoda bastante…
– Ah, muito.
Você chegou a ter problema com álcool em algum momento da sua carreira?
– Não, que isso! A gente ouve muitos relatos de jogadores que acabam passando por isso, você não deve nada, mas te atrapalha, sabe? Não tenho nenhum tipo de vício, no máximo é gostar de som alto. Mas não, não tenho nenhum tipo de vício. O que me incomoda é isso, porque as pessoas ligam o André Balada, como eu falei, como se fosse “vem aqui beber, vamos ali beber,”. Assim, não é isso, cara. Acho que não é porque você sai que você é alcoólatra, que você bebe tudo. Então, é isso que me incomoda. Eu não sou viciado em álcool, não. Eu gosto de dar minhas voltas, eu sou só isso, nada mais. Mas nunca tive nenhum tipo de problema com álcool, graças a Deus.
Você acha que em algum momento da sua carreira havia jogadores que realmente tinham esse problema, mas que não eram expostos na mídia, e você acabou pagando a conta?
– Pô, sem dúvidas. Não dá para citar nomes, mas assim, tem milhares piores do que eu aí que não são falados, que sabem mais do que eu, que fazem mais coisas do que eu. E eu, infelizmente, no Brasil, as pessoas gostam de rotular. Fui rotulado como André Balada, mas acho que é isso. É como você falou, existem pessoas que fazem pior, mas, de fato, talvez façam melhor do que eu fiz, mais escondido, não sei. Acho que eu fui muito eu e fiz o que me deu vontade, acho que isso aí foi importante. Se eu não fizesse, aí eu estaria chegando aqui falando que eu era ingrato, sei lá, não era feliz. Eu fiz o que eu pensei que tinha que ter feito e sustentei também os meus erros.
Aquela foto (dormindo na balada) ajudou muito também, né?
– Ah, muito. Aquela foto ali foi, acho que foi dali pra frente que desandou tudo nessa questão. Mas, assim, acho que, igual falei, cara, acho que foi tudo como tinha que ser. Não me arrependo, não. Me arrependeria se eu não tivesse feito as coisas que eu tinha vontade de fazer.
E qual a resenha daquela foto, quando surgiu, quando apareceu?
– Cara, aquela foto eu fui inventar de ficar um tempo sem beber. E aí era aniversário de um lugar em Belo Horizonte, e eu acabei indo com meus amigos, só que foi depois de um jogo, eu estava muito cansado, né? E a festa foi tarde, e aí eu sentei pra esperar um amigo que foi no banheiro, e nisso que eu sentei, eu relaxei demais, dormi, e aí alguém passou e tirou a foto e eu nem percebi, só fui ficar sabendo um dia depois. Na hora mesmo eu não tinha nem percebido, nem senti nem nada, Então, foi isso que aconteceu.
Quando você jogou no América-RJ, talvez tenha sido o momento que você ficou mais relaxado com esse apelido, quando a torcida do América te abraça e começa a música que ficou clássica. E você vai jogar com o Romário, Romarinho, todo mundo cantando. Ficou mais relaxado?
– É, virou que agora eu deixei de ser alcoólatra para maconheiro também, né? Tem essa, e cheirador. Agora que desandou de vez, agora eu sou os dois. Agora me encontram na rua e “cheirador, vamo fumar”, então eu acho que passei por tanto, foi um período muito longo, que precisei realmente ter a cabeça boa, porque me afetava essa situação. Envolvia muito caráter, as pessoas colocavam o André Balada como mau caráter, sendo que eu não sou uma pessoa mau caráter.
– Não é porque eu saí, que eu tive uma foto exposta, ou porque eu gostava de sair, que eu era mau caráter. Então isso me incomodava, porque entrava um pouco no caráter. E você ser uma pessoa mau caráter, acho que isso daí envolve muito meus pais, que me deram uma criação boa. Então isso que me incomodava, agora falar que eu era cachaceiro, o que falam agora, isso daí não me incomoda não, eu até brinco com os caras que eu não tomo cerveja, eu gosto de tomar vinho, não tem problema não.
Nota da redação: André marcou cinco gols e deu uma assistência em dez jogos pelo América-RJ na Segunda Divisão do Campeonato Carioca. O bom desempenho rendeu uma música feita pelos torcedores, que dizia: “Ele fuma, ele cheira e gosta de baforar! Oba, oba, mais um gol do Balada!”.
Você falou um pouquinho da questão psicológica. O quanto é importante para um atleta cuidar da saúde mental?
– Acho que primeiro a gente vai ver jogadores parando mais cedo do que nessa geração que eu vejo hoje. Acho que cada vez mais meninos vão parar cedo. Primeiro porque estão ganhando muito mais dinheiro e ficando muito mais famoso, acho que vai ser difícil sustentar isso daí até os 35, 37 anos. A gente vai ver daqui a pouco os meninos cansados aí, com 30 anos, não querendo mais jogar. E segundo, que eu acho que a gente vai ter cada vez mais casos de jogadores com depressão, porque a exposição está cada vez maior, né?
– E tem que se olhar com carinho, acho que, infelizmente, no futebol a gente só vê resultado, a gente não vê o que se passa por trás, né? A gente não vê o personagem ali, o super-herói que é o jogador de futebol, ninguém olha pra aquele menino ali que não está rendendo, que talvez a mãe teve problema. Eu vi a situação do Carlinhos, do Flamengo, que todo mundo criticava. E quando foi ver, ele tinha acabado de perder a mãe. E aí, depois, todo mundo fica tocado, mas ninguém, antes dele falar, perguntou ou quis saber por que não tava dando um resultado. Então acho que essa daí é a importância no futebol, que cada vez tem que ser mais olhado o lado humano, não o produto de jogador de futebol.
– Cara, acho que no Galo foi muito marcante. Foi quando eu comecei a entender sobre terapia, quando eu fui afastado por problemas extracampo. E aí eu tive uma pessoa que me apresentou à terapia e aí ele mudou tudo para mim. Então acho que, assim, problema não tão assim, sabe? Mas realmente mudou minha vida, né? Ali eu comecei a entender que eu, o André, era mais um sobrevivente da vida do que de tudo. É porque as pessoas olham você famoso e com dinheiro e esquecem disso, de onde você veio, o que você passou, por tudo. E, pô, eu saí de casa com 15 anos. Minha mãe não me deu educação completa, né? E tão pouco que ela me deu, acho que bastou para eu sobreviver sozinho. Então a terapia me ajudou muito a entender essas coisas.
Como foi sair tão cedo de casa e depois explodir no Santos, time sensação do Brasil naquele momento?
– Pois é, imagina como que é trabalhar a cabeça no meio desse turbilhão? Ao mesmo tempo que você está longe da sua família, você está num ambiente que, obviamente, te deixa confortável, com fama, jogando futebol, aquilo que você sempre quis, ganhando dinheiro. Como é que é lidar com todo esse turbilhão na cabeça? Aí a gente está falando com 18 anos já, né? Agora imagina tu saindo com 15 de casa, interior, que é Cabo Frio e imagina, tem mais interiores aí que são piores ainda. No fim é um pouquinho mais civilizado, mas imagina tu chegando num lugar com 15 anos, convivendo com, sei lá, 300 crianças, que competem com você já desde os 15 anos pra ver quem vai chegar no profissional, e você morando num centro de treinamento, e é ali que você vira um homem, né?
– Ali que você aprende tudo, é com aquelas pessoas ali que você tem um discernimento do que é certo, do que é errado. Claro que você já tem tua base de casa, dos 15 até os 18, você ainda tem um pouco que aprender. Então é ali que você aprende, é no futebol. E aí você cai num meio competitivo, um meio que tem muita sacanagem, um meio que tem muita trairagem. E você tem que lidar com tudo isso, é muito complicado, é muito difícil. O cara, para ser jogador, ele tem que sobreviver a muita coisa e ter uma cabeça muito forte. É difícil, é muito difícil, tanto que você vê que são poucos que chegam. Da minha geração, de 60, 70, três chegaram. Então é uma competição um pouco desleal.
Você trabalhando um pouco agora na gestão de um clube. O que você pensa com essa sua experiência saindo de casa, tendo uma carreira de sucesso, que você possa ajudar esses jogadores hoje em dia para poder também blindá-los, se é que é possível, de alguma forma, com relação a isso?
– Cara, difícil. Eu tento agora eu estou do lado de cá. Eu tento passar um pouco isso, mas você do lado de cá ainda, infelizmente, o futebol é enxergado como produto, né? Mas eu tento falar isso, eu tento explicar que se não está rendendo alguma coisa está errada. Alguma coisa tem que se entender, talvez é uma confiança, talvez uma briga com a família, talvez um problema com o filho. Então eu tento explicar ainda, mas o lado de cá, staff, torcedor, ainda é muito forte essa questão do tem que entregar, tem que entregar, e se não entregar, vem outro e pronto, acabou. Mas, assim, não vou revolucionar o futebol agora estando desse lado. Não vou mudar as regras, mas vou tentar pelo menos, de fato, ser um pouco mais humano.
E como é um cara chamado André Balada dando conselho?
– Pois é, eu tenho que terceirizar esse conselho, senão fica sem credibilidade. Como é que eu vou falar pro meu jogador não sair? É um pouco difícil. Eu falo que dá pra sair, mas vai com calma.
Quando viu a carreira deslanchar, foi no Santos?
– Acho que foi quando a gente ganhou a Copa do Brasil (em 2010). Acho que depois da Copa do Brasil a gente brincou que realmente agora era de verdade, tinha virado cobrão. Depois da Copa do Brasil, acho que muita coisa mudou pra gente ali, assim, em questão de respeito, em questão de olhar. Porque sabia que pra fazer história tinha que ganhar um título. Conseguimos ganhar o Paulista, então foi meio que um alívio, assim. Agora, sim, estamos fazendo história. Então foi depois da Copa do Brasil, depois do Paulista…
E o Neymar? Como é que foi você jogar lá no Santos, na época que surgiu, formando dupla com você. Facilitou alguns caminhos?
– Ah, total, né? Acho que jogar com o Neymar, com o Ganso, é meio caminho andado. Só não ficar fazendo besteira. Mas acho que foi um prazer enorme que, além de jogar com eles, a gente jogou na base junto, virou amigo, um olhar para o outro e ver que estava realizando o sonho de jogar no profissional, de conquistar um título, foi muito marcante para a gente.
– Lembro que quando ganhamos o nosso primeiro título, a gente se abraçava e falava que tinha conseguido, que o título era nosso, foi muito especial criar essa amizade e ver que todo mundo realizou o sonho de ser jogador e ganhar um título pelo Santos.
Ao mesmo tempo que é legal se jogar do lado do Neymar e do Ganso, você também tem uma responsabilidade maior, né?
– É só não atrapalhar muito. Deixa eles fazendo tudo, não atrapalha muito, né? Mas, pô, foi bacana, cara. Acho que a gente se entendia muito, assim. E quando eu via que estava atrapalhando muito, eles mandavam sair, fica do lado da trave lá, vai. Eu não era burro, me posicionava lá e esperava o rebote.
Foi o melhor time que você jogou?
– Acho que foi o time que mais todo mundo se gostava. Sem dúvida, foi um dos melhores times que eu joguei. Em questão de elenco, acho que eu trabalhei em outros legais, mas de time mesmo foi o melhor que eu joguei. E de talento individual foi o melhor.
Ainda tem contato com o Neymar e o Ganso? Eles comentaram algo de você ter parado de jogar?
– “Para logo, cara, está chato. Sai dessa maluquice aí.” O Neymar eu já falei para ele que primeiro ele tem que esperar, acho que ele tem mais uma Copa aí, que eu quero ir assistir essa Copa pessoalmente. Não tive privilégio de assistir uma Copa dele. Já falei pra ele que eu sou pé-quente, que quando eu for ele ganha título. Então, estou torcendo pra ele jogar mais uma Copa do Mundo.
Como foi jogar ao lado do Ronaldinho Gaúcho? Mexia com o emocional ver ele?
– Ah, sem dúvida. Acho que o Ronaldinho foi o melhor que eu já vi, assim, de talento mesmo, de genialidade. Foi o maior e o melhor, acho que ele tinha tudo para atingir o nível máximo do futebol, nível Pelé, se continuasse numa sequência maior. Mas dava um friozinho na barriga, o que eu faço agora quando ele tá com a bola? Mas esses caras são tão gênios que te deixam à vontade. Ele, Neymar, o Ronaldinho, principalmente, ele dava dicas de como se posicionar, que a bola ia chegar. Era só seguir, cara. Esses caras era só seguir o que eles falam que dá tudo certo, não tem erro.
Quantos gols na carreira, sabe?
– Ah, não sei. Não tenho nem ideia.
Mas boa parte ali saiu com o Neymar, né?
– É. Ah, dali saiu uns 60, 40. Se contar a base, então… O Ganso na base também era genial, o que ele fazia lá era espetacular.
Você ainda tem contato com o Ganso?
– A gente se fala pouco, o Ganso é um cara mais na dele, a gente se vê pouco, por mais que ele esteja morando aqui no Rio também. Mas quando dá, a gente se fala. Seria interessante um dia a gente se reencontrar, esse time todo, em 2010. Seria marcante.
– A gente não tem. Esse time de 2010 não tem um grupo no zap, acho que foi todo mundo muito um pro lado, outro pro outro. A gente não tem, não. É bom assim, melhor não ter, não. Deixa esses caras separados.
O Ronaldinho é um craque dentro de campo, mas também em fazer festa. Eram boas mesmo?
– Ele é bom de festa, mas o Neymar é melhor. Isso daí não tem comparação, Neymar é no luxo. Eu prefiro o Neymar, as do Ronaldinho eram boas, mas eu não ia muito não. Era mais o Jô que ia, a preferência de atacante era o jogo. Não tinha como, festa na casa dele ficar três dias, não dava. Muita coisa, muito intenso.
E como que são as festas do Neymar?
– Acho que a alegria dele é o charme da festa. Não dá para revelar muita coisa não, acho que só quem vai sabe. Por isso que não tem telefone, morre lá. Acho que o carisma dele é o essencial para festa dele acontecer.
E como foi um papo em que o Cássio, no Corinthians, te disse que você não era tão baladeiro?
– Foi jantando, cara. Acho que depois de três, quatro meses, a gente tinha alguns jogadores no grupo que eram bons de noite. Os caras gostavam de sair e aí eu saía pouco, até porque eu não consigo sair. Parece que quando eu saio é o Mickey na Disney, quando eu estou nas baladas, então acabo que eu fico mais em casa. E aí ele brincou falando isso: “Ah, você não é o André Balada não, que a gente conhece, né?” Mas é isso, acho que na maioria dos clubes sempre ficou um pouco essa imagem, assim. Depois que se criou esse André Balada, do cara que vai vir e vai quebrar a cidade no meio, fazer tudo o possível e quando vê, chega um cara totalmente quieto, tranquilo. Não soltinho, mas quieto, tranquilo, que cumpre os horários, gosta de treinar e fica numa boa.
Apesar de tudo isso, essa pressão do apelido, você chegou a ser convocado para a seleção brasileira. Foi uma grande experiência?
– Acho que o importante é ir, né? Se você tirar e depois filmar, ele tá ali. Acho que realmente, ao todo, joguei uns 40 segundos, mas não tenho vergonha nenhuma disso. Acho que o mais importante é você atingir esse auge que é ser convocado para a Seleção, e eu acabei sendo convocado. Não só uma vez, acho que três vezes, se não me engano. Então, realizei esse meu sonho. E uma das coisas de parar de jogar futebol realizado entra essa convocação para a Seleção, que eu acho que é o auge de todo jogador. E é raro você ir para a Seleção, né? Jogar ou não, acho que é um detalhe. Tem gente que joga e faz merda.
Faltou alguma coisa na sua carreira, André?
– Ganhar um Brasileirão. Eu acho que era meu grande sonho ser campeão brasileiro, porque eu lembro que na minha infância é muito marcante aquele time do Santos, do Robinho, ganhando o Brasileiro (em 2002). Eu sou um pouco antigo, da época do mata-mata, classificava oito, então eu tinha essa admiração pelo Brasileiro. Então, faltou ganhar um Brasileiro, Libertadores nem tanto. Acho que o Brasileiro era o que mexia mais comigo.
É verdade que o Ronaldo Fenômeno ligou para você bravo?
– O santista tem uma bronca com o Corinthians, que é difícil. É clássico lá. E tem toda aquela questão que o Corinthians já ganhou de seis ou sete, e a gente vinha num momento tão bom que eu acho que era uma possibilidade mais próxima que o santista tinha visto nos últimos anos de tentar devolver esse resultado. E a gente no jogo ficou mais preocupado em fazer palhaçada do que em fazer gol. Foi um jogo que o Chicão levou um chapéu, a gente fez um monte de coisa. E aí no dia seguinte ou na semana seguinte, na época era Nextel, o Ronaldo falou pro Robinho que da próxima vez era para jogar sério, senão ele ia meter a porrada na gente.
E aí vocês se encontraram com o Corinthians jogando mais sério?
– Não, aí virou clássico de verdade, a gente ia ganhar a porrada comeu, não tinha mais como não. E realmente esse jogo, acho que a gente foi muito bem, a gente perdeu a oportunidade de fazer mais gols. Depois ficou mais difícil, os caras não davam mais brecha para a gente. O Chicão, então, esquece, não podia ver o Neymar.
Você falou de Ronaldo, falou de Ronaldinho Gaúcho, falou de Neymar, mas como foi recentemente o convite do Romário para você jogar na América-RJ?
– O Romário eu não vou normalizar nunca. Ele é pai do meu melhor amigo, o Romarinho é um dos meus melhores amigos. E toda vez que eu vejo o Romário, eu não consigo normalizar. Eu já falei isso para o Romarinho. E a gente num dia saiu, e o Romário saiu com a gente. E nesse dia ele me pegou no pagodinho que a gente estava, aí me convidou para o América. E a cabeça não tinha como negar. E decidi, eu apertei a mão dele. E no dia seguinte o Romarinho me ligou desesperado de manhã. Ele falou: “Cara, você tava doidão? Você não lembra que apertou a mão do meu pai? Apertou a mão do meu pai, não tem mais volta, é contrato assinado”.
– Foi uma experiência muito bacana conviver com ele, jogar na América. Falei isso para ele e falei isso para o grupo do América que talvez se eu parasse de jogar e não tivesse jogado no América e ter convivido ali, eu acho que eu seria um pouco amargurado. O América me ressuscitou de um sentimento que eu não tinha. Eu estava um pouco realmente chateado com o futebol e o América me trouxe de novo essa coisa de ser bom e ser legal e ser engraçado. O Romário é um grande ídolo, é o cara que é a minha maior referência. E eu nunca vou normalizar estar perto dele, não tem como. Até porque ele é um cara que, pela personalidade dele em si, não deixa tu ficar normal também. Ele não deixa tu relaxar, né? Qualquer hora ele pode te falar uma coisa forte, então acho que foi bem bacana.
Antes do América você estava decidido a parar de jogar? Por quê?
– Estava, se não me engano foi a Ponte Preta que eu saí e eu vi cada coisa assim maluca, que eu falei, cara, acho que o futebol realmente deu para mim, né? E aí eu estava desistindo de jogar, já não queria mais, já estava nessa coisa, está chato, estranho, não está legal. Talvez eu esteja muito chato, ranzinza. Vou parar e aí o Romário me fez o convite. E por isso que eu falo que talvez se eu tivesse parado e não jogado na América, eu ia parar um pouco chateado. E o América me trouxe essa coisa da magia.
– Terminar jogando, acho que é importante isso, o jogador tem que parar jogando. E eu consegui parar jogando, parar com o carinho de uma torcida legal, poder jogar com o meu amigo, que a gente sempre convivia, mas a gente nunca teve uma rotina. Foi muito bacana, muito maneiro conviver com o meu maior ídolo, que é o Romário, treinar com ele, ser titular e deixar ele na reserva, que é algo para poucos. Eu não esperava que o final de carreira fosse assim, não.
Tem alguma história boa do América-RJ?
– O Romário era um pouco sistemático. Um pouco não, acho que muito. E aí ele obrigou a gente, a todo mundo, a jogar de chuteira preta. Só que eu odeio jogar de chuteira preta, eu falei pra ele ninguém é igual a todo mundo. Não tem como jogar com a chuteira preta. Então a gente acabou tendo que pintar a chuteira de pretoa. E quando você pinta acaba com a chuteira, mas era a ordem do presidente, não tinha o que fazer. Acabou com a minha chuteira toda. Horrível, nunca imaginei jogar de chuteira preta e tive que jogar por causa do Romário. Não tinha o que fazer.
E lá dentro do vestiário, o Baixinho dava bronca em todo mundo?
– Ah, o Romário não tem essa. Não tem filho, não tem neto, não tem primo, amigo. Quando ele tem que falar as verdades, ele fala na cara. Mas até que no América ele estava mais tranquilo. Acho que é a idade. Paz e amor, o velhinho tá tranquilo.
E como será o André torcedor agora que aposentou?
– Eu gosto de um jogo decisivo. Acho que não dá pra tu assistir jogo de meia tabela que não vale nada, eu prefiro assistir em casa. Agora, quando eu entro na fase decisiva de final, de semifinal, e quando meu time está, e meu time sempre está sendo campeão, eu vou lá assistir, vou lá ter esse privilégio, porque eu não tinha quando era mais novo. Cabo Frio é muito distante do Rio, ir no Maracanã era uma distância muito longa. Então, quando dá, eu vou sempre lá, levo minha filha para ver o jogo também, ela sabe o time que tem que torcer.
Quando você se torna profissional acaba perdendo um pouco dessa essência de torcedor. Como lidou com isso?
– Eu realmente, quando era mais novo, era muito fanático, e depois que você joga, entende que depois conhece jogador e desgosta. Tem amigos que falam isso. É melhor você não virar amigo do teu ídolo, porque daqui a pouco você vai estar desgostando do negócio. É realmente isso, assim, os meninos até brincavam porque agora que eu parei de jogar, agora que estou mais tranquilo, vou assistir os jogos. Sempre fui torcedor, mas deixei um pouquinho de lado esse torcedor para ser professional. Acho que você acaba esquecendo um pouco disso, você defende o time que joga. Depois que para, acho que você vai lá pra curtir um pouquinho, porque é diferente, é uma visão diferente de torcedor.
Mas você gosta de ir na arquibancada?
– É, eu sou arquibancada, eu sou Norte (risos).
Qual o time você torce?
– Não sei, no Maracanã tem jogo direto.
Como foi aquela época no Vasco? Teve que comprar o próprio meião para treinar?
– Quando joguei no Vasco era bem complicado, não tinha essa estrutura que tem hoje. E a gente fica feliz em ver a estrutura que o Pedrinho está montando e tudo isso, porque é o futebol do Rio. Acho que tem que ter essas coisas, porque agrega pra gente que é daqui do Rio. Mas não era só no Vasco, tem muita história de todos os times.
O que aconteceu na Ponte Preta que você perdeu o encanto pelo futebol?
– Acho que, felizmente, eu convivi num futebol de muito alto nível, de times organizados. E você chega a esses times assim, igual eu cheguei na Ponte Preta, me deu muito conflito, acho que tinha algumas coisas muito peculiares. E eu não concordava. No final de tudo, o presidente foi um cara que honrou tudo comigo, eu não tenho nada para falar dele. Só que era meio estranho, ele começava a pagar segunda e acabava sexta. Na minha vez o alfabeto virava ao contrário, eu era o último, sabe?
– Então, teve essas coisas assim, mas, cara, eu não tenho muito o que falar na questão, assim, porque, como eu falei, o presidente foi um cara que me honrou ali, acabou virando amigo. Mas é isso, dia a dia, a dificuldade de lidar com outras pessoas estava grande. E lá acabou chegando um treinador que a gente já não era tão amigo, coisas do futebol. As sacanagenzinhas que vão te dando preguiça e te faz repensar de por que que tu não está em casa. E lá aconteceram algumas coisas assim, não só comigo, com outras pessoas próximas, que me fizeram repensar e voltar pra casa.
E como é a sua relação com o dinheiro?
– Quando se fala balada, é isso, pensam que você torra dinheiro, que bebe pra caramba, que é mau caráter, que é alcoólatra. Envolve tudo isso, então acho que não é porque você sai que você faz tudo isso. Tem gente que não tem essa fama, que não tem isso e faz muito pior. O que me incomodava do André Balada era isso. As pessoas me julgavam como uma pessoa que eu não era, não me incomodava o sair, o que me incomodava era me julgar uma pessoa que eu não era só pelo apelido do André Balada.
– Isso daí me afetava muito, porque eu sempre fui muito preocupado com isso, com o horário, com o que eu faço com o meu dinheiro, com a educação, com tudo isso. Por isso que eu brinco que o André Balada é um personagem, quem conhece o André Felipe mesmo sabe que é totalmente diferente.
E você teve essa preocupação na sua vida de investir dinheiro, de ser preocupado com aquilo que você ganha?
– Ah, eu tive. Quando eu falo que eu queria parar com 30 anos, desde os 25 eu me preparei para isso. Eu tive boas pessoas próximas, tive uma equipe que me ajudou a isso. E me planejei, porque a gente sabe que aparece muita gente de interesse. Então eu tive boas pessoas, graças a Deus, que me deram um bom direcionamento para isso. E consegui acho que ter o necessário para viver bem. Acho que realmente isso daí é uma questão que hoje o jogador de futebol está mudando muito.
– Você vê, por exemplo, o próprio Thiago Galhardo, que já é formado, entre outros que dão entrevistas melhores. Só que ainda tem os fora da curva aí que fazem as maluquices, né? Reloginho, bitcoin, pirâmide. Então acho que tem esse aventureiro ainda. Eu estou fora, nem oferece essas coisas que eu estou fora. Agora estou em um clube de futebol, pelo menos lá ninguém me engana e me rouba. Lá eu sei como é que funciona, por isso que eu quis entrar nesse negócio.
Você foi fazendo o quê? Comprando carro, terreno, essas coisas?
– Acho que investindo também. Acho que tem vários tipos de investimentos. Para falar de investimento, acho que tu tem que entender o que tu quer, o que funciona pra você. Tem investimento no banco, tem investimento em construção, tem investimento em várias outras áreas. Então acho que a minha carteira está equilibradinha, posso dizer assim. Acho que é a melhor resposta. Quem entende de finanças, vai entender.
André, tu consegue eleger a melhor dupla de ataque que você jogou?
– Ah, Diego Souza. O cara que mais me entendia. Tudo bem que o Neymar é fenomenal, mas o Diego Souza, pra mim, foi a melhor dupla de ataque. Fenômeno, ele era sensacional. Acho que ele clareava tudo pra mim e ficava tudo mais fácil.
E o melhor jogador?
– Ah, o Neymar. Acho que o mais fora de série. Foi o Neymar que eu vi que realmente fazia coisas muito fora de série. Então acho que tudo bem que o Ronaldinho era um cara maravilhoso, jogou muito, mas o Neymar pra mim, até pela amizade que a gente tem, foi fora de série.
E o grande momento como jogador?
– O melhor momento foi quando a gente ganhou a Copa do Brasil [2010 pelo Santos]. Essa Copa do Brasil foi muito marcante, tinha muito esse desejo de fazer história no Santos. A gente tinha colocado isso como meta, que seria marcante, porque era um título que o Santos, dos poucos, não tinha. Então a Copa do Brasil foi muito marcante. Até pela idade também, a gente comemorou direitinho.
Qual o jogador mais baladeiro?
– Rodriguinho, vai ficar bravo comigo, mas Rodriguinho era bravo. Ele era uma dupla boa fora de campo. Por sinal, um dos poucos amigos que eu tenho no futebol é o Rodriguinho. Amo aquele menino.
E qual o motivo de ter poucos amigos no futebol?
– O jogador sofre muito preconceito. Então, você imagina dois ou três jogadores em um lugar, as pessoas já acham que estão fazendo festa, que estão fazendo tudo. Então, eu tentava filtrar isso. E até pra mim, assim, ter um conhecimento melhor de tudo, meus amigos eram todos fora do futebol, isso daí abriu muito minha cabeça para tudo. Então, acho que eu preferia não andar com jogador, não. Eu tenho um amigo meu que falava, eu não ando com jogador de futebol não, que é complicado. Então, são poucos que eu andava, que frequentavam a minha casa, assim, dá pra contar nos dedos. Mas, por isso, acho que as pessoas têm muito preconceito. Então, eu preferia evitar. Preferia ser só eu mesmo, deixa um só, tá bom. Mais que um, já vira loucura, suruba.
Como foi o papo com o seu pai que o fez jogar além dos 30 anos?
– Ele não aceitou. Pelo meu pai, eu jogaria até os 40 anos, sem perna, sem conseguir andar. Mas chegou o momento que eu tive que explicar a ele que não estava fazendo bem para mim. Acho que era hora de parar, não estava fazendo bem pra mim, já não conseguia concentrar e render. O corpo também já não responde mais. E ele não aceitou muito bem não, mas acho que tem uma hora que você tem que pensar em si. E tive que pensar no André e não no meu pai. E aí é terapia pra entender isso, se posicionar assim, porque não é fácil. Você falar um não para o teu pai e tomar uma decisão é difícil, mas acho que ele vai curtir. Agora o André é mais filho dele, mais próximo.
Como era a sua relação com o Renato Gaúcho?
– O Renato eu falo para todos os jogadores que eu conheço que todo mundo merece trabalhar com ele um dia. Trabalhar com o Renato é uma experiência que todo mundo tem que viver. É um barato, ele me deu muitas dicas. Ele me zoava muito, me deu muitas dicas e uma delas ele falou que que ele tinha isso também quando ele jogava, as pessoas pegavam no pé dele e por isso ele chegava cedo e treinava muito, porque ele sabia que ele ia ser cobrado a mais pelas coisas que ele fazia fora de campo.
– Isso daí eu peguei para mim e comecei a entender que realmente é isso, já que você gosta de fazer algumas coisas que as pessoas vão te julgar, você tem que dar um algo a mais e se preparar a mais. E eu comecei a fazer isso logo depois do Renato. Mas o Renato é um barato, eu tenho saudade de trabalhar com ele. E agora que eu parei, vou marcar de tomar um chope com ele ali em Ipanema.
Você falou que é um ex-jogador, mas não ex-atleta. Quais esportes gosta de praticar?
– Gosto de fazer todo tipo de esporte, acho que minha família tem muito dessa questão esportista. Eu faço até para me sentir bem, até para ocupar a cabeça, mas o que eu mais gosto mesmo é a bicicleta. Eu gosto muito de andar de bicicleta. Estava um pouquinho parado aí, mas agora eu já vou tirar e vou começar a rodar com ela de novo, às vezes eu vou na Paineiras ali, que é um trajeto mais tranquilo. Eu vou daqui em Grumari. Eu tenho um grupo de bicicleta aí que a gente anda, de speed. O pessoal não vê muito porque a gente sai de madrugada, pessoal não entende o que o André está fazendo aí. Mas eu estou aí, se vir uma bicicletinha preta rodando aí, sou eu.
Seu pai (Lenílson, formado no Vasco) foi jogador de futebol, qual era a relação de vocês? Por isso ele se preocupou tanto com a sua aposentadoria?
– Eu acho que também é um pouco de medo de como vai ser o pós carreira. Mas tem essa questão também, meu pai jogou até os 40 anos e ele acha que eu tenho que jogar igual a ele ou mais. Mas eu acho que ele já entendeu, ele já se convenceu. Acho que eu estava fazendo muito mais entretenimento para ele do que para mim. Era muito mais entretenimento ele ver eu jogar do que tudo, do que prazeroso para mim. Então a gente teve essa conversa, ele entendeu.
– Mas foi muito bacana, meu pai eu brinco que ele jogou mais do que eu. Meu pai era craque, todo mundo sempre falou isso. Na região, em Cabo Frio, a gente é conhecido por isso. Eu sou conhecido por ser filho dele, não ele por ser meu pai. Então é bem bacana essa relação que a gente tem, acho que a gente tem que curtir mais essa relação de pai para filho, porque sai muito cedo de casa e está na hora de ter uma relação mais eu e ele, assim.
– Meu pai é artilheiro, jogava muito, só que ele era canhoto. Só que esses dias eu fui buscar na internet e ele fala que era artilheiro, mas tinha cinco gols computados. Artilheiro de cinco gols não existe, ele fala que na época dele não passava na televisão. Mas meu pai realmente foi craque e, graças a Deus, eu pude vir para realizar um sonho dele que foi atingir coisas que ele não atingiu. Então, eu sou muito grato para o meu pai porque ele foi minha referência, quem me ensinou tudo no futebol.
Qual o treinador que mais gostou de trabalhar? Você chegou a trabalhar com o Tite?
– Trabalhei com ele no Corinthians já numa reta final dele indo para a Seleção, a gente não teve muito contato não. Não sei se isso foi bom ou se foi ruim. Mas o que eu mais gostei também foi o Jorge Jesus. Eu acho que é um grande treinador. Queria muito ver ele na Seleção, porque eu acho que ele também tem esse sonho de treinar a seleção brasileira. E ele é um cara que entende muito futebol, muito, muito mesmo. É obcecado, acho que você vê o trabalho que ele fez no Flamengo, então, é chato para caramba, mas é muito bom treinador.
Conta uma das suas várias resenhas da carreira…
– Tem uma no Galo que eu vim pro Carnaval. Eu gosto muito do Carnaval, então eu acabei vindo pro Carnaval no Rio de Janeiro e a gente tinha um voo pra Libertadores que era num sábado e eu vim na sexta-feira, se eu não me engano. E o voo era de manhã, e eu fui me apresentar no Galo de abadá. Eu fui chegar para treinar de abadá, véspera da viagem, eu fui direto da Sapucaí… tu imaginou eu transitando no aeroporto de camarote Brahma, cinco da manhã e me apresentar no Galo? Então acho que foi um período no Galo, acho que foi o período mais rebelde que eu tive na minha vida.
Você contou uma do Ronaldinho que o Levir Culpi falou se ele conseguiria bater a bola…
– Acho que o Levir tinha alguma implicância com o Ronaldinho, era complicado. E aí ele pegava no pé do Ronaldinho, se o Ronaldinho conseguia bater bola com curva. Falta com curva. Então, você imagina você perguntar para o Ronaldinho se ele consegue bater uma falta com curva? E o Levir fazia essas coisas direto com ele. O Levir ele tem uma fama de pegar no pé dos jogadores que eram estrela. E no Galo ele chegou para isso, né? Então ele teve muitos problemas com alguns jogadores lá, mas é um grande cara. É um grande treinador, tanto que a gente conseguiu ganhar a Copa do Brasil com ele.
– É o burro com sorte, ele falava que era o burro com sorte. Mas é um cara que fiquei com um carinho muito grande por ele. É um dos treinadores que, se eu pudesse pedir desculpa por alguma atitude, o Levir seria um deles. No momento que aconteceu, eu não entendi bem, mas foi muito mais erro meu do que dele. E eu achava que a culpa era dele. E no final de tudo, era eu que estava sendo muito rebelde. Então, o Levir é um dos treinadores que, se eu pudesse um dia ter oportunidade de pedir desculpa, que eu que estava errado, ele seria um deles.
Alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de falar?
– Eu sou muito bem realizado com o futebol, o que vocês falaram foi importante. É importante frisar isso, e eu venho frisando sempre, porque as pessoas veem o jogador de futebol famoso, com dinheiro, e esquecem um pouco da essência do cara, o que ele passou para estar ali. Então você esquece um pouco de dar esse suporte, você acaba julgando muito, você acaba apontando muito o dedo. Por exemplo, essa questão do André Balada, as pessoas sempre me julgam muito, me apontam muito o dedo como se fosse uma pessoa mau-caráter. Então, eu não sou mau-caráter, quem me conhece sabe disso, sabe que eu sou uma pessoa totalmente alto astral, sou legal.
– É como eu falei, é claro que algumas atitudes minhas foram totalmente erradas, mas também não foi fácil para mim, um cara que com 15 anos saiu de casa ter que sobreviver no meio de leões e virar homem e competir. E tudo isso com pouca idade não foi fácil. Faz parte, eu acho que são erros que você não tem que cometer, mas acaba cometendo. Então deu tempo de reverter isso, de mudar. E é isso, acho que chega o final de uma carreira que, pra mim, foi totalmente de sucesso. Tive mais do que eu imaginei, fui mais feliz do que eu imaginei. Se alguém teve alguma desavença comigo, acho que muito pouco ou raramente. Porque continuo falando que eu sou um cara legal, não tenho problemas com ninguém.
– Peço desculpas, igual eu pedi para o Levir, que eu acho que era importante, porque foi um cara que tentou me dar suporte e eu não escutei. E é isso, acho que é o fim. É o fim e um recomeço de um novo André. Agora acho que não tão balada, agora é um cara mais empresário e aí eu não sei o rótulo que vão me dar, CEO, talvez? Aí ninguém quer dar, né? Isso que é complicado, mas… está valendo. Quem me encontrar na rua e quiser me convidar para tomar um chope, pode me convidar agora. Não devo nada a clube nenhum. Então, acho que é isso.
– Agradecer a todos os clubes que eu trabalhei, que eu passei, em especial alguns, como o Sport, que foi um clube que que me abraçou de uma forma que eu nunca esperava, tem um carinho muito grande. O Santos, que me abriu as portas para o futebol. E os outros também agradecer, o Vasco, o Atlético-MG, que foi o clube que eu ganhei títulos, o Cuiabá, enfim. É muito time para falar, né? Mas foi uma experiência maneira, foi uma viagem boa que chega ao fim no momento que tem que chegar, um pouquinho depois do que eu planejei, mas foi como eu sonhava. Estou parando realizado, feliz e leve.