De novo nos pênaltis. De novo no Beira-Rio. O Inter escreveu na noite desta quarta-feira mais um capítulo melancólico em sua história recente. Desta vez, na queda para o América-MG na Copa do Brasil diante de 36 mil pessoas. O êxtase do 3 a 0 no primeiro tempo se transformou em decepção. O candidato a herói virou vilão. E a ironia: O Colorado caiu para o rival sem errar nenhuma cobrança. A eliminação veio com requintes de crueldade.

Com exceção do vice brasileiro de 2022, os últimos meses têm sido de insucessos. Do ano passado para cá, o Inter colecionou eliminações para Grêmio, Globo-RN, Melgar, Caxias e América, as três últimas em casa e nos pênaltis. O tão sonhado “pix” de R$ 4,3 milhões se esfarelou, assim como a performance física da equipe nos segundos tempos dos jogos.

Logo após o revés, houve um início de protesto no pátio do Beira-Rio que não ganhou força. Embora um ou outro estivesse mais exaltado, o sentimento parecia ser de frustração, esta nítida nas expressões do técnico Mano Menezes e do presidente Alessandro Barcellos nas entrevistas. Talvez pelas doses de crueldade na desclassificação. O Inter foi do céu ao inferno em poucos minutos.

– Cenário cruel depois de todo empenho. Infelizmente, não conseguimos classificar. Momento de baixar a cabeça, baixar a poeira. Temos um Brasileiro extenso, Libertadores com chances de classificar. Hoje, com requintes de crueldade sem dúvida alguma – disse Pedro Henrique, único jogador a falar com a imprensa depois do jogo.

Mano Menezes na eliminação do Inter para o América-MG — Foto: Bruno Ravazzolli

Mano Menezes na eliminação do Inter para o América-MG — Foto: Bruno Ravazzolli

180 minutos cruéis

O Inter se mobilizou dentro e fora de campo para reverter a vantagem do América-MG. Duas horas antes do jogo, um número considerável de torcedores se reuniu nas imediações do Beira-Rio para promover as “ruas de fogo” e criar uma atmosfera positiva para os jogadores.

No vestiário, o ambiente era de confiança pela retomada. Momentos antes da bola rolar, uma surpresa. Mano optou pelo garoto Lucca, que seria titular pela primeira vez na temporada, no lugar do contestado Alemão. A resposta do estádio foi positiva à mudança, com aplausos, gritos e cânticos.

A partida iniciou um pouco diferente da expectativa criada. A equipe trocava passes para os lados, para trás e parecia lenta. Até que a santa bola parada abençoou o Inter. Em um intervalo de 13 minutos, De Pena cobrou duas faltas pela esquerda para Nico Hernández e Igor Gomes marcarem e anularem a vantagem mineira.

O futebol não era vistoso, mas havia luta e entrega. Campanharo se destacava à frente da zaga. Na melhor combinação na etapa inicial, Lucca sofreu pênalti, confirmado após consulta no VAR. Pedro Henrique acabou com o jejum de 18 jogos e encaminhva classificação às quartas. O que parecia impossível se materializava no 3 a 0 no Beira-Rio.

O Coelho voltou com alterações, e o técnico Vagner Mancini empilhou atacantes. Para dar gás ao time que sofre fisicamente, Mano colocou Alemão e Jean Dias. Na primeira jogada entre ambos, Renê recebeu livre na área e mandou a bola da classificação sobre a meta de Mateus Pasinato.

A partir deste lance tudo mudaria no Beira-Rio. O América-MG manteve o ímpeto e descontou com gol de cabeça de Juninho, de 1,73m, aos 31. As cartadas finas de Mano foram Vitão, improvisado na direita, e o garoto Estevão. A partida foi para os pênaltis, e o cenário já não era dos mais otimistas.

A crueldade com o Inter parte do princípio que todos os jogadores acertaram as cobranças. Alemão contou com a sorte. Depois do goleiro rival ter a defesa anulada pelo VAR, o atacante converteu. O pior estava por vir. De Pena, com duas assistências no jogo, virou vilão por acidente. Na batida, fez o gol, mas deu dois toques na bola com o escorregão no pé de apoio. VAR em ação novamente e pênalti invalidado.

A responsabilidade caiu nas costas de John, que nunca havia defendido um pênalti profissionalmente na carreira. E a estatística negativa se mantém. Os batedores do América-MG tiveram 100% de aproveitamento, com Iago Maidana fechando a série. Classificação americana às quartas de final.

Jogadores do América-MG comemoram no Beira-Rio — Foto: Bruno Ravazzolli

Jogadores do América-MG comemoram no Beira-Rio — Foto: Bruno Ravazzolli

Os 180 minutos foram cruéis. O Inter foi superior nos dois jogos, abriu 3 a 0 em Porto Alegre, perdeu gol feito com Renê, levou gol de cabeça de um jogador baixinho e foi eliminado nas penalidades acertando todas as cobranças. Além disso, na ida, Alan Patrick foi expulso por atingir o rosto do rival, na origem do gol anulado de Mauricio, e os gols sofridos foram nos acréscimos do segundo tempo.

– Se ver o desempenho do Inter nos 180 minutos contra o América-MG, é muito absurdo não passar às quartas de final – resumiu Mano.

O mês de junho começa nesta quinta-feira para o Inter com treino no CT do Parque Gigante. O time volta a campo no sábado, às 21h, contra o Santos, na Vila Belmiro. Agora, só restam duas competições: Brasileirão e Libertadores. (GE)