Candidatos do partido do presidente Jair Bolsonaro, o PL, receberam 21 vezes mais doações de empresários do agronegócio que os do PT, do seu principal adversário na corrida à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de doações de pessoas físicas e da Receita Federal, sócios de empresas ligadas ao agronegócio desembolsaram R$ 15,3 milhões para campanhas de 480 candidatos.
Um terço desse valor foi para o partido do presidente: o PL recebeu R$ 5,4 milhões, que foram distribuídos entre 66 postulantes. O maior beneficiado é o próprio Bolsonaro, que levou R$ 3,2 milhões.
Os dados são da última segunda-feira (26) e se referem apenas a doações diretas para candidatos –também é possível doar para as legendas.
O agronegócio é uma das principais bases eleitorais do presidente, que atuou para flexibilizar regras ambientais, reduziu multas, acelerou a aprovação de novos registros de agrotóxicos e flexibilizou a compra de armamentos para moradores de áreas rurais do país.
Apesar de ter uma trajetória parlamentar voltada para a defesa dos militares, Bolsonaro adotou a vida no campo como uma das peças centrais na construção de imagem. Costuma participar de eventos agropecuários e de montarias e adotou um jingle em ritmo de sertanejo.
Com isso, o presidente manteve sua maior força eleitoral em estados com a economia ancorada no agronegócio e tem melhor desempenho nas pesquisas de opinião em estados das regiões Sul e Centro-Oeste.
No período eleitoral, o núcleo duro da campanha de Bolsonaro buscou estreitar a relação com empresários do agro e arrecadar recursos. No início de setembro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez um tour por cidades de Mato Grosso e conseguiu impulsionar as doações para a campanha do pai.
O resultado é que, do total de recursos doados pelo setor a candidatos de todos os partidos, 21% foram diretamente para Bolsonaro, o que faz dele o postulante desta eleição a arrecadar mais doações no agro.
Seu maior contribuinte é o produtor rural Oscar Luiz Cervi, que direcionou R$ 1 milhão à tentativa de reeleição do presidente. Nascido no Rio Grande do Sul, Cervi é radicado em Mato Grosso do Sul há cerca de 40 anos e é dono de fazendas que produzem soja, milho e algodão.
O segundo candidato que mais recebeu recursos de empresários do agronegócio foi o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que arrecadou R$ 968 mil com nove empresários para sua campanha ao Governo de São Paulo. O principal doador foi Luciano Maffra de Vasconcellos, que contribuiu com R$ 300 mil.
Na contramão de Bolsonaro e seus aliados, o PT do presidenciável Lula teve baixo desempenho na arrecadação de recursos entre empresários do agronegócio, a despeito de liderar as pesquisas de intenção de voto.
Ao todo, 30 candidatos petistas foram apoiados financeiramente por empresários pelo setor, mas com quantias muito menos expressivas. Apenas 256,8 mil foram repassados a candidatos do PT.
Mais da metade deste montante foi destinada ao candidato a governador da Bahia Jerônimo Rodrigues, aposta do partido para a sucessão de Rui Costa (PT). O petista arrecadou R$ 135 mil de três empresários.
O maior doador foi Wilson Paes Cardoso, pecuarista e prefeito da cidade de Andaraí (BA) pelo PSB e que tem relação próxima com o senador Jaques Wagner (PT-BA). Ele repassou R$ 98 mil para a campanha de Jerônimo.
O valor foi superior ao de seus dois principais adversários, que são de partidos à direita e têm bases eleitorais mais sólidas em regiões com agronegócio forte, como o oeste da Bahia. Candidato bolsonarista no estado, João Roma (PL) recebeu R$ 74 mil de cinco empresários. ACM Neto (União Brasil) recebeu R$ 100 mil.
O ex-presidente Lula, por sua vez, não conseguiu fazer com que as pontes que construiu com parte dos empresários do agronegócio se revertessem em doações para a sua campanha.
O petista recebeu singelos R$ 1.983 e é o 15º da legenda no ranking de arrecadação do setor. Sua única doadora foi a sua própria mulher Rosangela Silva, a Janja, que é proprietária de um sítio no interior do Paraná.
Desde o início deste ano, Lula tem buscado estreitar relações com o empresariado do agronegócio, com sinalizações ao setor. Uma delas foi a escolha de seu candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador de São Paulo e com fortes raízes no interior paulista.
Antes das convenções partidárias, fez alianças com empresários em Mato Grosso que resultaram no apoio do PT à candidatura ao Senado do deputado federal ruralista Neri Geller (PP). A parceria teve o apoio do ex-governador Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do país.
O senador Carlos Fávaro (PSD), que está em meio de mandato e não concorre na eleição deste ano, também declarou apoio a Lula e se tornou um interlocutor do petista com o agro.
Questionado sobre a falta de doações do agro campanha de Lula, o deputado Neri Geller disse que o núcleo da campanha petista não pediu doações.
“Nas conversas que tivemos, nunca foi falado em questão financeira, o apoio é mais programático. Estamos tocando a campanha de Lula em Mato Grosso e tenho certeza que ele terá um bom desempenho aqui no estado”, disse à reportagem.
A campanha do ex-presidente Lula está sendo majoritariamente financiada com recursos repassados pelo partido. Dos R$ 91 milhões repassados até esta sexta-feira (30), 96,7% vieram do próprio PT.
Ao todo, as doações de pessoas físicas aos candidatos que concorrem a todos os cargos na eleição deste ano somam R$ 437,8 milhões –menos de 10% do fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões.
Quem mais arrecadou foram os candidatos do PL (R$ 71,2 milhões, ou 16% do total), seguidos de PSD (R$ 39,1 milhões) e PT (R$ 32,1 milhões). A maioria das contribuições (77,6%) são para quem tenta um cargo na Câmara ou nas Assembleias estaduais.
Para o levantamento, a Folha de S.Paulo cruzou os dados de doações por pessoas físicas a candidatos com bases da Receita Federal de quadro societário e área de atuação das empresas.
Nas situações em que um mesmo doador era sócio de mais de uma empresa, foi considerada apenas aquela com maior capital social.
Foram consideradas contribuições apenas para candidatos, excluindo-se as feitas diretamente aos partidos.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal proibiu as doações de empresas, o que já passou a valer nas eleições municipais de 2016.
As campanhas podem ser financiadas com recursos públicos (fundo eleitoral e partidário) ou doações de pessoas físicas, que não podem contribuir com mais de 10% dos seus rendimentos brutos declarados à Receita Federal no ano anterior ao pleito.
Fonte: FOLHAPRESS