Os painéis com gravuras multicoloridas e a reportar grandiosas belezas arquitetônicas da terra-mater de além-mar, nos inspira a uma viagem através do tempo. Logo vem a nossa memória a história transmitida nos bancos escolares, que contava sobre as caravelas singrando os mares nunca dantes navegados, bem como a imagem dos bravos navegadores, responsáveis pelo descobrimento das terras em que vivemos. Navegadores audazes legatários do nosso rico idioma, da religiosidade e dos costumes e tradições que fizeram nascer uma nova civilização consorciada em feliz miscigenação com o sangue dos nativos e especialmente dos negros da Guiné. Então ficamos divagando, ora dando asas a imaginação, embalados pelos favônios ventos das lembranças, acondicionadas no relicário da nossa memória, sustentadas pelos proeminentes feitos dos ilustres precursores desta nova terra, destemidos filhos da querida Pátria Lusitana de que contava nossos mestres.

Nesta oportunidade, voltamos a conviver com a realidade hodierna degustando a saborosa culinária portuguesa e vinhos que recordam as tabernas de Alfama, ao som de dolentes fados, fazendo as horas passarem sem percebermos pelo magnetismo da ambiência agradável de frequentar. Na Taberna Portuguesa vivemos as emoções fruto do calor humano dos exigentes e assíduos convivas e comensais da boa culinária. Onde tudo se faz aconchegante e atraente, num cenáculo onde o passado e o presente entremeados dão vazão a nossa imaginação e ensejo a prestarmos homenagens em pleito de admiração e respeito aos nossos queridos irmãos portugueses, motivados pelo tilintar das taças de periquitas e ao sabor do gostoso bacalhau das terras Camonianas.

O mais importante é que nesta sedutora Taberna na predominância das cores verde e amarela que agradam tanto a nossa retina, pela similitude policromática com os tons nacionais, nos sentimos felizes e em genuíno remanso de confraternidade a saborear as iguarias tradicionais, sempre bem acolhidos pela singular presença do casal Sonia e Bento, proprietários do estabelecimento, que possuem o poder de  transferir por mágico condão aos frequentadores a impressão de estarem em suas  próprias casas. Entre uma periquita e outra, indicada pelo autorizado “Baco” a substanciar a nossa imaginação, e o bolinho de bacalhau, passamos a relembrar de Portugal incrustado entre colinas verdejantes e situado junto à encruzilhada das rotas marítimas do Mediterrâneo e Atlântico, tendo pela excepcional e invejável posição geográfica forte influência e pendor pelas coisas, belezas e mistérios do mar. Lembramos de sua velha Capital Lisboa com a torre de Belém, os Jerônimos, o Pedrão dos descobrimentos, a Alfama tradicional, o Castelo de São Jorge, o Aqueduto das Águas Livres, o Museu Nacional de Coches, vivendo em perfeita harmonia com a modernidade, isto é, com as amplas avenidas e edificações de arrojadas linhas arquitetônicas, numa prova de que o povo português como poucos sabe pelo respeito ao passado construir um seguro e sedutor futuro.

Aqueles que convivem na ambiência da Taberna Portuguesa, sentem Portugal mais perto, com a Coimbra dos doutores Sintra dos Reis, Fátima dos Milagres e a encantadora Porto, percebem, em suma, a história. Aliás, sentem mais o Brasil no palpitar das incontroláveis emoções emanadas da sensibilidade daquele povo irmão distante que por entender o presente caminham com segurança e consciência nas sendas do futuro, acreditando que deva como bom mestre dar exemplo ao mundo no respeito e preservação de sua história. Não é sem razão que Portugal é conhecido como “o jardim da Europa a beira-mar plantado”. Viver a Taberna Portuguesa aqui na longínqua Cuiabá é sentir um pouco o aroma das pétalas deste jardim encantado e a distância regá-lo no carinho das lágrimas sagradas da saudade e das emoções, como orgulhosos descendentes desta terra de além-mar, pela qual devemos dedicar homenagens e fraterno afeto.

 

Teocles Maciel