Há onze anos, a vida do agente penitenciário Adão Ramos da Silva mudou da noite para o dia. Durante o primeiro curso de aperfeiçoamento com armas, o servidor manuseava uma granada de gás lacrimogêneo quando o artefato acidentalmente explodiu e ele perdeu a mão direita.

O caso ocorreu em 10 de dezembro de 2011, em um stand de tiro, na MT-251, que liga Cuiabá ao município de Chapada dos Guimarães (65 km de Cuiabá). Com o trauma já superado, o agente retornou, nesta semana, a fazer o que mais gosta: trabalhar com manuseio de armas.

Adão ingressou na segurança pública por incentivo do pai, que é militar do Exército e atuou por 25 anos na região de fronteira em Cáceres (220 km de Cuiabá). Antes de prestar o concurso de 2004, ele já havia trabalhado como segurança em iniciativa privada em zona rural e urbana. Atualmente, o servidor está lotado na Cadeia Pública de Mirassol D’Oeste (292 km da Capital).

“Eu sempre gostei dessa área e o manuseio de armas é constante, mas com granada foi o meu primeiro contato. Eu lembro que estava bastante ansioso para o curso. Na hora, eu estava aguardando a ordem de arremesso que seria dada pelo instrutor, mas antes disso a bomba explodiu”, disse.

O servidor lembra que ficou bastante espantado com o barulho, quando se deu conta que estava com o punho completamente dilacerado. “Foi uma sensação horrível, de muita dor física e eu tive a certeza que tinha perdido a minha mão. Porém, ao mesmo tempo, eu tentei manter a calma e entender o que estava acontecendo. Logo, meus outros colegas vieram me socorrer e fui encaminhado para atendimento médico”, ressaltou.

Após o acidente, Adão contou que ficou três anos atuando em outras atividades compatíveis ao cargo, e logo após este período pediu para retornar ao operacional. Porém, nunca pensou em desistir da profissão. “É tudo que eu mais amo fazer, eu não via hora desse retorno. Mas, para voltar a fazer o curso de armamento demorou um pouco mais e para isso eu tive todo apoio da família, de amigos, dos colegas, do nosso superintendente à época, de assistente social e psicológica para conseguir dar a volta por cima”, apontou.

Por fim, Adão leva um aprendizado dos últimos onze anos. “Eu sempre digo que o desânimo e a desistência são inimigos mortais do triunfo e do sucesso. O trabalho e os desafios, não devem ser encarados como obstáculos intransigíveis, mas sim como oportunidade de superação e a realização profissional está na constância e disciplina do nosso trabalho. Eu já passei por muitos outros problemas, mas em nenhum deles eu deixei me abalar. Tudo é aprendizado nessa vida”.

O superintendente regional Oeste do Sistema Penitenciário, Anderson Santana, estava no dia em que aconteceu o acidente com Adão. “Na hora foi uma situação bastante traumática até para todos que estavam ali e no dia anterior fizemos uma instrução de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) e primeiros socorros e os próprios colegas deram o primeiro atendimento. Como havia outros cursos no mesmo local, já tinha uma ambulância em prontidão”, contou.

Ele explica ainda que em todos os cursos de armamento e tiro ou de instrumentos que envolvam explosivos sempre há uma equipe de primeiro-socorro, de enfermagem ou pelo menos um socorrista para dar o primeiro atendimento e depois encaminhar para atendimento médico mais completo quando há uma necessidade de extrema urgência.

Santana destacou o profissionalismo de Adão e comemorou o retorno dele aos cursos. “Essa volta dele é gratificante e apesar de algumas pessoas tentarem convencê-lo de aposentar ele sempre acreditou que iria dar a volta por cima. Ficamos bastante felizes com ele ter conseguido se recuperar desse trauma. Ele vinha de uma vida operacional muito intensa e do dia para noite tudo mudou. Tenho certeza que agora ele se sente realizado e completo nas atribuições da profissão dele”.