O Brasil conta, atualmente, com aproximadamente 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual severa ou cegas, causados por problemas variados. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a maior parte destes casos poderia ter sido evitada. Por conta disso, o mês de abril foi escolhido para conscientizar a população sobre os cuidados com a visão, com a campanha Abril Marrom, que tem como missão reduzir a incidência dos principais problemas que levam à perda da visão e combater doenças oculares que podem levar à cegueira.
Responsável pela metade dos casos de cegueira, a catarata é uma doença que torna o cristalino do olho opaco, provocando uma gradual perda da visão, explica o médico José Procópio, integrante do corpo clínico do Hospital Visão, em Cuiabá. “E essa doença é multifatorial, ou seja, há vários fatores que podem contribuir para que ela se desenvolva. A maior parte dos casos se dá por conta do envelhecimento, mas há casos gerados pelo alcoolismo, tabagismo e diabetes”.
Os sintomas, explica o médico, são facilmente percebidos e envolvem uma visão embaçada, turva e cada vez mais ofuscada, até a cegueira. “A catarata pode ser diagnosticada de forma bem rápida e, o que é melhor, tem cura. Uma cirurgia rápida, simples, resolve o problema e impede que a pessoa que tem a doença fique com uma deficiência visual severa ou cega”.
Outra doença que contribui muito para o número de pessoas cegas no Brasil é o glaucoma. A doença afeta o nervo óptico, matando as células que fazem a ligação do olho com o cérebro. “Isso é causado pela elevação da pressão intraocular e tem como sintomas dor de cabeça intensa, dor nos olhos e visão turva, entre outras coisas. O perigoso é que 8 em cada 10 casos não há sintomas. Embora não haja cura, um tratamento iniciado, por exemplo, em um estágio inicial pode garantir a preservação da visão, controlando a doença”, ressalta Procópio.
Degeneração
Uma das principais causas de cegueira em pessoas com mais de 60 anos, a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) tem sido cada vez mais diagnosticada nos consultórios oftalmológicos. Se por um lado, o crescimento no número de casos está relacionado com o aumento na expectativa de vida da população, por outro, fatores como má alimentação, tabagismo e ingestão de álcool podem contribuir para o surgimento ou o agravamento do problema. Por conta disso, mudanças nos hábitos já na juventude são fundamentais para minimizar as chances de contrair a doença.
A DMRI é caracterizada por alterações na parte central da retina, conhecida como mácula, explica o médico Bruno Procópio, especialista no assunto. “E isso gera uma grande dificuldade nas pessoas em ter uma visão central de qualidade. Isso dificulta, por exemplo, ler, dirigir, assistir televisão e a perda de capacidade de enxergar com nitidez”.
A DMRI tem dois tipos principais: a seca, mais comum, e a úmida, que é a mais grave, que ocorre quando novos vasos sanguíneos anormais crescem sob a retina e vazam fluído ou sangue, causando danos rápidos à mácula e perda de visão central mais rápida. “Infelizmente não há cura para a DMRI, mas há tratamentos específicos que podem reduzir o avanço da degeneração, com vitaminas e antioxidantes no caso da DMRI seca e com medicamentos para a úmida”, esclarece Bruno.
Crianças
Embora em muito menor número do que adultos e, principalmente, idosos, a cegueira também pode atingir crianças. Uma das principais causas é a retinopatia da prematuridade (ROP) uma doença ocular que afeta os bebês prematuros. Ela ocorre quando os vasos sanguíneos da retina não se desenvolvem normalmente.
A ROP demanda um monitoramento próximo, realizado por um oftalmologista. Há tratamentos, mas é preciso tomar cuidado com sua evolução, que pode gerar o descolamento da retina e a cegueira. O ideal é que haja um acompanhamento neonatal para detectar algum tipo de anormalidade. Assim como em todas as doenças, quanto antes ocorre o diagnóstico, maior é a chance de cura ou de redução dos efeitos.
O marrom foi escolhido como cor da campanha por ser a cor mais comum dos olhos do brasileiros. Já o mês remete ao dia 8 de abril, Dia Nacional do Sistema Braille, sistema de escrita e leitura tátil para pessoas cegas ou com baixa visão.