“O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso”, Darcy Ribeiro.
O uso do termo liberdade é mal colocado quando se trata de escravidão. O Brasil nunca libertou o negro, apenas aboliu a lei que fazia do negro um escravo. Depois dela, o que veio foi o abandono. Tanto que Rui Barbosa ordenou que os cartórios queimassem as escrituras de compra e venda de escravos para que os escravocratas não processassem o Estado em busca de indenização por perdas e danos (alguns conseguiram).
Leia Também:
-O modelo de estado e o fim do emprego
-É público, mas é gratuito?
-Trem do progresso
-Solidão governamental
-O fim do Estado – segunda parte – Peso da Máquina
-O fim do Estado!
-O golpe dos semáforos em Cuiabá
Do cativeiro ao abandono foi um passe de mágica, e desde então virou motivo para discursos políticos partidário de “inclusão social”. Mas o que veio na sequencia foi desemprego, sub trabalho, sub remuneração, discriminação, exclusão, quando não encarceramento. Os que resistiram a fome, a humilhação e ao abandono foram habitar a periferia das residências dos donos do poder.
As exceções são por talentos específicos, nunca por políticas de inclusão. Agora, mais de um século depois, ainda são vitimas dos mesmos problemas que podem ser descritos em dois pontos: exclusão do mundo do conhecimento (baixa escolaridade) e vítimas da politicagem (esmola social) que acarreta na velha e malfadada discriminação racial, que na maioria das vezes são ocultas.
Cotas não é política de inclusão. Até porque a medida que eu cotizo um número de vagas, eu excluo o acesso de algum grupo. Isso discrimina o acesso e aumenta ainda mais o conflito. E também o fato de uma ou outra pessoa atingir o “sucesso” é mérito individual e não oportunidade, como é decantado em prosa e verso pelos “caridosos” das chamadas “políticas de acesso”.
Inclusão é pertencimento. E pertencimento só há entre os iguais! Esta chaga só vai acabar quando educação deixar de ser direito e passar a ser obrigação compartilhada entre Estado e cidadãos. Falar que educação é obrigação do Estado e direto do cidadão é discriminar duas vezes quem tem menos recurso. O Estado oferece a escola, mas não proporciona o conhecimento. Diploma, mas não forma.
Como veem, temos uma longa jornada para chegarmos a condição de igualdade, fraternidade e justiça, para só a posteriori falarmos em libertação.
*JOÃO EDISOM DE SOUZA é Articulista, Professor de Ciências Política, Consultor Político, Gestor de Comunicação, Imagem e Crise, Comentarista político da rádio Jovem Pan, Jornal da Manhã.