O técnico Abel Ferreira revelou neste domingo, após o empate por 0 a 0 do Palmeiras com a Inter de Limeira, que o clube tem uma proposta para negociar o atacante Rafael Navarro. Reforço do Verdão para 2022, o atleta ainda não embalou com a camisa palmeirense – ele foi titular neste domingo. Em entrevista coletiva no estádio Major Levy Sobrinho, em Limeira, o treinador pediu paciência aos torcedores.
– Eu tenho paciência, como tivemos com Zé Rafael, Luan e muitos outros, que às vezes temos a tendência de criticar. É um jogador de qualidade e em quem confio, e estamos falando diretamente do Navarro. Tenham paciência, futebol não se faz em dois dias. Acreditem nele, tem muito potencial, para que vocês saibam temos uma proposta para vendê-lo se quisermos. É sinal de que tem qualidade. A camisa de centroavante do Palmeiras pesa muito, mas vamos torná-la mais leve, vamos ajudá-lo, como a todos os jogadores que estão aqui.
Perto da decisão da Recopa Sul-Americana, Abel Ferreira decidiu escalar o Palmeiras neste domingo com apenas um titular desde o início: Zé Rafael. O português falou sobre a gestão de energia do elenco e sobre o calendário brasileiro.
– Não há outra forma de ser competitivo sem rodar a equipe. Foi o que aprendi no futebol brasileiro. Do Paulista, acho que somos a única equipe que está sempre a jogar de dois em dois dias, ou três em três dias. Parabéns aos meus jogadores, sabemos que podemos fazer melhor, mas as condições hoje estavam muito difíceis.
– Tivemos jogo há três dias, e não há outra forma. O futebol brasileiro tem a particularidade de ter muitos jogos seguidos. Já tivemos lesões físicas do Scarpa e do Luan, fruto desta intensidade. A equipe que quer jogar no limite com esta densidade vai ter lesões, é normal. Iniciamos quase que desde o primeiro dia fazendo a gestão de energia para jogar na máxima força. Olhamos para os que estavam disponíveis, hoje decidimos o Deyverson como um centroavante mais fixo e o Navarro um pouquinho fora da posição natural dele, mas para dar minutos e experiência, porque acreditamos nele – declarou o português.
Confira outros trechos da entrevista coletiva de Abel Ferreira:
Poucas chances de gol
– O calor, jogando às quatro da tarde, com 35º, é duro. Jogar com o gramado de um palmo de altura é duro, deixa o jogo lento, requer um esforço extra, a bola precisa ser jogada mais rápida, o pé quase enterra embaixo da grama. Com mais calma, mais fluidez, com o calor, o campo, não temos calma para tomar as melhores decisões. Não foi um jogo de grandes oportunidades, o adversário teve uma e nós tivemos duas. Temos 27 atletas e até aqui apenas um não foi usado, o Vinicius, todos os outros jogaram mais de um jogo. O caminho é esse, este é nosso elenco, acreditamos nele, e sei o esforço que fizeram nestas condições. Queríamos muito ganhar, e hoje não foi possível.
Zé Rafael
– Ele é o nosso robocop. Jogador que todo treinador gosta, vai entrar tudo que tem. Tivemos paciência para o Zé crescer. É um jogador de 25, 26 anos, e temos de ter a mesma paciência com quem está chegando agora. O Atuesta, o Navarro. A mesma paciência que tivemos com o Zé, e ele foi capaz de suportar as críticas e acreditar no que o treinador lhe dizia. O que eu espero dos nossos torcedores é apoiar os nossos jogadores, o nosso elenco. Eu, por norma, costumo sempre apoiar meus jogadores. Pessoalmente, posso falar do que não gostei, mas são nossos jogadores. Da nossa parte, precisam de apoio, porque são os nossos. Eu digo isso ao nosso torcedor. Para mim, são os melhores, é com eles que eu conto e o Zé é prova disso. Prova da resiliência, do trabalho, contra elogios e críticas sabe o que fazer. Hoje é um exemplo para os outros, tem uma influência positiva nos mais jovens. Só jogando e participando que podemos evoluir, seja o Giovani, o Bicalho, o Renan. Todos juntos estamos aqui para ajudar a crescer como jogadores e homens.
Giovani
– Ele já apareceu, foi campeão da Libertadores conosco. Portanto, eu já disse várias vezes, tudo no tempo de Deus. Um jogador em quem acreditamos, de muito potencial. Agora, quando vierem as oportunidades, é aproveitar, estar preparado para jogar. Quando tiver de jogar no sub-20, vai jogar. Ele faz parte do nosso elenco, mas não é de agora, como o Vanderlan, vocês já conhecem, não é nada de novo. Hoje estão neste patamar pelo trabalho na formação e no profissional. O tempo de chegada não é igual para todos, uns têm maturidade competitiva mais cedo. O importante é que o clube acredita em todos eles.
Carência no meio?
– Não, nós já há muito tempo dissemos o que precisávamos. Hoje foi muito calor, gramado muito alto e a equipe em um jogo lento. É difícil colocar velocidade com o gramado alto. Hoje em termos ofensivos tivemos duas ou três oportunidades. Fica o positivo de quando não se consegue ganhar não se perde. Levamos um ponto, queríamos mais, mas infelizmente a equipe não conseguiu produzir. Ficam os aspectos defensivos, concedemos muito pouco ao nosso adversário. Fica por isso. Vamos continuar trabalhando, melhorando o processo. Até pela idade que eles têm, são jogadores de 18 a 23, 24 anos. É uma equipe que eu já disse há um tempo atrás, uma equipe com presente e futuro.
Reforços para quarta-feira?
– Vamos ver, por norma não costumo colocar jogadores que voltam de lesão depois de muito tempo como titular. Temos 27 jogadores e acreditamos neles. Como foi no último jogo sem os dois zagueiros que jogam mais, o Luan e Gómez. Olhamos para os que estavam em melhor forma, o Kuscevic e Murilo, jogaram sem problema nenhum. Se tiver de jogar o Renan, entraria também, já atuou em jogos determinantes. Eles sabem que acreditamos neles, vamos ver quem está pronto para quarta-feira. Assim que fazemos, analisar o pós-jogo, fazer as análises em 24 horas e escolher quem estará preparado para fazer a gestão de energia e jogar na máxima força.
Sobre mais um português no Brasil:
– É mais um treinador, os treinadores portugueses são qualificados, mas isto é a globalização do futebol. Temos brasileiros com muita competência, já os enfrentei, tem um selecionador nacional, o Tite, que é muito bom e mostra seu trabalho com números. O Vítor eu conheço, aprendi a admirar pelo seu trabalho no Porto, depois seguiu sua carreira além de fronteiras. Mas vai para um rival, esta pergunta tem de falar ao presidente, mas conheço, é um bom treinador. Fruto da globalização. Em Portugal tem estrangeiros, na Inglaterra tem mais estrangeiros do que ingleses e é a nata do futebol, em jogadores e treinadores. Fico feliz pela globalização. A maior parte dos jogadores é brasileira e é importante, a qualidade está aqui. Os upgrades que temos de fazer, a vida é assim. Encaro de maneira natural. Em Portugal já tiveram mais de sete brasileiros, aqui no Brasil acho que somos em sete. Tem eu, Paulo Bento, Paulo Sousa, o Sá Pinto, o Vítor, o Jesualdo, enfim, o Jorge Jesus. Então sete na história, pelo número de clubes nem acho que seja muito. Fruto da globalização e é bom. Importar ou exportar, o futebol brasileiro é o segundo maior exportador de mercadoria entre aspas, os jogadores. É bom para o futebol brasileiro, para a globalização, para confrontar ideias, para os treinadores portugueses, brasileiros, argentinos e na minha opinião é bom para o futebol brasileiro.
Oito finais pelo Palmeiras
– São muitas finais seguidas. Se me perguntassem se esperava jogar oito finais em um ano só, diria que não. Nunca pensei nisso, mas trabalho para isso, sei o quanto custa chegar às finais, o quanto custa ganhá-las e quanto custa perdê-las. Tenho uma máxima na vida: tudo vem para nos ensinar. Seja positivo ou negativo. Neste momento, vivemos uma crise de valores sociais, onde vemos por exemplo a guerra na Rússia, a violência no futebol brasileiro. Não posso ter este cargo e não fazer a função dele. Quem é responsável tem que dar a cara e assumir para a sociedade. Me preocupa muito o que passa na Europa e o que está acontecendo no futebol brasileiro. As entidades competentes, seja quem organiza a competição, sistema jurídico, sistema político, o que for, precisa dar um passo em frente e mostrar que quem infringir as leis precisa de uma punição. Eu vejo o futebol como um espetáculo, como entretenimento, onde podemos ir com o rival ao lado, se eu ganho zoo com ele, se ele ganhar zoa comigo, mas com respeito. E quando o limite do respeito é ultrapassado, vemos coisas que não são agradáveis para ninguém. Não podemos olhar para o lado, quem é o responsável precisa dar um passo em frente. É uma reflexão que todos temos de fazer. Hoje na nossa sociedade, no Brasil e na Europa, é paz. Um valor que está em falta, precisamos de tranquilidade. Quando eu morrer, nem o fato vou escolher, vamos todos para o mesmo sítio. E nem a roupa a gente tem direito a escolher. Que as pessoas pensem bem, porque me preocupa. A crise de valores na sociedade, e a mim pessoalmente no futebol. (GE)