Há pouco mais de um mês, um guia de turismo, divulgou nas redes sociais um vídeo que deixou população, ou ao menos uma parte dela, indignada. Nele, o profissional registra uma grande quantidade de lixo no leito do Rio Cuiabá. Naquele momento, a imagem causou uma justa comoção, principalmente por conta dos resíduos estarem, desta vez, acumulados em apenas um local.
Apesar de chamar a atenção, a cena, infelizmente, não é tão incomum para quem atua nas atividades de zeladoria da cidade. Desde que colocamos em prática do projeto da Balsa Ecológica, diariamente nossos servidores percorrem um grande trecho do rio recolhendo os mais variados tipos de materiais. Brinquedos, eletrodomésticos, embalagens, latas, animais mortos e uma infinidade de lixo que não chega ao local por conta própria.
Sim, meus amigos! O lixo não chega ao Rio Cuiabá espontaneamente. E, apesar da afirmação parecer uma novidade para alguns, essa é uma realidade a ser encarada. Antes disso, esse resíduo teve um proprietário, alguém que esteve com ele em mãos e tinha o dever de dar uma destinação correta. A propósito, essa é outra informação que precisa ser massificada. Cada pessoa também é responsável pelo lixo produzindo!
A Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, deixa isso bem claro. No parágrafo primeiro ela estabelece que: “Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos”. Na capitulo III, seção II, a normativa fala ainda sobre a responsabilidade compartilhada, abrangendo empresas, poder público e o próprio cidadão.
Ou seja, há pelo menos 10 anos, o cuidado com a destinação do lixo deixou de ser uma simples atividade de bom senso (ainda que esse fator não deva ser desconsiderado) e passou a vigorar como uma obrigação legal para cada um de nós. Assim sendo, voltamos novamente ao caso registrado no Rio Cuiabá. Na oportunidade, durante uma semana de trabalho recolhemos mais de 10 toneladas de lixo.
Duas semanas depois realizamos uma nova ação de limpeza no rio. Desta vez, contando com o apoio do grupo Teoria Verde e de indígenas da etnia Xavante, focamos na região do bairro Praeirinho. A operação resultou na retirada de mais 20 toneladas. Infelizmente, sem nenhuma surpresa, lá estavam novamente o sofá velho, o brinquedo faltando peças, o vaso sanitário quebrado e outros materiais. Mas, e de onde veio todo aquele entulho?
A resposta é absurdamente simples: todo aquele lixo veio das nossas mãos. Não somente aquele, como também os recolhidos no decorrer dos trabalhos no próprio leito do Rio Cuiabá, nas margens, nas praças e vias públicas, nos espaços utilizados para grandes eventos realizados na Capital. Para se ter uma ideia, somente na região central os varredores retiram uma media de cinco toneladas de lixo, por dia.
Além do serviço de varrição, a Prefeitura de Cuiabá também tem buscado evoluir em outras atividades de zeladoria. Nos últimos anos, diminuímos consideravelmente a quantidade de bolsões de lixo, instalamos lixeiras subterrâneas, renovamos a frota de veículos da coleta de resíduos domiciliar, firmamos parcerias com cooperativas e a iniciativa privada que nos ajudam no avanço da coleta seletiva.
A grande questão é que, mesmo com toda essa evolução, ainda é humanamente impossível que a atuação do poder público consiga cobrir 100% do território da cidade durante as 24 horas de um dia. É nesse momento que a participação popular no cuidado com a cidade e preservação do meio ambiente se mostra importante. Costumo dizer que as ações do Município somente terão resultados efetivos a partir do momento que o cidadão se reconhecer como parte delas.
É necessário que individualmente, cada um dos aproximadamente 700 mil habitantes da nossa querida Cidade Verde assuma sua responsabilidade. Caso contrário, continuaremos “enxugando gelo”, como diz a expressão popular.
*JOSÉ ROBERTO STOPA é graduado em Engenharia Florestal, servidor público efetivo e o atual secretário de Serviços Urbanos de Cuiabá.