A atitude do Presidente Bolsonaro de desconsiderar, ou, mais que isso, opor-se às instruções sanitárias do Ministro da Saúde intriga os observadores.  Intrigar me parece um verbo meio brando para classificar a atitude do Capitão, mais apropriado seria talvez horrorizar.

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Há quem diga que manter o ministro que orienta o isolamento social, totalmente em desacordo com ele (Presidente) é um caso pensado. Com o pé em duas canoas, isto é, preservando o Mandetta que segue à risca as orientações da Organização Mundial da Saúde quando ele próprio discorda delas, preserva a possibilidade de uma mudança no discurso caso fique claro que a OMS está certa quanto ao confinamento.

Se estivesse tão seguro da desnecessidade do isolamento não teria o menor problema em dispensar o ministro e colocar no seu lugar outro que lesse em sua cartilha, isto é, mantivesse confinados somente as pessoas que integram grupos de risco, principalmente os mais velhos.

Acontece que ele não está seguro dessa atitude e quer tirar a sardinha com a mão do gato, ou seja, forçar o Ministro da Saúde a aliviar o isolamento. Se der certo ele colhe os frutos como ideia sua, se der errado tem a quem culpar. Nesse caso demite o ministro, coloca outro no lugar e o jogo segue.

Parece-me que esta questão do isolamento social, quarentena ou confinamento está sendo mal conduzida pelo governo central. Este poderia muito bem criar fórmulas que pudessem ser aplicadas a cada estado porque as realidades brasileiras são muito diferentes.

Bastaria, eu chuto, criar uma matriz para orientar os governadores e prefeitos mostrando o número de leitos hospitalares por habitante, a disponibilidade de unidades de UTI, que confrontados com as estatísticas diárias de contaminação sugerissem medidas de controle.  De acordo com o aumento dos infectados comparados com a possibilidade de socorro médico os dirigentes teriam uma baliza para decretar medidas de controle conforme a severidade de cada lugar.

Hoje, por exemplo, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Fortaleza justificariam a paralização do transporte urbano e o fechamento do comércio. Entretanto Cuiabá, entre outras milhares, com poucos contaminados proporcionalmente não exige medida tão drástica.

Mas para tanto falta liderança. Nosso líder – que alguns têm por mito – perdeu o respeito dos governadores, o apoio da imprensa e pouco a pouco perde também a confiança mesmo dos eleitores que votaram nele desde o primeiro turno, porque os que os escolheram como opção ao PT no segundo turno já se decepcionaram há muito tempo.

Dia a dia vai se transformando em mandatário folclórico que briga com todo mundo, fala o que quer, mas cuja palavra cada vez vale menos. Na terça, em discurso à nação, sinalizou entendimento com os governadores; na quarta reproduziu um tuite de um seguidor que culpava os mesmos governadores pelo desabastecimento – que nem havia – de alimentos em Minas, reascendendo a animosidade.

A meu ver o Presidente fica mais vulnerável a cada dia e seria uma lástima o País ter de enfrentar outro processo de impeachment. Por enquanto ele tem apoio popular o que dificulta alguma aventura dos que querem ocupar seu lugar.

*RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Mato Grosso.

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Renato de Paiva Pereira: “há quem diga que manter o ministro que orienta o isolamento social, totalmente em desacordo com ele (Presidente) é um caso pensado”