O mundo conheceu mudanças significativas com a COVID-19. Maria, personagem fictícia, sentiu na pele as consequências ‘extra’ doença. Com o filho de 14 anos diabético, precisou se manter em absoluto isolamento.

 

A mulher sentiu que precisava deixar o vírus bem longe do seu lar. Casada há mais de 15 anos, tinha o rebento como o seu maior amor. Esperou um tempo para que pudesse exercer a maternidade, até que se firmasse através de concurso público. O estudo e o trabalho, em busca de independência, havia atrasado um pouco o sonho da maternidade. Tinha em José, seu filho, um troféu. Um prêmio que a fazia ter esperança de dias melhores. O filho, por sua vez, extremamente carinhoso, retribuía com esmero todo o amor recebido da mãe.

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O marido de Maria gostava das noitadas que desfrutava com amigos. Aliás, até por essas ‘noitadas’, ela acabara fortalecendo os laços fraternos com o filho, pois ficavam mais tempo juntos. Paulo não queria saber, nada o podia prender: os amigos estavam no ‘top’ da sua lista de convivência. As sextas eram ‘sagradas’, saiam para as rodadas de cerveja habituais.

A chegada do coronavírus mexeu com a vida dessa família. O casal com o filho diabético precisava fazer com que o isolamento social fosse realidade. Como permitir a ‘entrada’ em casa de uma doença que vinha atingindo pessoas onde as comorbidades pudesse as levar a óbito? Por dois meses o casal conseguiu se manter em casa, pensando, inclusive, na saúde do filho. Passado um tempo, a paciência de Paulo já não era a mesma. Como os amigos já haviam voltado a se encontrar cobravam dele a frequência nos encontros. A situação familiar havia modificado. Paulo insistia que deveria ir ao encontro dos amigos, afinal de contas tantos anos de amizade…

 

Claro que Maria, frente a essa situação, entre a ‘cruz e a espada’, não permitia ao companheiro os encontros com amigos. Tudo era perigoso! Como expor o maior amor da vida dela a uma doença que o podia levar a óbito? Ela jamais permitiria, porquanto, sequer com a sua mãe estaria convivendo, no afã de blindar o filho.

 

As brigas em casa passaram a ser frequentes. O que antes do período pandêmico não se via, agora era normal. A mulher nunca se importou com as saídas do marido com os amigos. O marido agora dizia que ela a estava perseguindo e o prejudicando de viver feliz. Desentendiam-se por vários motivos, tendo o ‘pano de fundo’ a proteção que a mãe queria trazer ao filho, o isolando pela diabetes, grupo de risco da COVID-19.

 

A solução encontrada pelo casal para que o filho pudesse continuar em ‘quarentena’, evitando a infecção pela COVID-19, foi a cisão. O coronavírus reforçou alguns valores primordiais para viver em família. Sem dúvida: a solidariedade e a fraternidade foi um ‘treino’ pandêmico. Vidas foram embora, principalmente no Brasil, um dos países mais afetados do mundo, justamente pela falta de compreensão e negação ao invisível.

 

Maria foi um exemplo dos muitos noticiados pela mídia. Mulheres a tentar viver o isolamento social em paz, junto àqueles e àquelas pelas quais devem se responsabilizar. Se eles vivem a pandemia, elas viveram e vivem as múltiplas pandemias que as aprisionam…

 

*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS  é defensora pública em Mato Grosso.

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