Em 1904, no Rio de Janeiro, o povo rebelou-se contra a vacinação obrigatória proposta pelo médico sanitarista Osvaldo Cruz. Naquele tempo, o senso comum acreditava que a vacina era um “veneno” para matar o povo. Houve uma batalha campal, com quebra-quebra, barricadas etc. Resumindo: 945 pessoas presas na Ilha das cobras, 30 mortos. 165 feridos e 461 deportados para o Acre. Atualmente, vê-se o contrário: o presidente trata a pandemia, que, só no Brasil, já ceifou (no momento em que escrevo essa missiva) 175.270 vidas, como uma “gripezinha”.
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Enquanto a maioria dos países se organiza para promover a vacinação em massa; o “Capetão” insiste no discurso da negação, sempre relativizando e, até, negando o grave problema que assola a contemporaneidade. Em 1904, o prefeito do Rio, Pereira Passos, queria imunizar os cariocas; em 2020, o presidente Bolsonaro insiste em tratar os que se preocupam com a Covid-19 como “ um país de maricas”.
Que o ocupante do Palácio Alvorada é terraplanista, lacaio do Trump, miliciano, racista, misógino e homofóbico não restam dúvidas; todavia, a postura anticiência, negando as consequências letais da pandemia vai acarretar um número astronômico de vítimas. Enquanto três ex-presidentes dos Estados Unidos são voluntários para tomar a vacina; o “líder” do Brasil tem atitudes e falas minimizando ou negando essa terrível realidade. Essas atitudes insanas do “Capetão” terminam por influenciar seus séquitos, essa turba irracional é responsável pela disseminação da doença. Pode não parecer; porém, se o governo não tomar atitude embasada na ciência e no planejamento da vacinação da população, teremos, logo no início de 2021, um aumento drástico no número de mortes, além de arruinarmos definitivamente a economia. É básico: a vacinação é a única maneira de garantirmos o crescimento econômico.
O Brasil e o mundo passam por quatro grandes crises: 1. A pandemia; 2. A economia; 3. O racismo; 4. O clima. A diferença é como o governo federal trata cada uma delas. Ao mesmo tempo que nações europeias pretendem imunizar a totalidade de seus habitantes; o Brasil quer ter certeza da segurança das vacinas (vide a chinesa Coronavac). O mantra do Ministério da Saúde só repete um bordão: “Só depois da aprovação da Anvisa”. A crise econômica, ainda invisível, se agravará com o fim o auxilio emergencial. Infelizmente, o “Capetão” não enxrega que a imunização do povo, oxigenará as atividades econômicas. A violência racial, tanto nos EUA quanto no Brasil é decorrente de manifestações de seus respectivos presidentes. Ambos insistem em posturas e falas neonazistas, contribuindo para o aumento dos crimes raciais. No mesmo momento em que o mundo se preocupa com o clima e o meio ambiente; o ministro Ricardo Salles, a mando de grupos econômicos, defenestra instituições protetoras de nossa biodiversidade, como o Ibama e altera a legislação vigente para beneficiar a exploração predatória de nossas florestas.
Creio que, com a proteção dos paulistas pela Coronavac, haverá uma nova Revolta da Vacina, agora para que estados e municípios comprem vacinas e imunizem suas populações. Diferentemente do início do século passado, o povo vai pressionar o “Capetão” para que a Anvisa libere as mais diferentes (e necessárias) vacinas. Entre o risco eventual de efeitos colaterais graves de uma vacina e a certeza de contaminação e letalidade do Coronavírus, escolheremos a primeira opção. Se tivermos que perecer, que seja por ação e não por omissão. Fica a dica para o governador Mauro Mendes e para o prefeito Emanuel Pinheiro.
*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Diretor Executivo da Funec.
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