Por Pedro Fraga

Em um momento ambíguo e de grandes mudanças no mercado da música, tanto no streaming quanto em nichos mercadológicos, o Brasil hoje se encontra em uma “bolha”. Com uma indústria musical extremamente fechada e competitiva, o fenômeno das compras digitais mudou definitivamente como consumimos, criando um fenômeno particular e à parte do globo.

O maior país da América Latina, que por diversos motivos, não consome música em espanhol, tornou-se até uma piada entre os brasileiros nas redes sociais por ter sido o único país do continente que não teve o álbum ganhador do Grammy “Un Verano Sin Ti”, do porto-riquenho Bad Bunny, no topo das paradas, por exemplo.

A grande questão que fica, é: Por que o Brasil tem tanta dificuldade em consumir música estrangeira? São diversas as respostas das pessoas, alguns dizem ser o monopólio do sertanejo pelo milionário financiamento do agronegócio (às vezes até mesmo seu envolvimento em esquemas de lavagem de dinheiro), outros dizem ser a dificuldade do brasileiro se reconhecer como latino, e alguns dizem até mesmo ser a diferença linguística.

O fato é: o Brasil não consome música estrangeira. Resumir os poucos momentos onde cantores hispanofonos adentraram os charts brasileiros à algum tipo de adesão ao nosso mercado é pretencioso e até mesmo fora da realidade.

Apesar de alguns acontecimentos astronômicos no território latino como “Rebeldes”, o Brasil só começou a de fato enxergar a língua espanhola como uma opção a se escutar na atualidade em meados de 2016, com o início das parcerias da cantora Anitta e o colombiano Maluma. As canções “Ginza (Remix)” e “Sim ou não”, marcaram o início de algo novo para o mercado brasileiro, a entrada de estrangeiros em nossos charts. Claro, Anitta não foi a primeira nem a única artista brasileira a colaborar com artistas estrangeiros, mas no sentido mercadológico e atual da coisa, a cantora tem sim um papel importante.

É inegável o papel principalmente de Ludmilla e Anitta para a pavimentação do solo pop no Brasil na era digital, mas com a sucinta saída do mercado brasileiro de Anitta, a mudança de estratégia de Ludmilla, o papel que Pabllo Vittar tem assumido não só no Brasil, mas também no globo, de recriar a forma como as Drag Queens se colocam no cenário musical, e a entrada de novos artistas brasileiros na jogada, como podemos definir a nova era do pop no Brasil?

Nos últimos anos vimos alguns novos nomes surgirem com grande movimentação nas redes e plataformas de streaming. Glória Groove, por exemplo, tem sua primeira grande notoriedade com “Bumbum de ouro” em 2018, até então conduzia sua carreira de forma sucinta até que, em 2022, atingiu seu grande pico com o álbum “Lady Leste”, emplacando grandes hits como “Vermelho” e “A queda”. Luísa Sonza surge com força realmente em 2020, com o lançamento de “Braba”, seu primeiro single a furar a bolha e ter sucesso no grande público. Iza, que era uma grande promessa do pop brasileiro, surge no final de 2017 com “Pesadão”, seu single mais famoso.

Mas e nessa virada do mundo de cabeça para baixo pós-pandemia, quem são as novas faces nos tão competitivos charts do Brasil? Para alguns, hoje a maior promessa desses novos rostos é Marina Sena. Ex-integrante da banda Rosa Neon, teve grande notoriedade em 2021, com “Por supuesto”, música de seu primeiro álbum “De Primeira”, recheada de críticas sobre sua voz e sonoridade, ultrapassou os massivos ataques e hoje, com o lançamento de seu segundo álbum “Vício Inerente”, conquistou um grande espaço, com músicas que não saem da “for you” da plataforma TikTok nem do fone de milhares de fãs. Hoje, seu álbum ultrapassou mais 50 milhões de streams.

Outro nome que tem surgido com força nas redes sociais e também nos charts, é “Vivi”. Inicialmente criadora de conteúdo principalmente para o TikTok, com o lançamento de “Playground”, conquistou bom destaque e tem começado em 2023 a tentar uma carreira musical. Recentemente, em colaboração com Rebecca e Pabllo Vittar, a música “aeiou” conquistou 1,3 milhões de visualizações no Youtube.

Por último, o cantor Jão também tem conquistado forte destaque na mídia, por mais que tenha lançado seu primeiro álbum em 2018 e, desde então, tenha lançado vários trabalhos, de 2022 para 2023 tem finalmente conquistado destaque significativo na indústria. Com suas letras que relembram fortemente composições de Taylor Swift e Lana Del Rey e melodias românticas e às vezes eletrizantes, tem trazido refresco ao cenário pop masculino do Brasil.

Assim como citado antes, as plataformas digitais de música no Brasil são competitivas, desafiantes e por vezes cruéis. Mas se mantêm em destaque somente aqueles que têm verdade e fidelidade com seu público. Com diversos avanços da música brasileira, principalmente o funk, ao contexto global, é nítido o impacto de como os artistas brasileiros têm verdade em seus propósitos artísticos. Ludmilla, com seu hit latino em colaboração com a argentina Emilia em “No_se_ve.mp3” (136 Milhões), e Anitta com toda uma era de projeção internacional em seus álbuns, “Versions of me” (2.3 Bilhões) e o ainda incompleto “Funk Generation” (50 milhões), e premiações de trabalhos envolvendo a cultura popular brasileira, têm conquistado cada vez mais espaços no mercado global.

A nova era do pop pós-pandemia tem se definido como o momento onde finalmente essa bolha que separa o Brasil do restante do mundo está prestes a estourar, com grandes nomes da indústria demonstrando cada vez mais interesse em nossas batidas. É emocionante ver como temos quebrado cada vez mais barreiras, desde gradualmente levarmos nossos ritmos a todos os lugares, até carregar o título de ter a primeira artista latina solo a conquistar o #1 em todo o mundo.

Pedro Fraga é social mídia do Grupo Rede de Mídias, ator e artista multimídia

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabano News.