Conforme dados do Instituto de Estatística da UNESCO (UIS), cerca de 10 países são responsáveis por cerca 80% dos investimentos em pesquisa e inovação no mundo.
Os EUA lideram o ranking com um investimento de 476 bilhões de dólares em volumes absolutos, que somam investimentos privados e públicos, seguido pela China (371 bilhões), Japão (170 bilhões), Alemanha (110 bilhões), Coreia do Sul (73 bilhões), França (61 bilhões), Índia (48 bilhões), Reino Unido (44 bilhões), Brasil (42 bilhões) e Rússia (40 bilhões). Com certeza, com os crescentes cortes que vem ocorrendo no orçamento da pesquisa e inovação no Brasil, o número aqui retratado já não é mais real.
Quando se analisa a porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB), os números mudam um pouco, a Coreia do Sul é a que mais investe aplicando 4.3% do PIB, seguido por Israel 4.2%, Japão 3.4%, Finlândia 3.2%, Suíça 3.2%, Áustria 3.1%, Suécia 3.1%, Dinamarca 2.9%, Alemanha 2.9% e Estados Unidos 2.7%. Em todos esses países além do investimento estatal, existe uma forte participação também de empresas privadas no financiamento de pesquisa e inovação. Em todos esses locais, também existe um número expressivo de pesquisadores.
Em Israel, existem pouco mais de 8 mil pesquisadores para cada milhão de habitantes. Em países como Singapura e Coreia do Sul, esse número fica perto dos 7 mil pesquisadores por milhão de habitantes. Já no Brasil, em uma cidade com um milhão de habitantes teremos cerca de 1 mil pesquisadores, isso sem considerar o fato que existe uma concentração maior de centros de pesquisa nas regiões sudeste e sul do país.
De 1996 até 2013 os investimentos em pesquisa aumentaram consideravelmente na América do Norte e centro da Europa Ocidental saltando de 357 bilhões para 845 bilhões dólares. Na Ásia Oriental e Pacífico o salto foi ainda mais significativo saindo de 130 bilhões para 643 bilhões. As estimativas futuras apontam que em breve os investimentos nesta região irá superar o montante da América do Norte e Centro da Europa Ocidental. Essa luta está diretamente ligada aos entraves comerciais entre os países asiáticos, em especial a China com os Estados Unidos. Muitos países têm estabelecido esforços para aumentar o investimento público e privado em pesquisa e inovação, criando metas e políticas para fortalecer o desenvolvimento científico e tecnológico.
Alguns estudos no Brasil demonstram a importância do investimento em pesquisa e inovação. Um levantamento identificou que os investimentos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), aplicados em bolsas, projetos e infraestrutura nas áreas de agricultura produziram um retorno de R$ 27 para cada R$ 1 investido. É inegável que os avanços econômicos existentes no Brasil nas últimas décadas, só foi possível graças a pesquisas realizadas em universidades e institutos nacionais, mesmo com investimentos algumas vezes ínfimos.
Os investimentos públicos em pesquisa e inovação passam pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ambos os orçamentos minguaram nos últimos anos. Em valores corrigidos, o CNPq possuiu seu ápice de investimento em 2010 e de lá para cá teve seu orçamento dilacerado. Não possuindo hoje nem 25% do poder de investimento que possuía em 2010. A mesma coisa aconteceu com a CAPES, que de 2015 a 2017, perdeu dois bilhões de reais de orçamento, passando de R$ 7 bi para R$ 5 bi. Mas tudo que está ruim pode piorar, e a previsão orçamentária do Ministério da Educação (MEC) mostra uma redução de metade do orçamento da Capes para o próximo ano. Caindo de 4,25 bilhões em 2019 para 2,2 bilhões 2020.
Somente em 2019, o sistema de pós-graduação do Brasil perdeu 11.811 bolsas de mestrado e doutorado. A redução orçamentária proposta pelo governo aponta para um cenário ainda mais crítico no ano de 2020.
O Brasil está na linha contrária à dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento. Enquanto o mundo todo aumenta o investimento em ciência e tecnologia, aqui no Brasil, parece que o governo quer que voltemos a idade da pedra lascada. Sem pesquisa e inovação não existe desenvolvimento. Ou mudamos a rota ou pagaremos o preço por décadas.
*CAIUBI EMAUEL SOUZA KUHN é professor do Instituto de Engenharia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
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