O desejo é um elemento central na experiência humana, permeando as ações, pensamentos e emoções. Desde tempos imemoriais, filósofos e escritores têm explorado as profundezas do desejo, buscando entender suas origens, suas manifestações e suas implicações.
Platão foi um dos primeiros filósofos a abordar o desejo de maneira sistemática. Em seu diálogo “O Banquete”, apresenta o conceito de Eros, o desejo de alcançar a beleza e a verdade. Para ele, Eros não se limita ao desejo físico, mas se estende ao anseio pela sabedoria e pelo bem. O desejo platônico é uma força ascendente, que leva a alma a se elevar do mundano ao sublime, do corpóreo ao espiritual. Esse movimento ascendente do desejo reflete a busca humana pela completude e pela realização plena.
Leia Também:
– A Biografia de Dom Aquino Corrêa, em poesia
– Racionalismo e Existencialismo
– Ética na Inteligência Artificial
– Navegando nas Profundezas do Ser
– As Escolhas no Labirinto Existencial
– Os Pensadores da Civilização XIII
– A Existência e os Propósitos da Vida
– Os pensadores da civilização V
– Curupira, Pai do Mato, Caipora, cadê você?
– Liberdade como possibilidade
– Democracia e constitucionalismo
– Fígado saudável, alma que suporta…
– Os Santificados…
-Qualquer pensamento, qualquer existência
-Do pensamento, felicidade!
-Sou por estar
-Amar, de menos a mais
-Ouvir e calar
-Rir e chorar
-Somos e sermos…
-Violência circular
-Dever para com o povo
-A verdade que basta
Sigmund Freud, o pai da psicanálise, trouxe uma perspectiva diferente ao desejo. Ele o viu como uma força primordial, profundamente enraizada no inconsciente, moldando as ações e pensamentos de maneiras muitas vezes além da compreensão consciente. Em “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, Freud argumenta que o desejo sexual é uma das principais motivações do comportamento humano. Para ele, o desejo é tanto uma fonte de prazer quanto de conflito, pois os impulsos do id frequentemente entram em choque com as restrições do superego e da realidade externa.
Um dos principais representantes do existencialismo, Sartre oferece uma visão mais sombria do desejo. Em “O Ser e o Nada”, descreve o desejo como uma manifestação da falta fundamental que caracteriza a existência humana. Para ele, o desejo surge da condição de seres incompletos, que buscam, incessantemente, por preenchimento. No entanto, Sartre vê o desejo como condenado ao fracasso, pois a sua realização inevitavelmente gera novos desejos, perpetuando um ciclo interminável de insatisfação. “O desejo é falta tornada consciência de si”, afirma, sublinhando a intrínseca insaciabilidade do desejo humano.
No campo da literatura, Proust explora o desejo em sua obra monumental “Em Busca do Tempo Perdido”.Ele retrata o desejo como uma força que tanto inspira quanto atormenta. Seus personagens são movidos por desejos profundos que, ao serem realizados, muitas vezes revelam a futilidade e a transitoriedade do que antes parecia essencial. Proust mostra que o desejo é uma força que pode levar a momentos de intensa beleza e percepção, mas também a abismos de decepção e melancolia.
Em “O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir analisa o desejo sob a perspectiva de gênero, destacando como as estruturas patriarcais moldam e limitam os desejos das mulheres. Argumenta que o desejo feminino foi historicamente reprimido e distorcido, subjugado aos interesses e expectativas masculinas, e defende a necessidade de uma reavaliação e libertação, promovendo a igualdade genuína entre os gêneros.
Por outro lado, o poeta e ensaísta Charles Baudelaire oferece uma visão estética do desejo. Em “As Flores do Mal”, Baudelaire explora o desejo em sua forma mais hedonista e decadente, celebrando o prazer sensorial enquanto reconhece sua natureza efêmera e ilusória. Para ele, o desejo é uma chama que ilumina a escuridão da existência, ainda que por um momento, antes de se extinguir na inevitável realidade do tempo.
Em seu primeiro livro, “Mentira Romântica e Verdade Romanesca”, o filósofo contemporâneo René Girard argumenta que o desejo é essencialmente social e nasce da observação e imitação dos desejos dos outros. Essa visão desafia a ideia de desejos autênticos e individuais, apresentando-os como construções sociais e culturais.
Juntas, essas perspectivas revelam a profundidade e a universalidade do desejo, refletindo sua presença incessante e seu papel central na vida de todos: desejar o que não se tem e, tendo, novos desejos para desejar.
É por aí…
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto) é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá. E é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e YouTube).
E-MAIL: antunesdebarros@hotmail.com ou podbedelhar@gmail.com
— — — —
CONTATO: bedelho.filosofico@gmail.com
— — — —
FACEBOOK: www.facebook.com/bedelho.filosofico