Na evolução de toda a vida existente no planeta, um tipo de mamífero se diferenciou muito dos demais: são os ruminantes, que tiveram essa evolução diferenciada por comerem quase que exclusivamente capim.

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Eles se desenvolveram somente nos biomas onde existem pradarias naturais, não interessando se o clima é ártico ou tropical. Tinham apenas em comum o consumo de gramíneas.

Assim, evoluíram os alces e renas nos climas frios, os búfalos nas pradarias norte americanas e antílopes e gnus nas savanas africanas. No Brasil temos os veados e seus parentes espalhados por todo país, nos diversos biomas que contém gramíneas.

Os bovinos, caprinos e ovinos, pelas suas qualidades alimentícias e de abrigo, foram os ruminantes escolhidos pelos humanos para serem domesticados.

Os ruminantes se diferenciam biologicamente dos demais mamíferos por possuírem um estômago adicional, chamado de rúmen, que nada mais é que uma câmara de fermentação que transforma alimentos grosseiros dos capins em alimentos assimiláveis.

Estes animais comedores de capim evoluíram por milhares de anos juntamente com uma série de bactérias que passaram a se adaptar e povoar o seu rúmen.

Nenhum outro mamífero monogástrico sobreviveria comendo apenas capim.

Deste modo, estas bactérias (e alguns outros protozoários e fungos) que gostam de sombra, água fresca e capim passaram a morar na câmara de fermentação destes mamíferos.

Elas inauguraram uma das parcerias de maior sucesso da natureza.

Imagino que da ideia inicial até o fato, não tenha sido fácil. Somente após centenas de tentativas e milhares de anos a coisa deu certo.

Surgiram assim os ruminantes que se desenvolveram em simbiose com estes micro organismos, comendo capim fibroso e algumas vezes seco e que nós humanos e outros mamíferos monogástricos, não conseguimos digerir.

Estas bactérias excretam e disponibilizam após sua morte os preciosos metabólicos (energia e proteína) para o seu hospedeiro. Elas promovem uma sociedade biológica organizada, harmônica e cooperativa.

A grande fonte de proteínas de um ruminante são os cadáveres das bactérias, que possuem um ciclo de nascimento e morte quase diário.

Mas, para ter carteirinha de morador oficial do rúmen não é fácil. Primeiro você precisa viver sem ar (anaeróbios), ter uma incrível capacidade de reprodução, pelo menos um milhão de indivíduos por grama de conteúdo ruminal e, claro, produzir alguma coisa de útil para o hospedeiro. Ah, seu corpo precisa também ser feito de pelo menos 50% de proteína.

Se for aprovado nestas rígidas condições, a bactéria receberá um nome pomposo como Ruminococcus flavefaciens, que se especializaram em digerir a celulose (a parte grosseira do capim), Bacteroides amylophilus, que digerem amidos ou Selemonomas ruminantium que digerem pectina que é um polissacarídeo presente na parede celular das gramíneas.

Este processo é sem dúvida, uma das maiores evoluções do planeta. Um caminho evolutivo natural da vida para a produção de carne, leite e abrigo, que se inserem na cadeia alimentar dos mamíferos carnívoros, incluída aí os humanos.

Isto já vem ocorrendo de uma forma totalmente natural há milhares de anos.

 *ARNO SCHNEIDER é engenheiro agrônomo e pecuarista em Mato  Grosso

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