O IBGE publicou na semana passada o estudo Contas Regionais 2018, uma radiografia detalhadado comportamento daatividade econômica dos estados brasileiros em 2018. O trabalho faz também levantamento panorâmico da evolução doPIB dos estados no período de 2002 a 2018. O PIB de Mato Grosso teve crescimento excepcional de 4,3% em 2018, ficando atrás apenas do Amazonas (5,1%) e Roraima (4,8%). No mesmo ano, o PIB do Brasil cresceu apenas 1,8%. Em valores correntes, o PIB de Mato Grosso atingiu valor de R$ 137,44 bilhões, representando 2% do PIB nacional. Anteriormente a participação do estado era de 1,72%.

Leia Também:
– Biden e Mato Grosso

– Mercado de capitais e crescimento

– A recuperação econômica

– Mato Grosso cresce na crise

– Déjà-vu econômico

– A montanha que pariu o rato
– Saneamento e saúde

– Educação financeira nas empresas

-Finanças públicas na pandemia

-Grandes tendências!

-A economia de MT pós crise!

-A águia ferida 

-Ajuda financeira a estados e municípios

-Cavalo de pau econômico

-O dragão espirrou

-Perspectivas econômicas para 2020

-Vitória da virada

-O tigre pantaneiro acordou

-Em marcha lenta

-Sol e vento tributados

-Gestão fiscal dos municípios

-Mais municípios, menos Brasília

-Decisão tardia

-O day after da nova previdência

-Rastreabilidade ambiental

-Juros surreais

-MT e o acordo Mercosul-União Européia

-Mais Mato Grosso, menos Brasília

-Danos comerciais das queimadas

O motor do crescimento da economia mato-grossense foi a agropecuária e os chamados serviços correlatos como transportes, apoio à produção, pós-colheita e cadeia de suprimentos. Os principais produtos são a soja, milho, algodão herbáceo e pecuária (bovinos, frangos, suínos e produção de ovos). O setor de serviços responde por 63,3% do PIB estadual, a agropecuária por 20,9% e a indústria por 15,8%.

Na análise temporal de 2002 a 2018, Mato Grosso é destaque nacional, apresentando crescimento de 5,1% no período. No mesmo hiato de tempo, a economia brasileira cresceu à média anual de 2,4%.

Nas duas últimas décadas o capital agrícola migrou das regiões Sul e Sudeste para o Centro Oeste, região que se tornou o maior centro de produção de grãos e fibras do país. As boas condições edafoclimáticas, geografia favorável, boa oferta de crédito e pesquisa científica contribuíram para a atração de capitais para os estados de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins, que passaram a ocupar posições de campeões nacionais da produção agrícola. Posições que antes eram ocupadas pelos estados do Paraná e Rio Grande do Sul. Outra nova área de expansão da fronteira agrícola, que apresenta crescimento acelerado é a conhecida pelo acrônimo MATOPIBA, formada pelas iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Quando fazemos um recorte na análise do PIB somado dessa região, tem crescimento muito idêntico ao de Mato Grosso.

De 2018 em diante as condições de mercadopara produtos agrícolas melhoraram. A demanda mundial está aquecida, Mato Grosso aumentou a produção agropecuária e expandiu suas exportações, continuando sua trajetória de crescimento elevado da atividade econômica.

Doisfatores surgem da análise da série histórica. O primeiro são as notórias deficiências da infraestrutura logística para suportar o aumento da produção e das exportações. O segundo é o ritmo da industrialização em nosso estado, que não apresenta a mesma dinâmica do agro. A acelerada expansão econômica exige mais rodovias, hidrovias, ferrovias, aeroportos, comunicação em banda larga. Vagarosamente as administrações federal e estadual entregam à iniciativa privada, por meio de concessões, a construção e operação dessa infraestrutura que é de fundamental importância para a continuidade do rítmo de crescimento verificado no período analisado. Praticamente não utilizamos hidrovias para a comercialização da produção, a principal rodovia federal, a BR 163, teve apenas um trecho privatizado e a empresa concessionária não tem capital para executar os investimentos contratados. As ferrovias, exceto o trecho que liga Rondonópolis ao porto de Santos, são apenas projetos que ainda não saíram do papel.

A industrialização, tão necessária para o estado evoluir e se tornar uma economia desenvolvida, apresenta boa performance no setor de alimentos, de enérgica elétrica e, nos últimos anos, do etanol a partir do milho. Mato Grosso é um dos maiores compradores de máquinas e equipamentos agrícolas, colheitadeiras, tratores, caminhões, utilitários.  Mas as fábricas desses produtos estão no Sul, Sudeste e no vizinho estado de Goiás que implantou um bom parque fabril desses produtos.

A concentração de riquezas, desigualdades de renda e descompasso no desenvolvimento regional também são fatores que circundam o forte crescimento da economia estadual. Mas são assuntos que exigem mais reflexão e que pretendo abordar em outro artigo.

O resumo do samba enredo é:Mato Grosso, o Tigre Pantaneiro, continua seu ritmo acelerado de crescimento econômico. Mesmo sabendo que precisa, em algum momento, prestar atenção aos efeitos colaterais sobre a renda, sustentabilidade ambiental e regiões mais vulneráveis economicamente.

 *VIVALDO LOPES DIAS   é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  

E-MAIL:                        vivaldo@uol.com.br

CONTATO:                  www.facebook.com/vivaldolopes