Os órgãos de saúde informam que aqui em Cuiabá, dos quatro mil agendados no último fim de semana para completar a dose da vacina anticovid, somente mil compareceram aos postos de atendimento. Não é de se estranhar, porque no País inteiro o índice de ausência é muito parecido com este.
Segundo uma das coordenadoras do programa de vacinação, a principal razão apresentada para a recusa é a origem da vacina. A Coronavac – a mais usada – tem índice de rejeição muito maior que as outras.
Não se pode esquecer que, das vacinas que o Brasil oferece, a que apresenta menor índice de imunização inicial é realmente a do Butantan, como já foi divulgado pela Anvisa desde a sua aprovação. Este fato todos conhecem, porque as mídias sociais irresponsavelmente engajadas, promoveram uma intensa campanha contra a Coronavac.
As pessoas que se informam somente através de Whatsapp, Instagram, Facebook e Twitter não sabem que esta alardeada ineficiência é somente uma parte da verdade – a menos importante.
É fato que para prevenir a Covid, a Coronavac é menos efetiva que a AstraZeneca e a Pfizer, mas quando falamos em impedir o agravamento da doença e evitar mortes – esta sim a parte que interessa– ela atinge 95% de sucesso.
Um estudo feito recentemente na cidade de Serrana, no Estado de São Paulo, foi tão claro, que deveria ser suficiente para convencer todos os inimigos da vacina chinesa.
Serrana é uma cidade de cerca de 45.000 habitantes onde foi conduzida a pesquisa liderada pelo Instituto Butantan e pela Faculdade de Medicina da USP. Dois nomes absolutamente insuspeitos: o primeiro existe há mais de 100 anos e é o maior fornecedor de vacinas do Brasil e a octogenária USP dispensa adjetivos.
Eis os resultados da pesquisa: a vacina usada foi unicamente a Coronavac, aplicada em 96% da população acima de 18 anos, que representam 60% dos serranenses. A leitura das estatísticas dos óbitos pós vacina, mostrou que houve uma redução de 95% do número de mortes no município, ou seja, se morriam 100 pessoas por mês de Covid, 95 deles passaram a vencer a doença, graças ao imunizante.
Este não é um estudo teórico ou por amostragem, é a realidade constatada em uma cidade mediana, que não se isolou das vizinhas durante o estudo. Na verdade, cerca de 10.000 pessoas (quase metade dos trabalhadores) continuam indo diariamente para Ribeirão Preto, cidade vizinha onde muitos trabalham, mantendo contato com o vírus.
O resultado de Serrana mostra definitivamente que podemos vencer a pandemia. Afinal, sabendo que 80% das vacinas disponíveis no Brasil são Coronavac e conhecendo sua eficácia, recorrentemente mostrada, por que alguém recusaria sua aplicação?
Entretanto, alguns por teimosia, outros por ideologia continuarão a difamar a vacina do Dória. Dirão que a China patrocinou esta pesquisa de Serrana, comprando os técnicos e médicos do Butantan e da USP, como já teriam feito com a Rede Globo, Estadão e Folha de São Paulo.
Mas, tenhamos paciência, com o tempo o obscurantismo cede e a maioria se convencerá de que é mau negócio ignorar a ciência. Restarão, claro, alguns recalcitrantes defensores da máxima de que não existem fatos que possam vencer os argumentos.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.