A carta do presidente Bolsonaro provocou um rebuliço nacional. Ninguém esperava que, depois das manifestações do sete de setembro, o presidente fosse dar um passo atrás naquilo que pregou naquele dia. Pregação de confronto com instituições e até pessoas.

A maior parte da nação gostou da intenção da busca de diálogo e distensão politica. O grande negócio também porque sabe que fricção politica atrapalha investimentos e novos ganhos.

Parte dos bolsonaristas gostou da atitude do presidente, outros se sentiram traídos. E outros mais acreditam que seja uma jogada tática do presidente. O famoso dá um passo atrás para dar dois à frente, aliás, criado por alguém do mundo socialista.

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Mas a crença maior é que o presidente estaria pensando na reeleição. Com crise política constante atingindo a economia, com inflação em alta e desemprego, o melhor era baixar a bola e tentar melhorar o ambiente de negócio para ver se tem crescimento adequado no ano que vem. Se não tiver, a reeleição se complica.

Mas, antes desse momento novo com a carta, o que havia de gente falando em golpe não era brincadeira. Que Bolsonaro, com suporte nas Forças Armadas, daria um golpe. Nunca acreditei nisso.

Não há apoio do PIB nacional. Antes, como já comentado neste espaço, no caso João Goulart, houve praticamente unanimidade do grande negócio em apoio à derrubada daquele governo. Parte da mídia e da Igreja Católica também deu esse apoio com medo do tal do comunismo, agora não havia nada disso.

Hoje, é verdade, havia apoio de parte dos evangélicos a essa ideia maluca de golpe. Lá atrás a Igreja Evangélica não tinha a força politica que tem agora.

Mas o maior suporte veio dos EUA para o golpe de 1964. Documentos norte-americanos provam isso. Desde quando descobriram mísseis em Cuba, em 1962, aquele país resolveu endurecer mais ainda o combate à presença da União Soviética na área. Começou a caça às bruxas na América Latina.

No Brasil, os norte-americanos, através de prepostos, criaram pontos de apoio como o Ibade ou Instituto Brasileiro de Ação Democrática e o Ipes ou Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais e enfiou muito dinheiro ali e na mídia para criar um clima de fim de mundo em cima do tal comunismo que estava chegando. Acreditar que Goulart era comunista parece até piada, mas pegou.

Alegavam que a ilha de Cuba ir para a esquerda era uma coisa. O Brasil faz fronteira com a maior parte da América do Sul e por aí poderia espalhar ideias estranhas. E derrubaram o governo, os militares foram instrumentos de agentes e ideias de fora.

Que clima desses existe hoje no Brasil? Quantas pessoas, instituições ou partidos dariam apoio internamente ao golpe? E do exterior, que país ajudaria nisso?

Não existe clima para golpismo e a carta do Bolsonaro ajuda a estancar essa ideia em algumas cabeças desavisadas. Ou esse pessoal vai criar uma nova invenção para manter a chama do golpismo?

*ALFREDO DA MOTA MENEZES é  professor universitário aposentado e analista político  em Mato Grosso.

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O presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto.